Jornalismo
é paixão
Hoje, 7 de abril, é o Dia do Jornalista, profissão
que tenho o privilégio e a honra de exercer há já mais de 40 anos, o que me
empenho em fazer com amor, mas, sobretudo, com responsabilidade. Peço licença
ao leitor para reproduzir, a título de editorial, o prólogo do meu livro de
ensaios “Jornalismo é paixão” (inédito), por considerá-lo pertinente para a
ocasião.
“O jornalismo, para aqueles que têm absoluta certeza
de que são dotados dessa vocação é, acima de tudo, um sacerdócio. Portanto, é
muito mais do que mera profissão, do que apenas uma fonte de recursos materiais
para o seu sustento e o da família. É fruto do talento. É missão de vida. Deve
ser sempre exercido com absoluta responsabilidade, máxima competência, garra,
e, sobretudo, paixão.
O jornalista – quer seja veterano, quer esteja em
vias de assumir seu primeiro posto na carreira – precisa, a todo e qualquer
instante, ter em mente as necessidades e desejos do alvo do seu trabalho: o
destinatário das notícias que colhe e transmite, no caso o leitor (quando a
mídia em que se atua é jornal ou revista), o ouvinte ou o telespectador. O
público é o seu verdadeiro "patrão", não aquele que o emprega. É com
ele que o profissional do jornalismo assume um implícito e sagrado compromisso
de honra.
O ensaísta Ernest Renan afirma que "o sinal da
verdadeira vocação é a impossibilidade de desertar dela". E essa
"fuga" é impossível mesmo. O jornalista vocacionado não consegue
escapar do seu destino. Mesmo quando afastado, por qualquer razão, da
atividade, age como se estivesse nessa missão. Organiza arquivos, cultiva
fontes, lê todos os jornais e revistas que lhe caem nas mãos, aperfeiçoa o uso
da linguagem para tornar seu texto sempre correto, simples, claro, limpo e
acessível a todo o tipo de leitor e se mantém informado sobre o que se passa na
sua cidade, no seu Estado, no seu país e no mundo. O jornalismo está no seu sangue! Gosta dele!
Não é um trabalho, mas algo prazeroso e
bom.
Quem tem paixão pela profissão, (e os jornalistas
enfocados neste livro têm), está ciente do que é indispensável para o seu
exercício de maneira construtiva e sadia. A verdade, por exemplo, tem que ser
colocada em um pedestal, acima de todo e qualquer interesse, e ser buscada com
persistência, com coragem e até de forma obsessiva, em toda e qualquer ocasião.
Mas é preciso, antes de tudo, que o jornalismo seja exercido com ética.
O jornalista tem que ter em mente que os personagens
das histórias que traz a público –
trágicas ou cômicas, coletivas ou individuais, envolvendo ora atos
sublimes e nobres, ora crimes escabrosos e hediondos (estes, infelizmente, em
maior quantidade) – não são imaginários, como os criados pelos escritores de
ficção: romancistas, novelistas ou roteiristas de cinema. Envolvem seres reais,
de carne, osso, sangue e vísceras, com reações e emoções contraditórias, com
sonhos, recalques, desvios, alegrias e decepções. Tem que se conscientizar que
está lidando com "pessoas",
não com sombras ou conceitos.
Deve ter em mente que a "matéria-prima" do
seu trabalho é o ser humano, com suas deficiências, virtudes, taras, grandezas,
interesses e mesquinharias. Não pode
nunca se esquecer de que, a mais leve insinuação, por mínima que seja, sobre
desvios de conduta de alguém, sua moral ou sua forma de pensar, trará conseqüências, muitas vezes
irreversíveis, para esse indivíduo. Pode destruí-lo. Daí a necessidade do
profissional de jornalismo (repórter, editor, comentarista, etc.) ser justo,
imparcial e honesto no que faz.
Não precisa,
(e nem deve), "carregar nas tintas" para obter efeitos e assim
conseguir manchetes que impressionem e atraiam os leitores (ou ouvintes ou
telespectadores). E nem dissimular os grandes dramas que se desenrolam no
cotidiano, temendo chocar o público-alvo. O jornalismo é (ou deve ser) um
espelho em que a sociedade se mire. Se a imagem que reflete é feia, não é sua
culpa. A realidade é que muitas vezes é escabrosa e aterrorizante. Ou, em raras
ocasiões, sublime e surpreendente.
O ingrediente básico para um jornalista obter a
plena realização profissional, no entanto, é a paixão. É a absoluta convicção
de estar fazendo o que gosta e o que melhor sabe. É sempre agir no sentido do
permanente aperfeiçoamento, estudando, treinando, desenvolvendo técnicas,
apurando a linguagem e se informando obsessivamente, sem cessar, não se
deixando levar por uma estúpida e enganadora auto-suficiência, pensando que
tudo sabe. É jamais achar que não tem mais nada para aprender. É ser humilde,
determinado, corajoso e justo. É trabalhar, trabalhar e trabalhar, sem nunca
esperar resultados de qualquer espécie (principalmente materiais), apenas por
amor àquilo que faz.
A esse propósito, Machado de Assis observou, na
crônica "O Espelho", publicada na "Gazeta de Notícias" do
Rio de Janeiro, em 11 de setembro de 1859: "Fazer do talento uma máquina,
e uma máquina de obra grosseira, movida pelas probabilidades financeiras do
resultado, é perder a dignidade do talento e o pudor da consciência".
Exercer o jornalismo com paixão implica em
disponibilidade, entusiasmo, desprendimento pessoal e garra. É colocar o
interesse público acima de qualquer coisa. É nunca esperar nenhum tipo de
vantagem do exercício dessa perigosa profissão (dezenas de jornalistas são
assassinados, anualmente, no mundo todo, a mando de poderosos que se julgam
prejudicados pelo seu trabalho), nem financeiro e nem de prestígio pessoal. É
fazer as coisas porque elas precisam ser feitas. É estar disposto, se necessário, a sacrificar
descanso, lazer, família, amizades, posição social e, em alguns casos, até a vida, no exercício
dessa sagrada missão.
Não se interprete, portanto, o termo
"paixão" no sentido negativo que os dicionaristas também lhe atribuem. Ou seja, o do sectarismo
exacerbado, que leve a pessoa a se aferrar, cegamente, a determinada ideologia
ou crença, seja de que natureza for, e ficar tão obcecada, a ponto de perder o
senso crítico e a noção básica e elementar do certo e do errado, ou que a faça
distorcer, posto que inconscientemente, os fatos com os quais trabalha.
Parodiando o pensador Jaime Balmés, o jornalista
apaixonado pelo que faz, e verdadeiramente vocacionado, é aquele que tem
"cabeça de gelo, coração de fogo e braços de ferro". Possui frieza no
julgamento, paixão na concepção das matérias e força e audácia na sua
concretização. É dotado de um amor ardente, irrestrito e incontido pelo que
faz. Tem o mais vivo entusiasmo pela profissão, sequer encarando-a como tal,
mas como missão de vida, como realização pessoal, como sacerdócio.
A ação – fundamentada na disciplina, no conhecimento
de causa e na perseverança – é o maior, senão o único antídoto contra as crises
que assolam pessoas ou povos. Só se caminha para a frente quando há disposição
e coragem e quando se persiste na persistência. É mais fácil, embora
improdutivo, cruzar os braços diante das dificuldades e limitar-se a criticar
ou a lamentar.
Difícil, posto que necessário, é acreditar, é
construir, é manter, é curar, é ensinar, é alegrar, é conservar, é transmitir e
é sobretudo agir. "Só é útil o conhecimento que nos faz melhores",
teria dito Sócrates, de acordo com o testemunho de seu discípulo Platão. Esta é
a filosofia que norteia o jornalista que acredita no que faz.
É trazer ao público o "outro lado" da
realidade, que por incompreensível distorção de alguns meios de comunicação, é
quase sempre relegado ao esquecimento ou a um plano secundário. Ou seja, o dos
que constróem, que sustentam, que criam, que curam, que ensinam e que mantêm o
mundo funcionando dentro da normalidade. Muitos editores garantem que notícias
positivas não vendem jornais e revistas. Estão errados! São derrotistas! São
sensacionalistas! Fazem o antijornalismo! A realidade tem múltiplas faces.
Enfatizar para o público apenas um desses lados, o negativo e escabroso, é
também uma forma de alienação. É desonestidade profissional. É desinformação!
O jornalista honesto e apaixonado pela profissão, ao
mesmo tempo em que retrata as distorções e aberrações do convívio social,
focaliza a ação e a motivação, por exemplo, do médico, do gari, do professor,
do caminhoneiro, do comerciante, do jardineiro, do pesquisador, do feirante, do
ator, do operário, do engenheiro, do músico, do próprio jornalista, da
enfermeira, do físico nuclear, do pedreiro, etc. Enfatiza a atuação daqueles
profissionais (não importa o status de que gozem), cuja presença quase nunca é notada,
tamanha a assiduidade da sua ação, mas sem os quais a vida se tornaria difícil,
senão impossível. É isento, justo, correto, preciso e determinado. Exerce,
sobretudo, ‘o jornalismo que crê’".
Boa leitura.
O Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
Uma aula sobre o que é Jornalismo, uma visão realista e com uma ponta de esperança.
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