Procurando na cozinha
* Por Rodrigo Ramazzini
Em casa. A esposa está tomando banho com a porta entreaberta do
banheiro. Na cozinha, o marido grita para ela:
- Amor!
Amor!
- Hã... Falaste
comigo?
- Amor! Onde
está o...
- O que é? Fala
mais alto que não estou escutando...
- Onde estão
aqueles quatro alfajores uruguaios que o Nando nos trouxe ontem?
- Ah sim! Na
verdade, só tem dois. Dei um para a mãe e outro para o Nenê. Está no armário ao
lado da geladeira...
- Ok! No
aéreo?
- Não! No
vertical ao lado da geladeira.
- Certo!
- Abre o
armário. Está no terceiro compartimento de cima para baixo, ao lado de um
pacote de Trakinas...
- Não estou
achando!
- Mas está
aí. Procura!
- Não está!
Onde?
- Estás no
armário certo?
- Sim!
- O que? Não
escutei...
- Sim! No do
lado da geladeira...
- Tem que
estar aí, então...
- Não está!
Tem um liquidificador, uma torradeira...
- Não é aí!
- O quê? Não
escutei...
- Não é aí!
É mais para cima...
- Certo!
- Achaste?
- Deixar eu
ver.... É... Não!
- Mas está
aí!
O marido se
dirige até a porta do banheiro para tentar uma melhor compreensão.
- Tem
certeza que está naquele armário?
- Tenho. Vai
lá e olha de novo. Vai ter no compartimento um pacote de Trakinas, um pacote de
bolacha Maria de 500 gramas, um suco de caixinha no sabor uva, uma lata de
milho da marca Oderich e outra de ervilha com a lata branquinha, um pacote de
massa parafuso com a embalagem amarelada, uma lata de sardinha da marca Gomes
da Costa... O alfajor tem o rótulo roxo e está lá junto!
O marido
retorna para a cozinha. Segundos depois...
- Achaste?
- Não! Não
achei nada disso que tu falaste...
- Pelo amor
de Deus! Não achas nada em lugar nenhum, criatura!
- Achei!
Achei! Está aqui a Trakinas...
Silêncio. Decorridos
cinco minutos, após colocar o armário abaixo, rodear toda a cozinha em busca do
alfajor e se estressar, o marido pede novo “socorro” a esposa:
- Amor! Não
achei essa droga de alfajor! Sei lá onde tu colocaste!
- Não
acredito! Espera que já estou saindo do banho.
Dois minutos
depois, a esposa sai do banheiro, ingressa na cozinha e em três segundos
encontra o alfajor em cima da mesa central e não no armário, como ela estava
orientando.
- Está aqui,
ô boca-aberta! Bem na tua frente, fora do armário!
O marido fecha
a fisionomia e fita-a com os olhos. Então, para não dar o braço a torcer sobre
o drama que é para os homens procurar algo em uma cozinha e para não admitir
que o Alfajor estava de fácil localização bem a sua frente, acusa a esposa sem misericórdia:
- Estavas de
sacanagem comigo me mandando procurar no armário, né? Se tu querias comer era
só ter falado... Não precisavas ter escondido!
* Jornalista e contista gaúcho.
Nenhum comentário:
Postar um comentário