O julgamento popular de
Margaret Thatcher
* Por Paulo
Nogueira
Muita gente comemorou sua morte,
e ninguém chorou.
Festa para muitos na Inglaterra
Abaixo, você pode ler a essência
da manifestação de Morrisey, cantor do Smiths, à morte de Thatcher.
Cada movimento que ela fez foi
marcado pela negatividade.
Ela odiava os mineiros, ela
odiava as artes, ela odiava os pobres, ela odiava o Greenpeace e os todas as
entidades de proteção ambiental.
Ela deu a ordem para explodir o
Belgrano já quando o navio argentino estava se afastando das Malvinas. E quando
os meninos argentinos a bordo do Belgrano sofreram uma morte terrível e
injusta, Thatcher deu o sinal sinal de positivo para a imprensa britânica.
Ela odiava feministas ainda que
tenha sido graças a elas que o povo britânico aceitou que um primeiro-ministro
pudesse realmente ser do sexo feminino.
Thatcher era um horror sem um
átomo da humanidade.”
Quanto a mim: sabia,
evidentemente, que Thatcher era uma figura que dividia os ingleses.
Mas não imaginava, até ver as
reações a sua morte aqui na Inglaterra e em outras partes do Reino Unido,
quanto o ódio que ela despertou suplantava o amor e a admiração.
Horas depois do anúncio da morte,
enfrentaram-se em Manchester os dois times locais, o United e o City.
Não houve minuto de silêncio. A
torcida teria devastado o tributo.
Em Liverpool, os torcedores
cantavam em comemoração à morte de Thatcher. Numa tragédia em que morreram
muitos torcedores no estádio do Liverpool nos dias de Thatcher, a polícia
acusou a torcida local – erradamente, como se veria depois.
Thatcher condenou a torcida e
apoiou a versão falaciosa da polícia. Jamais foi perdoada.
Em Glasgow, uma multidão foi às
ruas celebrar a morte. Os escoceses acham que foram tratados como subespécies
por Thatcher.
No twitter, o congressista George
Galloway lembrou que ouviu Thatcher chamar Mandela, no Parlamento, de
“terrorista”. (Alguém disse que houve justiça poética em Mandela, tão
combalido, ter sobrevivido a ela.)
“Que ela arda no inferno”, disse
Galloway, sob numerosas manifestações de apoio e poucas de protesto. Alguém
pediu respeito a Galloway.
A melhor maneira de mostrar
respeito hoje é esta, respondeu Galloway – e postou um link que ia dar no seu
partido, chamado exatamente Respeito.
Fora da galhofa, Galloway disse
algo que merece reflexão.
Ele comparou a reação à morte de
Thatcher com a reação à morte de Chávez, um mês atrás.
O povo não é bobo.
Thatcher fez um governo dos
ricos, pelos ricos e para os ricos.
Chávez governou para os pobres.
O reconhecimento da voz rouca das
ruas — vital para o que vai ficar registrado para a posteridade nos livros –
irrompe com potência sublime e comovedora na morte de pessoas públicas.
É a aprovação definitiva, ou a
reprovação, ou a indiferença.
Chávez foi amplamente aprovado,
como gritaram as filas de catorze horas formadas por venezuelanos desesperados
por vê-lo pela última vez em Caracas – num lamento épico e histórico
protagonizado não pelo Comandante, mas pelos excluídos ao longo da
história por uma elite corrupta e predadora controlada pelos Estados Unidos.
Thatcher foi reprovada.
·-->Jornalista. Está vivendo em
Londres. Foi editor assistente da Veja, editor da Veja São Paulo, diretor de
redação da Exame, diretor superintendente de uma unidade de negócios da Editora
Abril e diretor editorial da Editora Globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário