sábado, 8 de outubro de 2016

Gangorra


* Por Flora Figueiredo


Eu namoro a noite,
você apaga a lua;

 eu perfumo o lençol,
você dorme na rua;

eu aprumo a estrela,
você a entorta;

eu colho a maçã,
você traz a lagarta;

eu rego o ipê
você parte o galho;

eu tempero com sal,
você talha o molho;

eu lavo o cristal,
você trinca a ponta;

eu adoço com mel,
você passa do ponto;

eu beijo na boca,
você faz de conta.

* Poetisa, cronista, compositora e tradutora, autora de “O trem que traz a noite”, “Chão de vento”, “Calçada de verão”, “Limão Rosa”, “Amor a céu aberto” e “Florescência”; rima, ritmo e bom-humor são características da sua poesia. Deixa evidente sua intimidade com o mundo, abraçando o cotidiano com vitalidade e graça - às vezes romântica, às vezes irreverente e turbulenta. Sempre dentro de uma linguagem concisa e simples, plena de sutileza verbal, seus poemas são como um mergulho profundo nas águas da vida.


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