Homem múltiplo
que prefiro chamar de AMIGO
“Amizade que se preza, e que ofereço,
de coração, às pessoas que gosto (que felizmente são milhares) é generosa,
desinteressada e espontânea. Não tem malícia e muito menos segundas intenções.
Exige, somente, reciprocidade, e nada mais. Tem, como característica, a
lealdade. Dispensa todo e qualquer tipo de formalidade. Não é preciso, sequer,
fazer força para que nasça. Simplesmente acontece, sem motivo ou explicação, e me
acompanha a vida toda. É um presente de Deus, que retribuo com reciprocidade. É
confortador saber que em algum lugar, não importa onde, há alguém que gosta de
mim de graça, que compreende minhas imperfeições e não faz a mínima conta delas
e que está disposto a me socorrer, em caso de necessidade, sem que eu precise
solicitar seu generoso e espontâneo amparo. Sinto-me o mais rico dos homens,
por ser detentor desse tesouro sem preço”.
Esta declaração enfática eu fiz, e
publicamente, e em mais de uma ocasião – sendo, a mais recente, em forma de reflexão
no Facebook, em 23 de fevereiro de 2016 – espontaneamente, sem qualquer
intenção de agradar ninguém. E a farei dez, vinte, mil, milhões de vezes,
quantas julgar necessárias, por se tratar de gratidão à vida por tamanho
privilégio. Nem todos têm ventura igual. Aliás, os que a têm são, na verdade,
poucos, pouquíssimos, raros, raríssimos, em um mundo cada vez mais
caracterizado pela competição e por feroz individualismo. Meus milhares de
amigos (cada um deles) sabem que não se trata de mero jogo de palavras, de
declaração “bonitinha”, com pretensão, digamos, de ser “literária”. Longe disso.
Quem gosta, de fato, de mim, confia sem pestanejar na sinceridade dessas
palavras, que são parte de uma crônica que redigi há já algum tempo e que “pincei”
para postá-la no Facebook em forma de reflexão, justamente por estar pensando
neles.
Entre os tantos amigos com que a vida
me presenteou está um cuja amizade particularmente me envaidece. Refiro-me
especificamente a Francisco Fernandes de Araújo. Nem sei como caracterizá-lo
(como se isso fosse necessário!). Devo tratá-lo por “doutor”, como eminente
jurista que é, tendo atuado como exemplar juiz ao longo de memorável carreira?
Chamo-o de escritor, de criativo romancista, com livros e mais livros de
sucesso? Trato-o como articulista da imprensa, com opiniões firmes, sensatas e
justas? Considero-o compositor de música popular, que também é? Ou como
memorialista? Ou, então, como poeta, dotado de rara sensibilidade e inspiração?
Francisco Fernandes Araújo é tudo isso e muito mais. É o que chamo, sem pestanejar,
de “homem múltiplo!!! Mas de todas as designações que posso lhe dar, prefiro
uma, que no meu entender é a mais nobre e verdadeira: AMIGO!!!
Entre os vários livros com que esse
multitalento generosamente me presenteou, dois deles se destacam, ambos de
poesias. São “Rosa Amarela” e “Acariciando esperanças”. Ambos estão no lugar
mais nobre da minha casa, mas não na prateleira da minha caótica biblioteca, porém
em meu criado-mudo, uma espécie de altar que mantenho junto à cama, para
inspirar minhas meditações matinais. E como inspiram! São raros os dias em que
não leio algum poema desse autor que me faz meditar na beleza e transcendência
da vida e no que de mais nobre e de belo ela me proporciona. Gostaria de poder
partilhar todos os poemas, sem exceção, desses dois preciosos livros. Claro que
isso é impossível, além de ser injusto com o autor. Melhor é que vocês, caros
leitores, que me honram com sua assiduidade, os adquiram e se deleitem com suas
mensagens belas e inspiradoras.
Todavia, não os deixarei na mão. Como
sempre faço, quando comento livros de poesia que me empolgam, pincei (a esmo)
um poema, de cada um, para dividir com vocês. De “Rosa amarela” transcrevo estes
profundos versos, intitulados “Amor e ódio”:
“Estaríamos
bem distantes um do outro
Se
o mundo fosse em linha reta
Mas
é um círculo que vai e volta
A
posição dele correta.
Por
isso nos cruzamos tantas vezes,
Embora
com destinos desiguais,
E
a preocupação recíproca que temos,
Não
permite que nos esqueçamos, jamais.
Somos
duas forças gigantescas
Em
busca de alguma realização.
Só
que uma está aliada a Deus,
E
a outra ao anjo da destruição.
Amor
e ódio podem ser a mesma coisa,
Diz
antiga sabedoria popular,
Deixa-me
então fazer um convite,
Para
que possas algum dia me adotar.
Que
tal se no próximo giro
Dermos
as mãos num aperto forte,
Para
semearmos no interior do círculo
O
fruto da vida e não da morte?
Está
claro que nesta altura
Já
se sabe quem sou eu,
Pois
tal proposta nunca viria
De
quem até de si já esqueceu.
Realmente,
quem odeia se maltrata,
Provoca
muita pena e desdém,
E
afinal, é seu peito que explode,
Atingindo
mais a si do que ninguém”.
Gostaram? Não há como não gostar! Para
completar, partilho o soneto “Interrogação”, do livro “Acariciando esperanças”:
“És
capaz de lembrar há quanto tempo
Esqueceste
da existência de teu pai,
Partilhaste
com ele passatempo,
Não
percebes se ele vem ou se ele vai?
Esqueceste
dos tempos de criança,
Quando
o pai te embalou e protegeu,
Te
ensinou a ter fé, ter esperança,
Fez
crescer esse filho que cresceu?
Será
que queres isto para ti,
Quando
na fase dele te encontrares?
Ou
é melhor ouvir este conselho?
Acorda,
enquanto é tempo por aqui!
Não
busques alegrias nem lugares
Enquanto
não te vês um pai no espelho!...”
Boa leitura!
O Editor.
Acompasnhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Eu vi esse texto no Facebook. Muito bom e merecia voltar. A maioria dos amigos são circunstanciais e o afastamento quando acaba o interesse em comum é a norma. Os que duram a vida toda e desinteressadamente, com ajudas mútuas e perpétuas são raridades. Eu tenho uma raridade dessas há 50 anos, quase (fevereiro de 1967, quando fizemos juntas o que se chamava 1ª série do Ginásio). Dulcemar Soares é o nome dela.
ResponderExcluir