A casa
* Por
Adélia Prado
É um chalé com
alpendre, forrado de hera. Na sala, tem uma gravura de Natal com neve. Não tem
lugar pra esta casa em ruas que se conhecem.
Mas afirmo que tem
janelas, claridade de lâmpada atravessando o vidro, um noivo que ronda a casa —
esta que parece sombria — e uma noiva lá dentro que sou eu.
É uma casa de esquina,
indestrutível. Moro nela quando lembro, quando quero acendo o fogo, as
torneiras jorram, eu fico esperando o noivo, na minha casa aquecida.
Não fica em bairro
esta casa infensa à demolição. Fica num modo tristonho de certos entardeceres,
quando o que um corpo deseja é outro corpo pra escavar. Uma ideia de exílio e
túnel.
(Extraído do livro em
PDF: O coração disparado [recurso eletrônico] / Adélia Prado. - 1. ed. - Rio de
Janeiro: Record, 2013. recurso digital – Página 10)
* Uma das mais consagradas poetisas brasileiras
A memória nos salvando e nos penitenciando.
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