Para uma biografia de Joaquim Barbosa
* Por
Urariano Mota
No livro da vida de
Joaquim Barbosa, que um dia ainda será escrito, deverá aparecer em muitas
páginas, com merecido destaque, a excepcional sobrevivência do agora ministro e
presidente do STF. O futuro biógrafo, no entanto, deverá usar um filtro, um bom
poder de relação entre fatos na aparência desconexos, que se perdem nos
currículos de Joaquim Barbosa com uma rara esperteza
montados.
Assim, por exemplo, não
lhe bastará repetir o que é universal na Wikipédia, pois a enciclopédia online
apenas repete o que é público e sabido. Nela se registra que Joaquim
Benedito Barbosa Gomes nasceu em Paracatu, Minas Gerais, em 7 de outubro de
1954. E que aos 16 anos viajou sozinho para Brasília, onde arranjou emprego na
gráfica do Correio Braziliense, e terminou o segundo grau, sempre estudando em
colégio público. Bravo, sempre em colégio público. Depois obteve seu
bacharelado em Direito na Universidade de Brasília, onde, em seguida,
conquistou o mestrado em Direito do Estado. Mais uma vez, bravo, exemplar,
dizemos os leitores.
Ao que mais adiante se
completa: Joaquim Barbosa foi Oficial de Chancelaria do Ministério das Relações
Exteriores, de 1976 a1979, tendo servido na Embaixada do Brasil em Helsinki,
Finlândia, e depois, teria deixado o trabalho no Ministério para se
tornar advogado do Serpro, de 1979 a 1984. Mas já aqui se impõe uma suspensão.
A wikipédia estaria mesmo certa? É uma massa de dados que perturba, pela
ascensão jubilosa e mistura de um burocrata ao mérito. No entanto é um pouco
antes, que o futuro biógrafo chegará ao mais importante.
Acompanhem, por favor,
relacionem 2 coisas. Observem que não batem duas informações. Há um lapso
acima, da Universidade de Brasília para o primeiro emprego público. Em 1976,
aos 22 anos, pois Joaquim Barbosa nasceu em 1954, ele se torna Oficial de
Chancelaria no Ministério das Relações Exteriores. Muito bem, bravo. Mas o
currículo Lattes na universidade, com dados fornecidos pelo próprio hoje
ministro Joaquim Barbosa, informa que ele “possui graduação em Direito pela
Universidade de Brasília (1979)”. O que isso significa?
Simples. Três anos
antes de se graduar em Direito, o futuro presidente do STF já tomava posse como
Oficial de Chancelaria, um cargo que exige nível superior, conforme se descreve
aqui, no site do Ministério das Relações Exteriores Clique aqui : “Os integrantes da Carreira de Oficial de Chancelaria são
servidores de nível de formação superior, capacitados profissionalmente como
agentes do Ministério das Relações Exteriores, no Brasil e no exterior”.
Como pôde o ministro
ser Oficial de Chancelaria sem possuir nível superior? Das duas uma: ou mudou a
exigência legal para o importante cargo de carreira, que representa o Brasil no
exterior, ou então o ministro entrou como Auxiliar de Chancelaria, que exige
instrução de nível médio. E nesse último caso, ele estaria mentindo, no currículo
publicado em seu perfil no STF ou na posse no Ministério das Relações
Exteriores.
Há outros pontos ainda
obscuros na biografia do ministro Joaquim Barbosa. Por exemplo, o espancamento
que ele fez à esposa. A gente não escreve estas coisas com prazer, mas faz
parte do ofício lembrar que em setembro de 1986, sua ex-mulher Marileuza
Francisco de Andrade registrou boletim de ocorrência em que acusou
Barbosa de tê-la espancado. Bater em mulher está longe de ser um modelo de
ética, convenhamos. Aliás, nesse capítulo o ministro é um homem exemplar, pela
negação.
Há pouco tempo, comprou
um apartamento em Miami, nos Estados Unidos, usando uma empresa que abriu
para obter benefícios fiscais. No mercado, o valor estimado do imóvel
fica entre R$ 546 mil e R$ 1 milhão. Ao criar uma empresa para a transação,
Joaquim Barbosa diminuiu o custo dos impostos que seus herdeiros terão
que recolher para transferir o imóvel após sua morte.
Mais: o grupo Tom
Brasil já empregou Felipe Barbosa, filho de Joaquim Barbosa, para assessor de
Imprensa na casa de shows Vivo Rio, em 2010. Nada demais, não fosse um forte
inconveniente: a Tom Brasil é, ou deveria ter sido, investigada no
inquérito 2474/STF, do chamado "mensalão", cujo relator é
Joaquim Barbosa.
Por último, no limite deste
espaço, o futuro biógrafo deverá registrar um caso de camaradagem entre o
presidente do STF e o apresentador de tevê Luciano Huck. Luciano pediu a
Joaquim Barbosa a gravação de uma mensagem de aniversário para Hermes Huck, pai
de Luciano. Simpático, amigão, Joaquim gravou um vídeo felicitando o
sogro de Angélica. Lindo, queremos dizer: antes do vídeo, Felipe, o filho de
Joaquim Barbosa, havia sido contratado para integrar a equipe do “Caldeirão do
Huck”.
O futuro biógrafo não
poderá esquecer dados tão edificantes.
*
Escritor, jornalista, colaborador do Observatório da Imprensa, membro da
redação de La Insignia, na Espanha. Publicou o romance “Os Corações
Futuristas”, cuja paisagem é a ditadura Médici e “Soledad no Recife”. Tem inédito “O Caso Dom Vital”, uma sátira ao
ensino em colégios brasileiros.
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