José Soares, o poeta repórter
* Por Clóvis Campêlo
José Francisco Soares nasceu na cidade de Alagoa Grande, na Paraíba, em 5 de janeiro de 1914.
Segundo Marcelo Soares,
seu filho, ainda menino, o poeta se encantou com os desafios entre
violeiros-repentistas, emboladores de coco e com os folhetos de feira que os
poetas declamavam.
Em 1928, aos 14 anos,
publicou seu primeiro folheto descrevendo o Brasil através dos seus estados.
Para sobreviver, fez
biscates como agricultor e almocreve e, em 1934, foi para o Rio de Janeiro
trabalhar como pedreiro, sem jamais deixar de publicar suas obras.
Voltou ao Recife em 1940, quando montou uma banca de folhetos no oitão do
Mercado de São José, onde vendia suas obras e as de outros poetas.
Nos anos 1960,
tornou-se proprietário da Gráfica Tricolor, no bairro recifense de Casa
Amarela, que manteve por três anos, passando a publicar na Encadernográfica
Capibaribe, no bairro do Arruda.
Entre 1979 e 1980
assumiu, por pouco tempo, a direção da Gráfica da Casa das Crianças de Olinda,
onde publicou e editou folhetos de sua autoria e de outros poetas. Seus
principais folhetos são A renúncia de Jânio Quadros (60 mil exemplares
vendidos); O assassinato do presidente Kennedy (45 mil exemplares), A
lamentável morte do deputado Alcides Teixeira (55 mil exemplares); A lamentável
morte do cantor Evaldo Braga (65 mil folhetos) e A morte do bispo de Garanhuns,
Dom Expedito Lopes, que vendeu mais de 100 mil exemplares só em Pernambuco.
Seus temas recorrentes
variam entre o gracejo, o futebol, os folhetos de encomenda, além dos folhetos
de época e de acontecimentos políticos e circunstanciais, que o levaram a se
autodenominar poeta-repórter.
Indagado, certa vez,
sobre quantos folhetos havia escrito até então, respondeu, com o sorriso que o
caracterizava: “Trezentos e dez títulos”. E completou: “Duzentos e oitenta
publicados. Mas espero poder escrever ainda outro tanto”.
Não pôde. A morte
antecipou-se a esse feito. Do que escreveu ficou evidente a sua vocação de
comunicador popular. Ainda segundo Marcelo, uma das lembranças deixadas pelo
poeta popular foi a de, todas as noites, assistir aos noticiários da televisão,
tendo sempre lápis e papel pautado à mão para anotar os temas que exploraria
depois.
Torcedor convicto do Santa Cruz, foi testemunha ocular da boa fase vivida pelo
clube pernambucano nos anos 60 e 70, registrando com versos os feitos do Mais
Querido, como na série Pedi um pente e me deram um penta, escrita para
comemorar o pentacampeonato pernambucano de futebol conquistado de 1969 a 1973,
e no folheto Chegou o Santa Cruz, a máquina de fazer gols, escrito para
comemorar a vitoriosa excursão do Santinha ao Oriente Médio e Europa, em 1979,
e que abaixo transcrevemos.
José Soares, o poeta
repórter, faleceu em Timbaúba, no dia 9 de janeiro de 1981.
CHEGOU O SANTA CRUZ, A MÁQUINA DE FAZER GOLS
CHEGOU O SANTA CRUZ, A MÁQUINA DE FAZER GOLS
“O Santa Cruz no Oriente
bancava
e pintava o sete
quem
joga a bola quadrada
não
entra que se derrete
em
todo Oriente Médio
o
Santa virou vedete.
Joel sacudia a bola
na
cabeça de Pedrinho
Pedrinho
deitava a pelota
morta
nos pés de Betinho
que
jogava na esquerda
para
o olé de Joãozinho.
Carlos Alberto Barbosa
era
o dono da pelota
plantou-se
na sua área
não
saiu da sua rota
driblava
com a direita
chutava
com a canhota.
Volnei pintava bolinha
naquela
defesa fula
Paranhos
roçava estrovenga
do
mesmo jeito que Lula
Alfredo
Santos também
só
batia na micula.
Betinho deitava e rolava
dava
olé que nunca vi
a
torcida do Oriente
angariou
para si
tornou-se
a maior vedete
do
Mais Querido daqui.
Carlos Roberto deitava
e
comandava o olé
vestindo
a camisa 10
só
dava bola no pé
muita
gente se enganava
pensando
que era Pelé.
Jadir com a camisa 7
pegava
a maior pechincha
dava
drible e banho de cuia
naquela
defesa micha
muitos
gringos perguntavam
se
era Mané Garrincha.
Neinha dentro da área
dançava
num lá e cá
empolgou
de uma maneira
que
a torcida de lá
ficou
dizendo que ele
é
um segundo Vavá”.
* Poeta,
jornalista e radialista
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