Heroi : tem para todo gosto
* Por
Mouzar Benedito
Vi recentemente uma
revista que trazia na capa a foto do juiz Sérgio Moro e o título “Herói do
Brasil”. E tem quem defenda sua candidatura a presidente da República. Antes
dele, outro magistrado, Joaquim Barbosa, então ministro do STF, também foi
chamado de herói e chegou a entrar nas pesquisas de intenção de votos para
presidente. E pular da condição de “herói” para a política não é incomum
Estranho? Bom…
Independente de entrarem ou não para a política, fico intrigado com o conceito
de herói e essa necessidade de dar esse epíteto a alguém, seja por que motivo
for, a não ser aquele mais primário que me foi ensinado.
Muitos brasileiros
parecem necessitar de heróis e nomeiam alguns deles pelos mais variados
motivos.. Sempre achei que mais esquisito é chamar de heróis alguns esportistas
glorificados. Ganham milhões para praticar um esporte e ainda são chamados de
heróis?
No meu aprendizado dos
tempos de criança, herói era um indivíduo, como está definido no Dicionário
Houaiss, “notabilizado por seus feitos guerreiros, sua coragem, tenacidade,
abnegação, magnanimidade etc.”. Nelson Rodrigues uma vez escreveu: “Os heróis morrem
em combate. Não dá tempo ao destino flagrá-los na cama ou na cadeira de
balanço”. Corresponde mais ou menos ao que eu pensava “antigamente”.
Mas vi no próprio
Dicionário Houaiss, que a palavra herói pode ser empregada também em muitos
outros casos. Por exemplo: indivíduo notabilizado por suas realizações (“os
heróis da ciência”), indivíduo que desperta enorme admiração; ídolo, indivíduo
que em certos acontecimentos é o centro das atenções, e muitas outras. Então
vale para tudo quanto é situação que eu achava que rebaixava o peso simbólico
do heroísmo.
Tem uma coisa: tudo
depende do lado que você está. O bandido de uns é o herói de outros. Basta
lembrar dos bandeirantes: nomes de ruas e estradas, eles são “heróis” que
desbravaram o Brasil e expandiram suas fronteiras, conquistaram territórios.
Mas desbravaram por cobiça, caçavam índios aos milhares para escravizar e
matavam os que não lhes serviam.
E os desbravadores do
oeste do Estados Unidos? Búfalo Bill, para os índios de lá, não era nada mais
do que um dos maiores bandidos que havia. Vale para quase tudo quanto é
colonizador.
De qualquer forma
lembro o que disse Bertolt Brecht: “Miserável país aquele que não tem heróis.
Miserável país aquele que precisa de heróis”.
O Barão de Itararé,
que se autointitulou Herói de Dois Séculos, ironizava os “nobres” brasileiros
com títulos de conde, barão, visconde… Para ganhar tais títulos, era preciso
(teoricamente) ter participado de batalhas, mas aqui eles compravam esses
títulos ou ganhavam simplesmente como presentes do imperador. Então, durante a
Revolução de 1930, em que chegou-se a noticiar uma grande batalha que na
verdade nunca ocorreu, entre paulistas e gaúchos, na cidade de Itararé, no Vale
do Ribeira, ele se declarou herói dessa batalha, deu a ele mesmo o título de
Duque e depois, como prova de “modéstia” se rebaixou a Barão. Por ter nascido
no final do século XIX, acrescentou ao epíteto “herói” o complemento “de dois
séculos”.
Ao fazer uma
apresentação de uma reedição facsmilar de seu Almanhaque de 1949, em 1991,
lembrei dessa história e previ que suas frases gozadoras entrariam também pelo
século XXI, brinquei que ele viraria “Herói de três séculos”, o que mantive
como título de um livrinho que escrevi sobre ele.
Apesar de escrever
bastante sobre política e políticos — “que são datados, perdem a validade de
uma geração para outra” — suas máximas sobreviveram e continuam valendo, pois —
por exemplo — ainda há muitos políticos que continuam achando que “o feio em
eleição é perder”, e que a política é um vale-tudo.
Pensando nisso tudo,
catei por aí um monte de frases sobre heróis, e as apresento aqui, começando
por uma do próprio Barão: “Há heróis de dois tipos: os que a pátria chora
porque morreram e os que a pátria chora porque não morreram”.
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Umberto Eco: “O
verdadeiro herói é sempre herói por engano; sonhou ser covarde honesto como os
outros”.
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Herbert Spencer: “O
culto dos heróis é o mais forte onde a liberdade humana é menos respeitada”.
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Lygia Fagundes Telles:
“Não separe com tanta precisão os heróis dos vilões, cada qual de um lado, tudo
bonitinho como nas experiências de química. Não há gente completamente boa nem
gente completamente má, está tudo misturado e a separação é impossível. O mal
está no próprio gênero humano, ninguém presta. Às vezes a gente melhora. Mas
passa…”.
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Jean de La Bruyère:
“Não construam estátuas aos vossos heróis, é melhor erguer estátuas às suas
vítimas”.
