domingo, 14 de abril de 2013


Ele é! Nós somos?

* Por Paulo Reims

A idolatria pode ser analisada a partir da ideologia, ou seja, depende do ângulo pelo qual eu vejo o mundo e também do lugar social ao qual me atenho. Todavia, num ponto, ninguém pode ser contestado: quando o ter, o poder e o prazer assumem o lugar do ser, que também não pode ser confundido com egolatria nem com personalismo, a pessoa se deteriora e, consequentemente, a sociedade também.

Quando o Criador chamou Moisés para libertar o seu povo escravo no Egito, se revelou a ele assim se expressando: “Dirás ao Faraó -Aquele que É, me enviou para libertar seu povo, por ti escravizado”. Ele não disse: aquele que tem posses, que tem poder... Mas Aquele que É, que viu, ouviu, e se compadeceu com o sofrimento do seu povo oprimido e explorado, e enviou Moisés para conduzi-lo a uma terra de liberdade.

Mas, independentemente de religião, de ser crente ou ateu, não se pode qualificar como pessoa, nem como ser, quem assume a trilogia idolátrica. Será apenas um indivíduo com uma consciência obtusamente mórbida. Deveria haver uma lei internacional para tornar estes indivíduos interditados. Eles têm uma consciência invencivelmente errônea, portanto, privados de liberdade para decidir entre o certo e o errado, o bem e o mal. São incapazes de viver em sociedade por conta desta grave anomalia.

Aparentemente, são muito normais, pois um pouco anormal todos o somos. “Mas existe uma única coisa que nunca nos engana: as aparências” (Ugo Bernasconi). Na calada da noite, as máscaras caem e a face predadora se apresenta avassaladora. Também à plena luz do dia se apresentam como ovelhas, ocultando a voracidade de um lobo ávido pelas presas, que serão sempre as mais fracas.

Porém, nada pode ser ocultado para sempre. Na semana passada, no artigo com título, “Quando o ter é patológico”, escrevi que a renda líquida obtida em 2012 pelas 100 pessoas mais ricas do mundo foi de 240 bilhões de dólares podendo, com este valor, acabar quatro vezes com a extrema pobreza do planeta.

Na quinta-feira da semana passada, dia 4, os jornais ‘Guardian’, ‘Le Monde’ e ‘The Washington Post’,e outros, anunciaram o vazamento de “milhões de registros internos” de empresas britânicas offshore, apelidadas de “Offshore Leaks”. Os documentos expõem pela primeira vez a identidade de milhares de pessoas, de mais de 170 países, ligados a empresas de offshore em dinheiro escondido em paraísos fiscais.

O vazamento é resultado de parceria do Consórcio Internacional de Jornalistas Investigativos, ICIJ na sigla em inglês. Contém informações de 120 mil empresas. O valor escondido nos paraísos fiscais gira em torno de 32 trilhões de dólares (cf. www.brasil247.com/+z9vje). Fiquemos atentos para ver as providências que serão tomadas, ou não, pois é perigoso. Tudo isto é fruto da idolatria do ter, poder e prazer. Portanto, com um olhar salutar, estes indivíduos deveriam ou não ser interditados? Lembremo-nos de que são “os escravos do Egito” que produzem toda esta riqueza escondida nestes paraísos.

O Tribunal Internacional, que cremos ser composto por pessoas altamente altruístas, deve agir para interditar estes indivíduos. Dessa forma, poderá coibir que casos semelhantes voltem a acontecer e, juntamente com outras entidades internacionais sérias, promover o redirecionamento destas riquezas para salvar o planeta e o seu povo tão sofrido, por conta da idolatria exacerbada.

“Quando se sonha sozinho, não passa de um sonho, mas quando sonhamos juntos é o começo de uma nova realidade” (Helder Câmara); aquela sonhada, pregada, vivida e ensinada pelo Mestre Jesus: “Assim na terra, como no céu”. O céu, com toda certeza, será a consumação da igualdade e fraternidade, geradoras de vida para todas as pessoas, sem nenhuma distinção. Mas ela começa aqui e agora.

Evidente que parti de uma visão do macro, porém a micro é importante igualmente. Mas a assepsia deve ser concomitante e global.

Não permitamos que a idolatria nos transforme em monstros, revelados ou enrustidos. Faz mal para o indivíduo e, sobretudo, para a coletividade, que sofre as agruras desta barbárie abominável.

A palavra de ordem é SER: gente 100%, feita de bondade, justiça, partilha, perdão, solidariedade, aconchego e ternura. Estas são as características que nos tornam verdadeiramente seres humanos e felizes.

* Jornalista

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