Araceli, Ana Lídia, Isabella, Bernardo... Quantos
mais?
* Por
Mara Narciso
Há tempos se diz que embotamos os nossos sentimentos
e a capacidade de nos indignarmos. Como estamos no quesito compaixão? Quando
pensávamos estar completamente indiferentes à carga minuto a minuto de atos
cruéis e indignos contra o ser humano, surgem as reportagens com sons e imagens
do durante e não do após. Passamos a ver o estrago sendo feito e não o depois,
o rescaldo, o resultado da nossa brutalidade.
Uma mulher na qualidade de babá tortura uma menina
de seis anos, batendo em sua boca e apertando-a entre as pernas, enquanto a
filha dela, de 12 anos filma a cena e ajuda no espancamento. Imagens provam o
que é uma notícia chocante. Então, passamos a ter nossas consciências cutucadas
por imagens cruas. São cenas da insensatez humana. Humana? Decapitações, corpos
dilacerados, torturas, assassinatos em tempo real, tudo é “assistível”.
Crianças sendo torturadas, física e
psicologicamente, estão no ar. Enfureço-me diante dos fatos. Tenho ímpetos de
fazer justiça, voando no malfeitor. Hediondos, os crimes sexuais são o clímax
da degradação humana. Contra menores então, repugnam-me muito mais. Crianças
são preciosidades, e fazer algo contra elas é romper com o sagrado. Se elas não
agem como se gostaria que fosse, certamente pergunte a si mesmo como agiu com
ela, e terá a resposta. Certamente o erro começou em você e não nela. Não se
deve julgar uma criança. Procure entender suas dificuldades, e como foi a sua
vida até ali. Depois veja o que pode fazer para ajudá-la.
Araceli Cabrera Sánchez Crespo, de acordo com a
Wikipédia, foi uma menina violentamente assassinada em 18 de maio de 1973, aos
oito anos de vida. Morava em Vitória, ES. Sua mãe a usava para levar drogas.
Foi sequestrada após as aulas. Dois homens a doparam, e seviciaram, levando-a a
morte por overdose de LSD e sufocamento. Teve seu corpo violado e mordido, além
de ter-lhe sido jogado ácido para evitar o reconhecimento. Após a morte ficou
em refrigeração, nas mãos dos assassinos por dois dias, até ser jogado atrás de
um hospital. Seus algozes foram condenados, mas não cumpriram pena, por
pertencer a famílias ricas e importantes.
Ana Lídia Braga tinha sete anos quando foi
sequestrada na entrada da sua escola, em Brasília. Era o dia 11 de setembro de
1973. Ela foi morta no dia seguinte após ter seus cabelos cortados as tochas, o
corpo queimado por pontas de cigarros e estuprada. O seu irmão a vendeu a
traficantes, diz a Wikipédia, mas novamente, por se tratar de assassino filho
de ministro, o crime virou símbolo de impunidade no país. A família foi conivente
e a Ditadura Militar mandou ordens expressas para que não se falasse no
assunto.
Isabella de Oliveira Nardoni morreu aos cinco anos
de idade quando foi jogada pelo seu pai, da janela do 6º andar do prédio onde
ele morava, após a madrasta bater nela, tirar-lhe sangue e jogá-la no chão. Foi
no dia 29 de março de 2008, em São Paulo. Os réus, Alexandre Nardoni e Ana
Carolina Jatobá cumprirão penas de 31 e 26 anos respectivamente. O crime
bárbaro que cometeram comoveu todo o país, e ainda emociona.
De acordo com a polícia, Bernardo Boldrini foi morto
em Três Passos, RS, pela sua madrasta Gracieli Ugoline, no dia 4 de abril de
2014, após ter sido ameaçado de morte por ela, em gravação ouvida por todo
Brasil. Ele tinha 11 anos e vinha sendo menosprezado e torturado
psicologicamente por seu pai Leandro Boldrini, mentor do crime. Sua madrasta e
carrasco, segundo uma ex-babá, já tinha tentado asfixiá-lo. O menino pediu
ajuda à justiça pessoalmente, mas não houve tempo. Foi barbaramente imolado,
dopado com midazolan e enterrado em cova rasa, após banho de ácido.
O caso está em andamento, com audiências,
depoimentos e ajuntamento de provas. O resgate de um vídeo apagado do celular
do pai mostra um menino desesperado, pedindo por socorro aos berros.
Dizia que
tinha sido surrado pela madrasta, e é ofendido por ela que chama a sua mãe de
vagabunda e ele mesmo de “cagão”, quando fala que vai denunciar à polícia os
maus tratos sofridos. Com duração de 13 minutos e 51 segundos vai pouco a pouco
mostrando o sofrimento de Bernardo, que precisava muito de ajuda, mas não
conseguiu ser salvo.
Diariamente o Brasil se escandaliza com novas
crueldades contra menores, dentro de suas próprias casas. Que pensemos o quanto
estamos omissos em relação ao nosso futuro. Quantas crianças estão neste
momento sendo vítimas de abuso?
Vejam os casos nos links:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Araceli
http://pt.wikipedia.org/wiki/Caso_Ana_L%C3%ADdia.
*Médica endocrinologista,
jornalista profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto
Histórico e Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Sua pergunta do título é também minha e de todos os brasileiros de bem, Mara. Revoltante...
ResponderExcluirO nosso futuro está sendo destruído, Marcelo. temos de praticar mais amor e compaixão. Obrigada pela passagem.
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