STF: querendo aparecer
* Por José Calvino
- Me tire daqui, eu tenho direito a prisão especial. Quero a presença do
meu advogado, urgente! Os meus direitos estão sendo desrespeitados – disse
revoltado um preso de justiça no Regimento de Cavalaria Dias Cardoso da Polícia
Militar.
- Preso é preso, já viu preso cheio de direito? – repreendeu o sentinela
com o mosquetão nos ombros.
O major sub comandante do Regimento, tomando conhecimento, ordenou ao
oficial de dia a retirada do preso do xadrez e o uso do telefone da
guarda (extensão telefônica). Perfilando-se e dando continência, o oficial deu
meia volta e retirou-se do recinto do comando. O major manda o sargento
comandante da guarda providenciar a placa já escrito PRISÃO ESPECIAL, para
casos de reclamações de advogados. Foi chamado às pressas o coronel comandante
por ser formado em direito para atender o advogado que estava irritado
com o tratamento dado ao seu constituinte.
- Coronel, o meu constituinte é médico e tem direito a prisão especial.
- Vamos lá, doutor! – disse calmamente o coronel comandante.
Mostrando a placa ao advogado daquela “prisão especial”, o mesmo já mais
calmo resolveu solicitar a transferência do médico para um presídio comum. Até
porque, nos quartéis da Polícia Militar é proibida visita conjugal, horrível
até para os próprios militares. Naquele Esquadrão de Cavalaria houve uma
fuga, muito criticada por sinal, do engenheiro Zaratine, também do
ex-major José Ferreira. As críticas eram dirigidas tanto à Polícia Militar
quanto ao Governo de então.
A frase que dá o título a esta crônica é óbvia. A prisão dos condenados
no processo do Mensalão na véspera do feriado de 15 de novembro, proclamação da
república? Isso, a meu ver, é querer aparecer, só um imbecil que não tem
consciência do que se mostra pela imprensa escrita, falada e televisada. O STF
já vinha sendo visto pelo público televisivo como uma casa de espetáculos no
período do julgamento.
Os presos do semiaberto dormem em colchões no chão, não têm privacidade
nas celas, mas um buraco apelidado de “boi”, no qual se colocava um pote de
plástico com areia para não sair o mal cheiro. Sentindo-se humilhado e, para
não fazer as necessidades fisiológicas no “boi”, o médico por ter problemas
cardíacos e formação de nível superior, foi transferido para a enfermaria
do presídio, sempre algemado em cada deslocamento e, lá, veio a óbito. Como
existem muitos presos com prisões ilegais, cadê os direitos humanos? Eles,
coitados, não têm um poder aquisitivo para se defender contratando advogado,
pois os de ofício do Estado não vão à cadeia impetrar “habeas corpus”
questionáveis. A que ponto chegou este país!
O eminente professor e advogado Roque de Brito Alves, em seu artigo “A
prisão e outros temas”, publicado no Diário de Pernambuco, 20/11/13, adianta:
“Enquanto as estatísticas ultimamente publicadas revelam a situação
lamentável do nosso sistema penitenciário, a começar pela superpopulação
carcerária (cerca de 520 mil enquanto somente comportaria 380 mil presos),
inclusive com o número expressivo de presos provisórios (cerca de 38%), ainda
não julgados e detidos por mais tempo do que permite a lei, com aproximação do
ano eleitoral de 2014 voltam senadores e deputados ao debate de projetos que
reduzem a maioridade penal para 16 anos (...). Enquanto no Brasil em 2012 foram
praticados mais de 47 mil homicídios e a sua população carcerária era de mais
de 520 mil presos, na Dinamarca foram praticados somente 3 (três) delitos de
homicídio e a Suécia agora em novembro de 2013 ‘fechou’, desativou 3 (três)
grandes penitenciárias por falta de criminosos... fatos que por si mesmos
dispensam qualquer comentário...”.
*Escritor, poeta e teatrólogo. Blog Fiteiro
Cultural – HTTP://josecalvino.blogspot.com/
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