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Ivan Teorilang: “Nos
bancos de escola, antes de se glorificar nossos heróis do passado por seus
feitos em guerra, se deveria dar muito mais ênfase ao aprendizado da
diplomacia, pois é a partir daí que as guerras seriam ganhas, sem nenhum
derramamento de sangue”.
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Nelson Mandela: “É
muito fácil enfraquecer e destruir. Os heróis são os que pacificam e
constroem”.
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Renato Russo: “Não
preciso de modelos, não preciso de heróis, eu tenho meus amigos”.
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Cazuza: “Meus heróis
morreram de overdose, meus inimigos estão no poder”.
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Bette Davis: “Voltemos
aos tempos felizes, em que havia heróis”.
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André Malraux: “Não
existe herói sem plateia”.
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Sêneca: “Tirai do
gênero humano a sua vaidade e a sua ambição, e acabareis de vez com os heróis e
os patriotas”.
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Rui Barbosa: “O
heroísmo não está na embriaguez impulsiva da cegueira diante dos perigos: está
na indiferença diante da morte pela verdade, pela liberdade, pela honra, pelo
bem”.
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Menotti Del Picchia:
“Não há heroísmos: há consagrações”.
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Eugène Ionesco:
“Pensar contra o nosso tempo é um ato de heroísmo. Mas dizê-lo é um ato de
loucura”.
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Alberto Caeiro
(heterônimo de Fernando Pessoa): “Se ninguém condecora o sol por dar luz, para
que condecora quem é herói?”.
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Ditado popular: “A
loucura é a origem das façanhas de todos os heróis”.
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Marquês de Maricá: “Se
os homens não tivessem alguma coisa de loucos, seriam incapazes de heroísmo”.
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Maricá, de novo:
“Mudai os tempos, os lugares, as opiniões e circunstâncias, e os grandes heróis
se tornarão pequenos e insignificantes homens”.
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Charles Chaplin: “Quem
mata um homem é chamado de assassino. Quem mata milhares é chamado de herói”.
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Chaplin, de novo: “A
humanidade não se divide em heróis e tiranos. As suas paixões, boas e más,
foram-lhes dadas pela sociedade, não pela natureza”.
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Rubem Alves: “As
razões de poder transformam crimes em heroísmo”.
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Provérbio africano:
“Até que os leões inventem as suas próprias histórias, os caçadores serão
sempre os heróis das narrativas de caça”.
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Laurence Sterne: “A
temeridade muda de nome quando obtém êxito. Então chama-se heroísmo”.
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P. Bona: “O primeiro
grau do heroísmo é vencer o medo”.
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Paul Claudel: “Os
indivíduos só são heróis quando não podem agir de outra maneira”.
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Millôr Fernandes:
“Chama-se de herói o cara que não teve tempo de fugir”.
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Leon Eliachar: “Herói
é o sujeito que teve a sorte de escapar vivo”.
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Jean Giradoux: “O
homem em tempo de guerra chama-se herói. Pode não ser mais corajoso e fugir a
toda pressa. Mas, ao menos, é um herói que bate em retirada”.
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Giradoux, de novo: “Os
heróis são aqueles que tornam magnífica uma vida que já não podem suportar”.
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Albert Camus: “O
heroísmo de pouco vale. A felicidade é mais difícil”.
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Ralph Emerson: “Todo
herói torna-se um chato”.
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Giacomo Leopardi: “A
paciência é a mais heroica das virtudes, justamente por não ter nenhuma
aparência de heroísmo”.
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Charles Bukowski: “A
raça humana exagera em tudo: seus heróis, seus inimigos, sua importância”.
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Ditado popular: “A
adversidade faz heróis”.
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Victor Hugo: “O
infortúnio, o isolamento, o abandono e a pobreza são campos de batalha que têm
heróis”.
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Ditado popular: “A mal
desesperado, remédio heroico”.
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Luigi Pirandello:
“Toda a gente pode ser um herói de vez em quando, mas um cavalheiro é algo que
se é sempre ou não se é”.
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Eleanor Roosevelt:
“Não temos de nos tornar heróis do dia para a noite. Só um passo de cada vez,
tratando cada coisa à medida que surge, vendo que não é tão assustadora como
parecia, descobrindo que temos a força para a superar”.
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Gustave Le Bon: “O
heroísmo pode salvar um povo em circunstâncias difíceis, mas é apenas a
acumulação diária de pequenas virtudes que determina a sua alma”.
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Oscar Wilde:
“Antigamente canonizávamos nossos heróis. O método moderno é vulgarizá-los”.
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Nietzsche: “Não
desfaças o herói que está em sua alma”.
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Armando Nogueira:
“Heróis são reféns da glória. Vivem sufocados pela tirania da alta performance”.
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François La
Rochefoucauld: “Há heróis no mal, como no bem”.
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Simón Bolívar: “Do
heroico ao ridículo não há mais do que um passo”.
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Jornalista.
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