sexta-feira, 19 de abril de 2013


A humanização do homem


O filósofo Jiddu Krishnamurti, um dos pensadores mais lúcidos dos tantos que conheço (sobretudo, consciente educador), num de seus tantos livros, destaca que “existe apenas uma revolução fundamental. Não é uma revolução de idéias nem é baseada num determinado padrão de ação. Ela começa a manifestar-se quando a necessidade de usar os outros termina. É algo que surge espontaneamente quando começamos a entender a natureza profunda dos nossos relacionamentos. Essa revolução pode ser chamada de Amor”.

As rápidas e dramáticas transformações deste início de segunda década do século XXI, ideológicas, políticas e sociais, mantêm intocados os verdadeiros problemas que tornam o mundo um lugar tão perigoso e instável para viver. Urge que antes e acima de tudo se promova a “humanização do homem”. Tenho abordado o assunto nos mais variados contextos, sendo, até mesmo repetitivo (prefiro dizer, reiterativo), claro, sem nenhum resultado. Faço, pelo menos, a minha parte, já que o único recurso de que disponho é o da palavra escrita, posto que sem nenhuma certeza que serei lido e por quem. Abomino a omissão.

Dediquei, inclusive, todo um capítulo do meu livro “Por uma nova utopia” ao tema. Isso, em 1998. Passados quinze anos, as coisas pouco ou nada mudaram em termos de relacionamentos, de justiça social, de respeito aos sagrados direitos do próximo, que deveriam ser irrestritos e invioláveis. Óbvio que não são. Para que fossem seria necessário que pelo menos estivesse em andamento a “Revolução do Amor”, preconizada por Ktishnamurti. Claro que não está. O homem ainda está muito longe de passar pelo processo de “humanização”.,  

A ignorância, a prepotência, a cobiça e a exploração do fraco e desprotegido pelo forte e privilegiado permanecem mais presentes do que nunca a atestar que, a despeito do progresso tecnológico, a racionalidade humana não evoluiu um único milímetro nos últimos dois ou três milênios e,ao contrário, pode até ter sofrido regressão. Relatórios divulgados aniúde, por diferentes organizações internacionais, mostram que podemos falar de tudo, menos de evolução do espírito.

Os informes dão conta de torturas, assassinatos, “desaparecimentos de pessoas”, privações ilegais da liberdade, truculências e outros crimes hediondos, muitos dos quais praticados por governos ou por regimes políticos. Ou seja, tais delitos são cometidos em nome de princípios intrinsecamente nobres – porém cada vez mais utópicos – como liberdade, democracia e solidariedade.

Esses delitos ocorrem, indistintamente, na Europa, nos Estados Unidos e em praticamente todas as partes do mundo. Onde, pois, a apregoada “nova era”, tão decantada após o fim da “guerra fria”? O que temos é somente “mais do mesmo” de sempre. Há campos de concentração, ao estilo nazista, que todos julgavam coisas do passado, espalhados por aí, notadamente na África e na Ásia. Mas... quem se importa? Ainda há perseguição de pessoas, ostensiva ou velada,, por causa dessa estupidez que se convencionou chamar de “raça” – como se no essencial todos os seres humanos não fossem iguais, Mas... quem se importa? E eu poderia passar horas enumerando os horrores que acontecem aqui, ali e acolá, que são tantos que sequer nos sensibilizam.  Acostumamo-nos a eles.Não o farei. Ninguém se importa.

Nesse festival de desrespeito aos direitos fundamentais do homem, os mais afetados são, pela ordem, as mulheres, os idosos e as crianças. Ou seja, os desequilibrados da atual geração, que não têm tirocínio para entender que são mortais e vão passar e cair na vala do esquecimento, buscam comprometer o futuro da espécie e, por extensão, do mundo. E ninguém faz nada para evitar.

A Organização Internacional do Trabalho, por exemplo, lançou, em fins dos anos 90 do século passado, um livro sobre a exploração de menores como mão de obra escrava ou semi-escrava a que tive acesso. Li-o nauseado. Cerca de 200 milhões de meninos e meninas, em todas as partes, estavam tendo, na ocasião sua dignidade desrespeitada, seu desenvolvimento físico e mental mutilado e suas expectativas frustradas. Embora sem contar com dados atualizados, ouso assegurar que nada mudou para melhor nesse aspecto. Provavelmente piorou, e muito.

Mas... quem se importa (a não ser as vítimas, que provavelmente ascendem aos bilhões)? A verdadeira revolução, a da “humanização” do homem, portanto, ainda está longe de começar. Tememo-la, com certeza, por receio de perdermos alguns privilégios, se os tivermos. Ou teme-a quem os têm.. Impõe-se, pois, a questão formulada por Max Frish: “Quando se tem mais medo da mudança do que da desgraça, o que é que se faz para evitar a desgraça?” Sim, o que se faz?!

Boa leitura.

O Editor..

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Um comentário:

  1. Não está falando dos outros, Pedro, mas de nós mesmos, da nossa covardia, da nossa comodidade e medos de perder o pouco que temos. Falando de otimismo você é bom, mas muito melhor quando nos chama às falas, ao realismo retumbante que nos invade, e corrompe pela repetição. Ao final a indiferença impera. Os citados acima somos nós, repito.E não estamos sós.

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