Como foi seu dia?
* Por Mariella Augusta
Gostaria de fazer esta pergunta pessoalmente para cada um dos que me visitam. Mas a faço com impreciso intervalo de tempo. Faria porque, como diz meu grande amigo Alberto, eu ouço qualquer um. E depois, talvez ouça qualquer um porque me preocupo com o mundo. Gosto desse meu ar de mártir. Sinto-o e faço que o sintam. É uma maneira poderosa de estar viva. Mas pode ser simplesmente, para a medicina chinesa, excesso do elemento fogo. Que força à ansiedade que me leva a tomar remédios.
Deus! Estou deixando rastros de minha experiência pessoal no mundo, e o que é pior, à guisa de Nietzsche, quando reclamava de seu ressentimento com o mundo, que lhe viraria a cachola desde o estômago, que o levava a vômitos. Mas como se diz: o papel aceita qualquer coisa.
Não terei a resposta de ninguém. Talvez não queria tê-la. Só queria ter esse ar de mártir. Isso pareceu Clarice. Vamos, assumam!
Como não terei a resposta vou tentar adivinhar.
Você acordou e foi para o trabalho. Se tiver, evidentemente a sorte ou o azar de estar empregado. Lá se sentou ao lado de pessoas que você conhece há algum tempo e não sabe o que elas pensam sobre Deus. Assunto pouco interessante. Vocês conversam sobre o oficio e sobre as manchetes. Pode ser o Serra, o Presidente, ou aquele que quer ser presidente, ou assassinos ou atrizes. Você fez alguns telefonemas que sempre faz e recebeu os mesmos. As pessoas costumam ligar-se mutuamente. Se pensarmos nisso economizamos ligações.
Tenho uma alta conta telefônica. Talvez todos tenham. Isso deve ser comum. Essa parte gira muito bem no globo. As telecomunicações são infalíveis sob todos os aspectos.
Você sofreu em algum momento. Sofreu sim! Qualquer coisa. Se eu estiver errada só há duas explicações: você não sabe nada ou você sofreu sim.
Algum momento. Não tenha pressa. Afinal essa pergunta não é daquelas feitas nos olhos (gostaram da metonímia?) onde você tem necessariamente que responder. O intervalo é incomensurável.
Você tem ao menos um amigo de verdade e você contou a ele o detalhe mais importante. E foi com ele que você falou mais tempo, mesmo que ele não seja o mais inteligente , nem o mais humilde por perto. E afinal, ele é o seu amigo. Não lhe contar seus defeitos e engoli-los como um sapo bem grande dever ter doído um pouco. Talvez essa fosse uma boa hora para sofrer, foi?
Da noite não falo. Essa é a única que pode pegá-lo desprevenido. Arrancar-lhe um segredo.
No silêncio do quarto ou na algazarra de um bar, cuidado, você pode ganhar um presente duvidoso.
* Bacharel em Direito, mestranda da FFLCH (USP), escritora, autora de “O Fio de Cloto”, livro de contos prefaciado por Bruno Fregni Basseto, grande filólogo e vencedor do Prêmio Jabuti. Publicou crônicas no “Jornal das Artes” e artigos em várias revistas acadêmicas.
* Por Mariella Augusta
Gostaria de fazer esta pergunta pessoalmente para cada um dos que me visitam. Mas a faço com impreciso intervalo de tempo. Faria porque, como diz meu grande amigo Alberto, eu ouço qualquer um. E depois, talvez ouça qualquer um porque me preocupo com o mundo. Gosto desse meu ar de mártir. Sinto-o e faço que o sintam. É uma maneira poderosa de estar viva. Mas pode ser simplesmente, para a medicina chinesa, excesso do elemento fogo. Que força à ansiedade que me leva a tomar remédios.
Deus! Estou deixando rastros de minha experiência pessoal no mundo, e o que é pior, à guisa de Nietzsche, quando reclamava de seu ressentimento com o mundo, que lhe viraria a cachola desde o estômago, que o levava a vômitos. Mas como se diz: o papel aceita qualquer coisa.
Não terei a resposta de ninguém. Talvez não queria tê-la. Só queria ter esse ar de mártir. Isso pareceu Clarice. Vamos, assumam!
Como não terei a resposta vou tentar adivinhar.
Você acordou e foi para o trabalho. Se tiver, evidentemente a sorte ou o azar de estar empregado. Lá se sentou ao lado de pessoas que você conhece há algum tempo e não sabe o que elas pensam sobre Deus. Assunto pouco interessante. Vocês conversam sobre o oficio e sobre as manchetes. Pode ser o Serra, o Presidente, ou aquele que quer ser presidente, ou assassinos ou atrizes. Você fez alguns telefonemas que sempre faz e recebeu os mesmos. As pessoas costumam ligar-se mutuamente. Se pensarmos nisso economizamos ligações.
Tenho uma alta conta telefônica. Talvez todos tenham. Isso deve ser comum. Essa parte gira muito bem no globo. As telecomunicações são infalíveis sob todos os aspectos.
Você sofreu em algum momento. Sofreu sim! Qualquer coisa. Se eu estiver errada só há duas explicações: você não sabe nada ou você sofreu sim.
Algum momento. Não tenha pressa. Afinal essa pergunta não é daquelas feitas nos olhos (gostaram da metonímia?) onde você tem necessariamente que responder. O intervalo é incomensurável.
Você tem ao menos um amigo de verdade e você contou a ele o detalhe mais importante. E foi com ele que você falou mais tempo, mesmo que ele não seja o mais inteligente , nem o mais humilde por perto. E afinal, ele é o seu amigo. Não lhe contar seus defeitos e engoli-los como um sapo bem grande dever ter doído um pouco. Talvez essa fosse uma boa hora para sofrer, foi?
Da noite não falo. Essa é a única que pode pegá-lo desprevenido. Arrancar-lhe um segredo.
No silêncio do quarto ou na algazarra de um bar, cuidado, você pode ganhar um presente duvidoso.
* Bacharel em Direito, mestranda da FFLCH (USP), escritora, autora de “O Fio de Cloto”, livro de contos prefaciado por Bruno Fregni Basseto, grande filólogo e vencedor do Prêmio Jabuti. Publicou crônicas no “Jornal das Artes” e artigos em várias revistas acadêmicas.
Embora não seja o centro do tema, a alta conta telefoônica chamou a minha atenção, assim como "o presente duvidoso".
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