Ele é! Nós somos?
* Por Paulo Reims
A
idolatria pode ser analisada a partir da ideologia, ou seja, depende do ângulo
pelo qual eu vejo o mundo e também do lugar social ao qual me atenho. Todavia,
num ponto, ninguém pode ser contestado: quando o ter, o poder e o prazer
assumem o lugar do ser, que também não pode ser confundido com egolatria nem
com personalismo, a pessoa se deteriora e, consequentemente, a sociedade
também.
Quando o
Criador chamou Moisés para libertar o seu povo escravo no Egito, se revelou a
ele assim se expressando: “Dirás ao Faraó -Aquele que É, me enviou para
libertar seu povo, por ti escravizado”. Ele não disse: aquele que tem posses,
que tem poder... Mas Aquele que É, que viu, ouviu, e se compadeceu com o
sofrimento do seu povo oprimido e explorado, e enviou Moisés para conduzi-lo a
uma terra de liberdade.
Mas,
independentemente de religião, de ser crente ou ateu, não se pode qualificar
como pessoa, nem como ser, quem assume a trilogia idolátrica. Será apenas um
indivíduo com uma consciência obtusamente mórbida. Deveria haver uma lei
internacional para tornar estes indivíduos interditados. Eles têm uma
consciência invencivelmente errônea, portanto, privados de liberdade para
decidir entre o certo e o errado, o bem e o mal. São incapazes de viver em
sociedade por conta desta grave anomalia.
Aparentemente,
são muito normais, pois um pouco anormal todos o somos. “Mas existe uma única
coisa que nunca nos engana: as aparências” (Ugo Bernasconi). Na calada da
noite, as máscaras caem e a face predadora se apresenta avassaladora. Também à
plena luz do dia se apresentam como ovelhas, ocultando a voracidade de um lobo
ávido pelas presas, que serão sempre as mais fracas.
Porém,
nada pode ser ocultado para sempre. Na semana passada, no artigo com título,
“Quando o ter é patológico”, escrevi que a renda líquida obtida em 2012 pelas
100 pessoas mais ricas do mundo foi de 240 bilhões de dólares podendo, com este
valor, acabar quatro vezes com a extrema pobreza do planeta.
Na
quinta-feira da semana passada, dia 4, os jornais ‘Guardian’, ‘Le Monde’ e ‘The
Washington Post’,e outros, anunciaram o vazamento de “milhões de registros
internos” de empresas britânicas offshore, apelidadas de “Offshore
Leaks”. Os documentos expõem pela primeira vez a identidade de milhares de
pessoas, de mais de 170 países, ligados a empresas de offshore em
dinheiro escondido em paraísos fiscais.
O
vazamento é resultado de parceria do Consórcio Internacional de Jornalistas
Investigativos, ICIJ na sigla em inglês. Contém informações de 120 mil
empresas. O valor escondido nos paraísos fiscais gira em torno de 32 trilhões
de dólares (cf. www.brasil247.com/+z9vje). Fiquemos atentos para ver as
providências que serão tomadas, ou não, pois é perigoso. Tudo isto é fruto da
idolatria do ter, poder e prazer. Portanto, com um olhar salutar, estes
indivíduos deveriam ou não ser interditados? Lembremo-nos de que são “os
escravos do Egito” que produzem toda esta riqueza escondida nestes paraísos.
O
Tribunal Internacional, que cremos ser composto por pessoas altamente
altruístas, deve agir para interditar estes indivíduos. Dessa forma, poderá
coibir que casos semelhantes voltem a acontecer e, juntamente com outras
entidades internacionais sérias, promover o redirecionamento destas riquezas
para salvar o planeta e o seu povo tão sofrido, por conta da idolatria
exacerbada.
“Quando
se sonha sozinho, não passa de um sonho, mas quando sonhamos juntos é o começo
de uma nova realidade” (Helder Câmara); aquela sonhada, pregada, vivida e
ensinada pelo Mestre Jesus: “Assim na terra, como no céu”. O céu, com toda
certeza, será a consumação da igualdade e fraternidade, geradoras de vida para
todas as pessoas, sem nenhuma distinção. Mas ela começa aqui e agora.
Evidente
que parti de uma visão do macro, porém a micro é importante igualmente. Mas a
assepsia deve ser concomitante e global.
Não
permitamos que a idolatria nos transforme em monstros, revelados ou enrustidos.
Faz mal para o indivíduo e, sobretudo, para a coletividade, que sofre as
agruras desta barbárie abominável.
A palavra
de ordem é SER: gente 100%, feita de bondade, justiça, partilha, perdão,
solidariedade, aconchego e ternura. Estas são as características que nos tornam
verdadeiramente seres humanos e felizes.
*
Jornalista
Nenhum comentário:
Postar um comentário