quinta-feira, 18 de setembro de 2014

A história da opinião pública brasileira

* Por Raul Longo

III Parte – Primeiro Declínio

Friedrich Nietzsche dizia que Pedro II era o mais anti monarquista dos monarcas do mundo. Há quem se espante com isso de Nietzsche falar do Imperador brasileiro, mas a realidade é que Dom Pedro II foi admirado e respeitado por uma turma da pesada. Além de Nietzsche, o fã clube do nosso Imperador era formado por nomes como Richard Wagner, Louis Pasteur, Victor Hugo, Charles Darwin e Graham Bell. Tanto que uma das primeiras linhas telefônicas no mundo foi o próprio inventor do telefone, o Alexander Graham Bell, quem instalou lá no Palácio do Catete.

Só quem não se deu conta da importância do D. Pedro II para sua época, como recentemente tornou a acontecer com a projeção e admiração internacional por Luís Ignácio Lula da Silva, foi a invariável ignorância da vagabunda elite brasileira.

Calma! Ninguém precisa ficar ofendido porque não há nenhuma intenção de ofensa. Adjetivar a elite brasileira de vagabunda apenas indica sua tradicional condição perante a Opinião Pública internacional, desde os tempos em que se pontuava pela indisposição ao abolicionismo de Pedro II, denunciando as próprias origens. De onde veio essa gente se não daqueles “filhos de algo”, de nobres decadentes que, em busca de reconhecimento na Corte europeia trocaram vinhos, joias, bailes, mulheres e bacalhau para aparentar alguma utilidade a suas existências enfrentando índios, feras e febres tropicais sem qualquer socorro?

“- Ah! Mas hoje é diferente! Nossas atuais elites são laboriosas e inseridas no contexto da realidade brasileira!” O cacete! Vagabundos até hoje e aí está o “Mais Médicos” pra comprovar essa triste e secular evidência. A depender da rastaquera elite da nossa classe médica, ‘tava aí a realidade social brasileira morrendo ao abandono sem qualquer comoção daqueles que só querem ganhar no mole e sob ar condicionado! Então aqueles “filhos de algo” ou “fidalgos” vieram pra cá porque lá não mais cabiam suas inutilidades e incompetências! Naquela época não colaria a empáfia que ainda ostentam.

Naqueles tempos só não se investigariam falhos e falsos empreendimentos como aeroporto em terras de tio ou próprias, porque avião ainda não existia e tampouco se transportava cocaína em helicóptero; mas nem por isso o malandrinho teria o beneplácito da opinião de alguns tão quanto malacos que pelo retorno do ganho fácil por especulações parasitárias como quando aqui chegaram os mandriões a explorar a indiarada.

Logo que a barra pesou porque estando em terra própria os índios não tinham não se obrigavam a aguentar tanto desaforo, os vagabundos mandaram vir a negrada da África! Ou seja: se inúteis chegaram, inúteis se mantiveram e se mantêm até hoje. Não prestam pra coisa alguma além de fazer intrigas e tão logo a Princesa Isabel assinou a Lei Áurea acabando com a exploração da mão de obra escrava, levantaram futricas até emprenhar os ouvidos do ingênuo alagoano Marechal Deodoro que caiu na conversa de que se pretendia mandar prender a ele e ao Benjamim Constant.

Puro boato! Dom Pedro II era amigo do Deodoro e o tenente-coronel Benjamim Constant, por indicação do próprio Dom Pedro, há muitos anos dirigia o Imperial Instituto dos Meninos Cegos. A entidade fora criada pelo bom monarca em 1854 para se responsabilizar pela educação das crianças cegas e -- sem intenção de trocadilho infame -- era a menina dos olhos do Dom Pedro! Pra que o Visconde de Ouro Preto, então chefe de gabinete do governo iria desagradar o Imperador mandando prender seus protegidos? Por serem republicanos? Ora! O mundo inteiro sabia que Dom Pedro também era um entusiasta do republicanismo e só o que o impedia de instaurar o regime no Brasil era o receio de que a República caísse nas mãos de quem mais pleiteava o poder: a corja da vagabunda elite fundiária brasileira que tanto se revoltou com a abolição da escravatura? E nesta única eficiência que detêm, a intriga, acabaram de fato derrubando a monarquia.

Deu no que deu!... Quatro dias depois da Proclamação tentaram empurrar ao Deodoro uma bandeira que nada mais era do que uma réplica da bandeira dos Estados Unidos, com listras verdes e amarelas no lugar das brancas e vermelhas, e alguma diferença na disposição das estrelas no quadrado do canto superior esquerdo. O próprio Deodoro ficou tão indignado perante a insistência que no dia 19 de novembro esmurrou à mesa e alertou: “Senhores! Mudamos o regime, não a pátria!” Daí se instituir aquele como o Dia da Bandeira que temos.

