sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Flores e citrinos

* Por Carmo Vasconcelos

Uma aquarela anil de flores e citrinos
lembrou-me a vida ajardinada de azedumes…
É sábio o Cosmos… e a nós, meros peregrinos,
não nos é dado a Lei mudar nem seus costumes.

Por aqui vamos a provar fel e doçuras,
aproveitando da jornada os seus sabores
que, se num dia nos mostra apenas amarguras,
noutro, mergulha-nos num rio de mel e amores.

Porque se tudo sabe a doce o enjoo é fatal,
e se a amargura não voltasse em seu momento,
jamais se tinha o contraponto desse sal,
a temperar nossa existência em crescimento.

Como negar o dedo sábio da alternância,
quando do caos surgem arroubos de alegria?…
Vede que igual a natureza, em inconstância,
sempre engravida a noite escura d’alvo dia.

Vede a maré alta que sepulta a baixa-mar,
o divinal calor que amansa o rude frio,
a paz, depois de agre procela se acalmar,
e o mar que faz-se lago, após ondear bravio.

Louvemos essa miscelânea: riso e dor,
façamos nosso aprendizado co’a alternância,
divina Lei do Deus Supremo… que d’amor
pla Humanidade, faz constante essa inconstância!


* Poetisa portuguesa

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