terça-feira, 16 de abril de 2013


Prefácio do livro: Ir...

* Por José Calvino de Andrade Lima

Existem aquelas noites em que você sai, talvez para se distrair, mas na realidade é em busca de algo que te faça sentir melhor que o rotineiro. Foi quando fui a Olinda, em busca deste “algo” e, quem sabe, uma mesa de bar não foi o que me deixou um pouco melhor? Estava curtindo a noite com uns amigos, coisa que geralmente faço quando vou a Olinda: subo à Sé e passo a noite entre viradas de copos e de conversas.

Foi lá pelas tantas que me chegou às  mãos o livro “IR...”, cujo nome do autor não me soava estranho. Na tentativa de analisar o livro comecei, como quase todos o fazem, por ver sua forma verificando o conteúdo de sua capa. Revirando-o, percebi que este possuía uma “sugestão turística”. Imediatamente retornei à lembrança de que, numa noite chuvosa de maio, na Galeria Lautreamont (no largo da misericórdia – Alto da Sé – Olinda) alguém havia distribuído naquele local o seu recado, através de uma sugestão turística, e que este alguém era consequentemente o autor daquele livro que agora se encontrava em minhas mãos. Foi espontânea a sensação de carinho que passou a me acompanhar enquanto eu folheava o livro. Dificilmente alguém se empenha a valorizar coisas tão nossas, quanto a cidade em que habitamos, ou mesmo freqüentamos. E “IR...” não fugiu ao que eu supus, e percebi que esta preocupação constante, esta necessidade de projetar em letras toda uma problemática social que nos é imposta, enfim toda uma sensibilidade exposta das letras ao público, era uma grande marca do autor de forma notável. Agora converso com gente que expõe críticas, mas que, na realidade, não busca entender o valor que possui alguém que luta por um ideal próprio e, mais que isto, que não se limita aos quatro cantos de uma sala, com a cabeça cheia de teorias ultrapassadas e caducas. Não! Trata-se de uma punhalada nos pés de quem se encontra sentado; e é isto o que a verdadeira leitura deve proporcionar: Impacto. Dizer simplesmente que “gostaram” não é o suficiente, tem-se é que viver o drama da realidade exposta naquelas páginas. Senti que isto tinha que ser escrito agora, nesta mesma mesa, e que haveria de ser enviado a este autor como demonstração do que achei que deveria ser dito a todos quantos se prestassem a ler o livro “IR...”. Espero que, se ele comporta em sua capa duas letras tão significativas: IR, ao menos que todos tentem sentir aonde o autor quis “ir” com suas palavras.

Boletim da Banca Nacional de Literatura Independente,
ano II, nº 04, Rio de Janeiro/dez/84.

1ª edição, Recife/Olinda, 1983
2ª edição, Recife, 1993
3ª edição, Recife, com novo título: Aonde iremos nós?”, 2001.

Obs.: Muitos confundiam o verbo IR com declaração de Imposto de Renda!!!

* Escritor, poeta e teatrólogo. Blog Fiteiro Cultural:      http://josecalvino.blogspot.com/

2 comentários:

  1. Inclusive eu. A força e o apetite do leão nos tira qualquer ilusão e a possibilidade de ler outra coisa diante das duas letrinhas: IR.

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  2. Por isso que eu mudei o título, na minha opinião ficou melhor "Aonde iremos nós?", OBG, Mara!

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