A história de nossa bandeira comprova como esses mesmos capachos que hoje tiram os sapatos e abaixam as calças ao império estadunidenses, já eram sabujos desde o primeiro momento da República que nos tirou toda a dignidade conquistada e construída pelo D. Pedro II que se recusou a dobrar-se perante Abraham Lincoln, a quem acreditam abolicionista, mas em verdade pretendia exiliar todos os negros de lá abandonando-os na Amazônia. Dom Pedro impediu a venda das terras ao pool de investidores arrumados pelo Lincoln para arrumar um lugar onde enfiar os negros dos Estados Unidos; da mesma forma que mais tarde os sionistas livraram a Europa dos judeus pobres enviando-os para a Palestina com o apoio dos mesmo Estados Unidos e Inglaterra, apesar de discordância de sábios judeus como Sigmund Freud e Albert Einstein, entre muitos outros.

Se na época o Brasil das péssimas intenções de Lincoln para com os negros dos Estados Unidos o Brasil já fosse governado pelo Fernando Henrique Cardoso, a Amazônia hoje estaria virada numa Palestina. E é o que, por sinal, muita gente boa e abalizada diz ser o projeto de uma certa candidata à presidência, de histórico ambientalista e que na região estendeu uma Rede de ONGs geridas por interesses estrangeiros que atraíram a atenção de um famoso especulador internacional húngaro/americano de origem judaica: George Soros. Concidentemente, a mesma candidata também recebe apoio da família Setúbal que foi sócia do Deputado Herbert Levy da ARENA. Também judeu, Levy adquiriu a Fazenda Tanquinho no interior paulista de José Queiróz Aranha, um aristocrata cafeicultor que, por sua vez, era parente de Oswaldo Aranha, diplomata brasileiro que ao presidir a II Assembleia Geral da ONU, em 1947, sancionou por aquela entidade a criação do Estado de Israel, pelo que ainda hoje recebe agradecimentos dos sionistas.

Mas o que tem a ver a Marina e o George Soros com a história aqui relatada? Talvez nada, mas já que se tocou no assunto não custa esclarecer que apesar de gaúcho de Alegrete, Oswaldo Aranha era da mesma tradicional família dos Souza Aranha de Campinas, São Paulo, e que pelo Banco Itaú associaram Herbert Levy, um dos mais radicais e fervorosos defensores da ditadura militar, ao pai de Neca Setúbal, o ex-prefeito de São Paulo, Olavo Egídio de Sousa Aranha Setúbal.

Retornando da Palestina Amazônica para o golpe que derrubou Dom Pedro II, avançamos para o golpe contra Deodoro estimulado pela mesma elite que o usou contra D. Pedro. Dois anos depois de Proclamada a República a elite cafeeira de São Paulo insufla o ego de outro marechal, o também alagoano Floriano Peixoto, contra seu conterrâneo de quem era vice-presidente. Deodoro resistiu e é Floriano quem comanda a primeira Revolta da Armada com o encouraçado Riachuelo voltando suas canhoneiras contra a cidade do Rio de Janeiro. Aquilo ia ser uma matança de civis e Deodoro preferiu renunciar.

Mas seu sucessor não teve a menor preocupação com os civis e a ferro e a fogo esmagou a Opinião Pública todas as vezes em que ela se manifestou contra a República ou a favor do Império, como ocorreu na Revolução Federalista e na execução dos revoltosos catarinenses, impondo à cidade da Ilha de Nossa Senhora do Desterro uma eterna homenagem ao seu nome, até hoje não totalmente aceita pela Opinião Pública de Florianópolis.

Floriano Peixoto chegou a anunciar uma ditadura de salvação nacional, mas apesar de chamado Marechal de Ferro por subjugar seus inimigos sem qualquer complacência, foi por sua vez subjugado pelo poder econômico das elites que resgataram a pretendida república, como temera Dom Pedro II cujo falecimento, também em 1891, provocou uma crise de arrependimentos entre a maioria dos republicanos que o derrubaram sem imaginar que as então almejadas mudanças levariam o país ao obscurantismo, sem nada da liberdade política e dos tantos avanços sociais, técnicos e científicos  promovidos por Pedro II. O declínio da Opinião Pública brasileira foi drástico e retornamos aos tempos entre colônia e primeiro Império, quando os cidadãos não tinham qualquer direito de opinião.

As liberdade fora totalmente suprimidas desde os primeiros dias da República dos latifundiários e assim permaneceu e se consolidou no governo do primeiro presidente civil, Prudente de Moraes, que marcou a ascensão da oligarquia cafeicultora ao poder do país.

