sábado, 20 de setembro de 2014

Minha fada


* Por Urda Alice Klueger

(Para D.Lydia Scheffler dos Santos)

Então, como num sonho, ontem eu estive de verdade no teu jardim. Não faz tanto tempo assim que o deixaste; aquelas roseiras, com certeza, ainda foram plantadas pelas tuas mãos. Estão lá, um pouco órfãs, porque faz tempo que não apareces, e criam rosas e rosas como quem prepara uma festa, assim na expectativa de que irás voltar – como que milagrosamente, eu recebi nas mãos e no coração o presente de algumas daquelas flores, duas rosas amarelinho-claras, um ramalhete de rosinhas que não são nem vermelhas e nem laranja – e de lá saí levitando com a leveza daquele tesouro jamais imaginado, o de ver, o de estar e o de ganhar aquelas flores que provêm de ti!

Não via a hora de chegar em casa para poder beijar aquelas rosas com o respeito que elas requerem, com a leveza que elas precisam, com o amor que elas suscitam. Beijei-as ontem, beijei-as hoje, fotografei-as, amei-as, estou a amá-las neste instante, aqui perto de mim, na calidez de quase primavera da minha varanda – penso que por toda a vida estarei a amá-las, mesmo quando o tempo passar e delas só restarem as pétalas secas e as fotografias.       

Uma vez, faz muito tempo, foi teu aniversário e eu ganhei um botão vermelho do teu buquê – era um dia de sol e de movimento e a vida era de tal intensidade que era difícil de suportar - passou-se todo este tempo, aquele botão vermelho ficou negro, secou, mas para mim ele continua igual, fresco e colorido, e jamais me abandonou.

Uma vez, também, um pouco de ti misturou-se comigo de uma forma impossível de desfazer e criou este elo que é para sempre, não importa se neste planeta ou em outras dimensões. Contigo aprendi que se pode ter mais de uma mãe porque tu és uma delas, e é assim que te chamo dentro do meu peito, mãezinha querida, pois não há como chamar-te de outro jeito pois é assim que eu te sinto, pois é assim que tu és, tanto para mim quanto para estas rosas que se embalançam na brisa tépida da minha varanda nesta quase primavera, assim como és mãe para tantas pessoas e também para aquelas plantas que estão lá te esperando – ah! minha fada, quanta magia esparges com a tua varinha de condão, com tua ternura sem fim, com tua infinita habilidade de amar!

E lá no teu jardim as tuas roseiras te esperam, mas sei que ao menos por hoje elas continuarão tecendo novos botões para te esperar, pois hoje, nesta noite de quase primavera, sei que estás aqui na minha varanda, e que posso tocar tuas mãos de seda, acariciar-te os cabelos de delicado cristal, e receber aquele teu abraço que foi o primeiro que aprendi na minha vida, visto que a doçura dos abraços demorou a chegar até mim.

Minha fada, minha princesa, minha querida, inesquecível esta noite aqui na minha varanda com as rosas das tuas roseiras!

Blumenau, 13 de Setembro de 2014

* Escritora de Blumenau/SC, historiadora e doutoranda em Geografia pela UFPR
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Um comentário:

  1. Que prosa poética maravilhosa, Urda! Queria ter podido escrever essa maravilha para homenagear a minha avó, outra cultivadora de amor e rosas.

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