quarta-feira, 17 de setembro de 2014

Paradigmas da racionalidade


O homem distingue-se de outras formas de vida (e olhem que elas ascendem aos bilhões neste peculiar planeta que orbita uma estrela de quinta grandeza de uma galáxia que sequer é das maiores) por uma característica ímpar, única, inexistente em qualquer outro ser vivo, pelo menos dos conhecidos: a razão. Até aí, limitei-me a dizer o óbvio, não é mesmo?. Até uma criança, que mal começa a entender o mundo, sabe disso. É certo que este animal peculiar nem sempre exerce sua racionalidade. Não, pelo menos, plenamente. Diria que a maior parte dos seus atos, se os tomarmos apenas no aspecto “numérico”, tende ao, ou é irracional. Quando se deixa levar apenas pelo instinto, o homem tem a tendência de ser, e é, a mais perigosa, perversa e impiedosa das feras. Tanto que é o responsável pela extinção de milhares de espécies vivas, agindo como se fosse o único a ter direito à vida. Claro que não é. Mas...

Há três características essenciais cuja ausência, se houver, nos será catastrófica para uma convivência, digamos, “normal” com nossos semelhantes, que considero “paradigmas da racionalidade”: inteligência, sentimento e vontade. Todas têm que estar presentes simultaneamente, para nos tornar úteis, produtivos e, enfim, “humanos”, no aspecto tido e havido como ideal. Se faltar uma delas, mas contarmos com as outras duas, ainda poderemos nos defender, de uma forma ou de outra. Sem as três, porém, seremos piores do que os mais obtusos animais.

E o que vem a ser a inteligência? A palavra é auto-explicativa. Ou seja, é a capacidade potencial de entendimento. Há controvérsias sobre a exclusividade do ser humano dessa característica. A maioria tem como certo que os demais seres viventes não são inteligentes. Ou seja, que não entendem seu papel e que são movidos exclusivamente pelos instintos. Será? Tenho lá minhas dúvidas. Como também reluto em considerar que a inteligência seja distintiva do homem, ou característica exclusivamente dele. Há pessoas que praticamente não entendem nada (ou pelo menos agem de forma a passarem essa impressão): nem do que são, nem de onde estão e muito menos de como devem agir não só para a própria preservação, mas para uma convivência no mínimo pacífica e harmoniosa com os semelhantes.

Por outro lado, já tive animais (cães e gatos) que agiram ou reagiram ao meu contato de forma a que me levasse a pelo menos desconfiar que fosse reação não instintiva. Mostraram-se muito mais inteligentes do que determinadas pessoas com as quais tive a desventura de cruzar. Seria inteligência, de fato? Entenderiam quem sou e que minhas intenções para com eles não eram hostis, mas de afeto e proteção? Como saber? Entendo que a resposta deva ser afirmativa. Sim, esses cães e gatos, para citar apenas eles, têm, no meu entender, certa parcela de “inteligência”, posto que primária e pouco desenvolvida.
    
Somos inteligentes quando entendemos, mesmo que minimamente, quem somos, onde estamos e a que viemos. Quando compreendemos, desenvolvemos e utilizamos habilidades naturais e peculiares, como o manejo das mãos e dos dedos, por exemplo, que outros animais não têm. Ou como a capacidade de raciocínio e de abstração. Ou como a iniciativa de criar, desde o necessário para nossa sobrevivência e conforto, a obras de arte, para nosso deleite e dos que nos cercam. E vai por aí afora. Certo grau de inteligência, portanto, é indispensável. Ela varia de pessoa para pessoa. Uns são muito inteligentes, beirando a genialidade. Outros, por seu turno... são, digamos, mais obtusos.

Outra característica necessária para que possamos nos dar bem na vida, são os sentimentos, ou, mais especificamente, sua qualidade e natureza. Refiro-me, aqui, aos benignos, aos sadios, aos construtivos, como o amor, a amizade, a bondade, a solidariedade etc.etc.etc., que devemos cultivar ao máximo. Em contrapartida, temos que controlar e, se possível, eliminar os negativos, como o ódio, a cobiça, a inveja, a agressividade etc.etc.etc. que tendem, em grau extremo, a nos destruir. São os sentimentos bons e sadios que nos aproximam dos semelhantes, numa troca mútua e positiva de emoções.

Finalmente, a terceira característica que considero essencial no homem e um dos paradigmas da racionalidade é a vontade. É ela que nos mobiliza à ação. Podemos, é verdade, sobreviver sem a inteligência. Mas então andaremos às cegas pelo mundo, sem entender o que nos fazem e o que fazemos. Sem sentimentos, não teremos motivação para fazer o que quer que seja, a não ser garantir, e apenas instintivamente, nossa sobrevivência. E sem vontade... não passaremos de parasitas vivendo às custas alheias. O médico argentino, naturalizado brasileiro, Idel Becker, completa esse raciocínio e resume, em poucas palavras, o que tentei expressar em texto tão longo, ao ponderar: “Sem inteligência, o homem é cego; sem sentimento, inerte; sem vontade, escravo”. E não é verdade?!!

Boa leitura.


O Editor

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Um comentário:

  1. Ainda que as tenhamos, algumas vezes agimos como cegos, inertes e escravos, especialmente quando amamos e não somos correspondidos.

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