segunda-feira, 22 de setembro de 2014

A primeira vez é inesquecível

A origem de determinadas ações nossas têm muita importância histórica caso, claro, estas se tornem relevantes em nossa biografia e mereçamos ser biografados. Estranhamente, no entanto, esse é um aspecto de que quase sempre nos descuidamos, o que deixa, desnecessariamente, muita coisa no ar. Dia desses um leitor questionou-me a propósito de como e quando comecei a escrever crônicas, o que, com o tempo, se tornou hábito, algo trivial e automático na minha rotina diária, como a higiene pessoal, o café da manhã, as refeições etc.etc.etc. Como tenho obsessão por organização, recorri aos meus diários e lá encontrei essa “origem”. Se é importante ou não, não posso dizer. Deve ser, caso contrário ninguém me questionaria a respeito.

Antes de tudo, até por questão de justiça, devo mencionar os responsáveis por eu haver me tornado cronista (se bom ou mau, deixo o julgamento por conta dos únicos habilitados a tal: os leitores). Tudo começou em 1993, aqui em Campinas, onde resido há exatos cinqüenta anos. Quem me convenceu a aceitar esse desafio foi o casal proprietário da “Folha do Taquaral”, Osmar e Eliana Saboto. Para melhor entendimento, faz-se necessário que eu trate, mesmo que em poucas palavras, desse veículo de comunicação. Trata-se de um jornal de bairro, de circulação gratuita, mantido (com dificuldades, como qualquer empreendimento do gênero no País) exclusivamente por anunciantes. Neste mês de setembro, completa 23 anos de vitoriosa trajetória, com mais de 400 edições já produzidas e alguns milhões de exemplares distribuídos, entregues, em mãos, rigorosamente de graça, a leitores de 29 bairros de Campinas. Uma façanha, sem dúvida, em se tratando de Brasil.

A “Folha do Taquaral”, entre outras tantas coisas boas que faz em benefício de Campinas, é uma espécie de escola prática de jornalismo. Muitos jornalistas, que hoje brilham em grandes jornais (quer da cidade, quer de outras partes do País), passaram por sua redação. Como se vê, não é pouca coisa;. Muito pelo contrário. O Taquaral é um dos bairros mais tradicionais desta metrópole interiorana, de mais de um milhão de habitantes. Diz-se (não tenho certeza) que foi, num passado remoto, parte de uma fazenda pertencente à família do fundador de Campinas, o bandeirante Francisco Barreto Leme. Tem, portanto, além de relevância urbana, a histórica para a cidade.

Quando aceitei o desafio de ser cronista do jornal, este já circulava há dois anos. Minha experiência toda até então era puramente jornalística. As raras incursões literárias que havia feito eram todas inéditas. Já tinha gavetas e mais gavetas repletas de contos e de poemas, que não me atrevia, contudo, a mostrar para ninguém, nem mesmo á minha mulher. Mas nunca havia escrito uma única e reles crônica. Jamais havia tentado nada do tipo, embora tivesse algumas prateleiras da minha biblioteca repletas de livros do gênero, além de centenas de recortes de jornais em minha hemeroteca.

Na oportunidade, é certo, eu já tinha duas décadas de experiência em jornalismo, tanto como editor, quanto, e principalmente, como comentarista de política internacional. Comecei a escrever artigos sobre o tema em outro jornal de bairro, a “Folha de Barão”, do Distrito de Barão Geraldo. Daí, evoluí para o Diário do Povo, onde, por quatro anos consecutivos, publiquei, diariamente, meus comentários sobre o que se passava no mundo. Mas minha experiência maior nesse campo se deu no Correio Popular. Ali, fui comentarista de política internacional, diário, por quinze anos ininterruptos. Mas crônicas, até então... jamais havia escrito.

Comecei a escrever as primeiras, timidamente, com a insegurança característica dos que fazem algo pela primeira vez, quando a Folha do Taquaral completava o seu segundo ano. Baita responsabilidade!  À medida, porém, que recebia manifestações favoráveis de leitores (além de incentivos constantes do Osmar e da Eliana), minha confiança foi crescendo. E a qualidade, óbvio, foi melhorando. Afinal a prática (salvo exceções) tende a conduzir à perfeição. Não tardou para que a crônica se tornasse o que é hoje, mais do que nunca: rotina em minha vida. Algo prazeroso e imprescindível. Daí para um livro no gênero, foi um pulo, ou um piscar de olhos.

Permaneci como cronista da “Folha do Taquaral” por quinze memoráveis e felizes anos, do que muito me orgulho e me envaideço. Deixei de ser colaborador do jornal há seis anos, mas somente em decorrência de força maior, ou seja, de inúmeros outros compromissos profissionais que assumi, e  que  não me permitiram conciliar horários. Mas esse veículo de comunicação incorporou-se definitivamente à minha história pessoal.

Com a crônica que escrevi hoje, já são 2.755 produzidas, a maioria publicadas neste espaço nobre da internet. Mas ainda tenho (e sempre terei) nítidas, na mente, aquelas primeiras, escritas com insegurança e cautela, temendo cair, a qualquer momento, em ridículo, caso algum texto não agradasse aos leitores. Na ocasião, o “sonho” de me tornar escritor era algo que eu guardava ciosamente apenas comigo, sem revelar a ninguém. E não passava rigorosamente só disso. Ou seja, de remoto sonho. Se hoje caminho com desembaraço e confiança nesta pantanosa trilha da Literatura, cheia de armadilhas de toda a sorte, devo muito (se não tudo, pelo menos no que se refere a esse gênero literário) à “Folha do Taquaral” e aos seus idealistas proprietários, Osmar e Eliana Saboto. Afinal, como se diz por aí, “da primeira vez, a gente nunca esquece”. Ou... não deveria esquecer.

Boa leitura.

O Editor

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Um comentário:

  1. Mas você se esqueceu como foi. Precisou recorrer a anotações. Não foi impactante por se tratar de função semelhante ao que já fazia.

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