Sherazade
* Por
Eduardo Oliveira Freire
Nasceu no subúrbio e
teve este nome, porque sua mãe sonhou com terras estrangeiras e acordou com ele
no pensamento.
Desde menina, Sherazade
encantava a todos com suas histórias imaginativas. Ela tinha fome de viver, aprender e viajava
através dos livros, mas, tinha a sensação que já conhecia muitos lugares, como
se tivesse vivido em outras eras.
Quando se tornou
mulher, a família dizia que ela precisava casar e ter filhos, do contrário
seria uma solteirona seca e mal amada. Sherazade teve com medo e para agradar a
mãe, casou.
O marido não gostava
das histórias dela e tinha ciúmes dos príncipes que viviam na imaginação da
esposa. Sempre criticava suas histórias, dizendo que eram chatas. Já os filhos
adoravam e pediam para que ela escrevesse. Sherazade as produzia e escondia no
armário.
Um dia, ao abrir o
armário sentiu o vento e a areia no rosto. Sua alma ficou revolta. Fez as malas
e pegou os manuscritos que produzira por anos e foi embora de casa.
Sherazade sentiu o peso
do mundo, mas resistiu. Queria ser uma contadora de histórias e viajou para
todos os cantos as narrando. Passou muita necessidade, porém estava extasiada
por fazer o que mais gostava.
Todos paravam para
ouvi-la e davam força para que publicasse seus livros. Até que uma jornalista e
editora resolveu ajudá-la. Sherazade
produzia cada vez mais.
Anos se passaram,
ela ainda não tinha se reconciliado com a família. Os
filhos não a perdoavam pelo abandono, um pai pode ser perdoado por isso, mas a
mãe, nunca. Escrevia cartas e mais
cartas que nunca foram respondidas.
Uma vez, um dos filhos
foi visitá-la e ela adorou conhecer os netos e contou várias histórias. Morreu
feliz. Quando entraram no quarto, viram o vento balançar as cortinas e a areia
cobri-la.
* Formado em Ciências Sociais, especialização
em Jornalismo cultural e aspirante a escritor - http://cronicas-ideias.blogspot.com.br/
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