segunda-feira, 1 de novembro de 2010







A arte imita a vida, que imita a arte*

**Por Renato Manjaterra

Uma vez fiquei sabendo que o produto que eu diagramava passaria por um revisor. Não lembro como reagi, lembro que não gostei. Havia questões de horário e um certo receio (pouco) profissional misturados. O tempo e a vaidade estavam presentes quando eu conheci o Pedrão, o autor.

Fiquei feliz quando soube quem seria o revisor: Pedro Bondaczuk. Sabia dele o que todo mundo sabia: um jornalista, para falar bem pouco, muito bem-conceituado e conhecido, que torcia, desavergonhadamente, pela Ponte Preta. Um gigante na profissão que eu escolhi, essa que mistura, tão vigorosamente, o tempo e a vaidade.

Tenho, desde então, o privilégio de conhecer e conviver com um jovem veterano do ofício de observar e registrar a vida, nesse corte que vai da superfície até o que a vida tiver de mais profundo. E é esse o conteúdo de Cronos & Narciso: observações sobre o mundo, em textos curtos, todos ligados ao tempo ou à vaidade, ou a ambos.

O tempo passa, em geral, por cima das vaidades, levando aquilo que nossa maior parte julga ter de melhor. E o sentimento de soberba, em ostentar o viço da idade, se esfacela e dá lugar à frustração. Há, entretanto, aqueles que entendem o tempo e colocam-se a favor dele, aproveitando seu decurso para aprender, produzir arte e cultura, enfim, cultivar experiências, realizações e, sobretudo, relacionamentos que edifiquem a pessoa de forma atemporal, eterna.
E o mais engraçado disso é que estas pessoas que escolhem cultivar, e cultivar em si, esses valores diferentes do superficialmente belo, o fazem por pura vaidade. Só não é a mesma vaidade estúpida, aquela que se cria dentro das pessoas, não raro as domina e inevitavelmente se transforma em neurose tão rapidamente quanto se esvai o vigor da pré-maturidade.
Essa é para mim a mais importante lição aprendida desse velho e vaidoso escritor: há qualidades que só o tempo consegue potencializar ou mesmo realizar.
Tomara que o Pedro Bondaczuk entenda o que significou para um iniciante o convite para escrever as linhas que vão introduzir seus tantos leitores pelas reflexões desse velho e vaidoso escritor.
De qualquer forma, caso seja isso que ele estivesse esperando: Pois não, Pedrão, você é um velho bonitão.

• Prefácio do livro “Cronos e Narciso” de Pedro J. Bondaczuk.


** Jornalista e escritor, webdesigner, colunista esportivo, pontepretano de quatro costados, autor do livro “Colinas, Pará” com prefácio do Senador Eduardo Suplicy, bacharel em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica de Campinas – PUCAMP, blog http://manjaterra.blogspot.com

4 comentários:

  1. Gostei da escolha do termo "desavergonhadamente" para qualificar o tipo de torcida que Pedro Bondaczuk faz a Ponte Preta. Conheci o nosso editor em agosto de 2007, no Literário do Comunique-se. Em princípio o achei austero, depois o senti sincero. E sobre a própria vaidade, ele lida bem com ela, e não tem pejo em cantá-la de várias formas. Eu já o apresentei para uma entrevista aqui no blog, e mantenho o que disse naquela época: posso não me apaixonar pela beleza literaria de tudo que ele escrever, mas vou aprender muito e me apaixonar por diversas passagens. Por piegas que seja, e para insuflar ainda mais a sua vaidade, eu o acho sábio e democrático. E você, Manjaterra, foi corajoso em chamá-lo e ainda repetir os adjetivos de "velho e vaidoso". No caso, a vaidade procede, pois tem motivo, quanto a velho, já é mais difícil dizer. A sapiência vem amarrada com a experiência, e isso apenas o passar dos anos pode fornecer em quantidade.

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  2. Sábias palavras Renato, ditas sem rebuscamento
    claras e objetivas, assim como é tudo o que escreve.
    Falar de Pedro é fácil pois ele é uma fonte inesgotável.
    Que felicidade a sua em poder compartilhar o dia a dia
    com esse professor.
    Parabéns pelo texto.
    Abração

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  3. Renato,
    gostei da sua homenagem e das palavras sinceras. Sem afetação.
    Pedro merece. Pelo que representa e/ou representou na vida de muitos iniciantes e também veteranos no mundo da escrita.
    Um grande amigo. Um grande talento. Domina com maestria a arte da escrita.
    Na torcida pelo sucesso do livro !
    Beijo em você e outro no Pedro.

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  4. Mara, Núbia e Celamar, a generosidade de vocês três, em relação a mim, é comovente. Embora não nos conheçamos pessoalmente, tenho tanto carinho por vocês como se fôssemos conhecidos de longa data e frequentássemos a casa uns dos outros. Considero-as grandes amigas, que vocês, de fato são. Quanto a você, Renato, o fato de divulgar o prefácio do meu livro "Cronos e Narciso" em sua coluna de hoje, fez com que eu transferisse minha responsabilidade para outros. Quem editou o Literário, hoje, foi minha filha. Apesar de vaidoso (e espero que na medida certa, sem exageros), fico constrangido quando elogiado. Aliás, tenho certo escrúpulo em divulgar meus livros neste espaço. Só os divulgo por insistência dos meus filhos que argumentam que, sem divulgação, serão "encalhe" certo. Reitero, todavia, que elogios me constrangem. Mesmo havendo recebido dezenas de homenagens (a maior é o título de cidadania que Campinas me outorgou), não me sinto à vontade quando elogiado. Deixei de comparecer a muitas cerimônias em minha homenagem por causa disso. Temo ficar "mascarado" e deixar a vaidade exorbitar o limite prudente. Muitíssimo obrigado, porém, a todos vocês. Atribuo esses elogios ao carinho de vocês e à generosidade de que são dotados.

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