sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Proclamação da República

* Por Clóvis Campêlo

Os mais críticos e pessimistas dirão que foi mais uma quartelada (ou a primeira) acontecida na história do Brasil. Os mais amenos, dirão que foi um levante político-militar acontecido em 1889. Segundo os historiadores, o evento, presenciado por poucos e nem mesmo notado pela maioria da população, aconteceu na cidade do Rio de Janeiro, na Praça da Aclamação (atual Praça da República), quando um grupo de militares comandados pelo marechal Deodoro da Fonseca, destituiu o imperador D. Pedro II e assumiu o poder no país.

Na verdade, naquela altura dos acontecimentos, o governo monarquista desagradava a quase todos os grupos que tinham força política e poder de decisão sobre os rumos da nação.

Os conservadores questionavam os atritos do imperador, homem ligado à ciência e aos conceitos científicos, com a Igreja Católica. Os grandes fazendeiros, não perdoavam o Império pela abolição da escravatura, ocorrida um ano antes, sem a indenização dos proprietários dos escravos.

Por outro lado, os progressistas questionavam a demora da monarquia em abolir a escravatura e a ausência de iniciativas desenvolvimentistas, entre as quais o direito à educação para todas as classes sociais. Era alto o índice de analfabetismo no país e a miséria grassava entre os menos afortunados.

Segundo os entendidos no assunto, Dom Pedro II era querido e admirado pelo povo. O mesmo não acontecia, porém, com o restante da corte. Para complicar ainda mais a situação, o imperador não tinha filhos do sexo masculino e, em caso da sua morte, assumiria o trono a Princesa Isabel, casada com o francês Conde D'Eu, homem arrogante e impopular, dono de vários cortiços no Rio de Janeiro, onde explorava a gente pobre com alugueis extorsivos.

Também contribuiu para o desgaste do imperador e do governo monarquista, o crescimento da nossa dívida externa que, em menos de vinte anos, de 1871 a 1889, aumentou em quase sete vezes o seu tamanho, gerando uma inflação anual de 1,75%.

No entanto, segundo vários dos textos por nós consultados, foi a insatisfação da classe militar, que se considerava sem vez e sem voz no país, que levou o acontecimento a cabo. Apesar de ser monarquista e da sua fidelidade ao imperador, o marechal Manuel Deodoro da Fonseca terminou por aceitar os argumentos apresentados por seus companheiros de farda. Comandando algumas centenas de soldados pelas ruas do Rio de Janeiro, montado em um cavalo que lhe fora oferecido no antigo Campo de Santana, proclamou a República em alto e bom tom. Consta que depois do ato histórico, teria apeado do cavalo e voltado tranquilamente para a sua residência.

Consta também que D. Pedro II ao tomar conhecimento da amplitude dos fatos, que até então lhe havia sido convenientemente ocultado, decidiu não oferecer resistência, capitulando.


* Poeta, jornalista e radialista

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