Danda
* Por
Núbia Araujo Nonato do Amaral
Danda nasceu num dia
de sol como tantos outros o são. Chorou e esperneou como tantos nascidos naquele
dia. Sugou as tetas da negra velha como bicho faminto; a mãe ficou no catre por
inanição. O pai sumiu na vida, expulso por diferenças religiosas.
Danda cresceu que nem
bichinho que se prostra de rabo encolhido esperando um naco de pão.
Um dia a chuva desabou
revoltada, ferida, arrastou tudo lambendo as chagas da terra. O vilarejo sumiu
apagando a miséria nos olhos daquele povo que já estava oco por dentro.
Danda se foi, nenhum
grito, nenhuma lágrima, nenhuma dívida.
* Poetisa, contista, cronista e colunista do
Literário
Lembrei-me de Mariana, da Samarco, e também de um meu vizinho que foi enterrado sem choro.
ResponderExcluir