Prudente de Moraes também foi o primeiro presidente eleito pelo voto popular, mas considerar as urnas como meio de expressão da Opinião Pública era uma falácia, pois então o voto era imposto pelo cabresto dos coronéis que detinham os poderes financeiros e armados regionais, conhecidos como currais eleitorais. E assim, a partir de Prudente de Moraes se institui no país o que foi conhecido como Política Café com Leite, mantendo uma alternância na presidência entre representantes das elites agrarias de Minas Gerais, cujos empregados dedicavam-se à produção de Leite; e das elites agrarias de São Paulo, mantidas por empregados dedicados à cafeicultura. Não mais escravos, esses empregados em maioria se compunham de emigrantes pobres trazidos da Europa e da Ásia para substituir à mão de obra escrava abandonada pelos interiores dos sertões brasileiros.

Pois foram abandonados que miscigenados em caboclos que começaram a formar uma nova Opinião Pública. Mas sempre que se levantava era simplesmente massacrada como ocorreu na Guerra de Canudos, ainda no governo Prudente de Moraes, e Guerra do Contestado, no decorrer dos governos de Hermes da Fonseca e Venceslau Brás.

Hermes da Fonseca foi sobrinho do primeiro presidente republicano: o Deodoro. Militar e marechal como o tio, logo no início de seu governo respondeu com alta traição à Opinião Pública revoltada contra o uso da chibata como método repreensivo utilizado pelos oficiais da Marinha Brasileira contra seus comandados. Traição e falta de honra à própria palavra no acordo estabelecido pelo recém-eleito presidente com o líder dos revoltosos. Em 26 de novembro o marinheiro João Cândido entregou os estopins dos canhões dos encouraçados em troca do compromisso de Hermes da Fonseca em suspender o emprego da chibata e de conceder anistia a todos os revoltosos. No dia seguinte o Marechal decreta a expulsão dos marinheiros, provocando uma segunda rebelião na Ilha das Cobras. Reprimida com bombardeios, 2.000 expulsões, fuzilamentos, condenações a degredo na Amazônia, e prisão; a barbárie do exército contra o povo brasileiro naquela revolta não foi a única, mas ainda hoje é das mais lembrada.

O marinheiro João Cândido que por negociar a rendição dos revoltosos propondo a anistia e o fim do castigo medieval fora apontado pela imprensa da época como o Almirante Negro, foi aprisionado no Hospital de Alienados como louco. Banido da Marinha sofreu privações, trabalhou como estivador e  mendigou pelas ruas do Rio de Janeiro. Espezinhado pelo tradicional ódio das elites aos pobres e, sobretudo, aos negros; João Cândido foi detratado de todas as formas possíveis e imagináveis, sendo inclusive apontado como homossexual apesar de pai de doze filhos com quatro mulheres.  Convidado a responder ao ataque público de um Almirante, João Candido respondeu:  "- Contestá-lo? Como, se não tenho as letras do Almirante? O galho quebra sempre do lado mais fraco.”

O nome do Almirante que em 1949 mesquinhamente detratou João Candido pelo jornal Diário de Notícias, expondo seus próprios estúpidos e primários preconceitos, inclusive sexuais, não apresenta qualquer justificativa para ser lembrado e hoje seu nome é tão obscuro e ignorado quanto em algum breve dia será o de um Bolsonaro; mas o Almirante Negro recebeu uma das mais belas homenagens já composta nas páginas melódicas do Brasil, sob a assinatura de dois de nossos maiores expoentes musicais: João Bosco e Aldir Blanc,  e com o título “Mestre Sala dos Mares”.

“Glória a todas as lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais!.” Falecido em 1969, João Cândido foi finalmente anistiado em 2008 e em 2010 a Presidenta Dilma Rousseff fez uso de seu nome para batizar o primeiro cargueiro produzido pela reativação da indústria naval brasileira, desativada pelo governo de Fernando Henrique Cardoso.

“Glória a todas as lutas inglórias que através da nossa história não esquecemos jamais!” Assim, entre ascensão e declínio se constrói a história de nossa Opinião Pública como quando os catarinenses rememoram seus heróis populares da Guerra do Contestado, caboclos que ousaram contestar os interesses dos coronéis latifundiários do estado do Paraná associados aos pulhas do governo federal de Hermes da Fonseca que entregaram nossas terras e florestas aos madeireiros e à estadunidense Southern Brazil Lumber & Colonization Company.

Em cumprimento à real e única especialidade das elites brasileiras que é a gerência e corretagem dos bens e patrimônios públicos do povo brasileiro, como um bom capataz o Marechal Hermes da Fonseca mobilizou cerca de 7 mil soldados do exército, mais mil do regimento de segurança do Paraná e ainda mil civis contratados como mercenários e espiões, promovendo cerca de 9.000 mutilações, mortes e desaparecimentos de brasileiros.

Mas após o declínio provocado pela instauração da Velha República, a Opinião Pública brasileira ainda tornaria a experimentar nova ascensão. Só que aí já é outra história.   

*Raul Longo é jornalista, escritor e poeta. Mora em Florianópolis e é colaborador do “Quem tem medo da democracia?”, onde mantém a coluna “Pouso Longo”.


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