quinta-feira, 2 de junho de 2011







Juventude prorrogada

* Por Pedro J. Bondaczuk

A "juventude" está mais na moda do que nunca neste início de novo século e milênio. Todo o aparato de propaganda está voltado à conquista dessa faixa da população mundial, pelo alto potencial de consumo que ela representa. No entanto, um tipo de comportamento novo, característico desta década, é a tentativa de alguns adultos, quarentões ou mais, de se passarem por jovens.Trajam-se como eles, usam os mesmos cabelos e penteados, têm o corpo todo tatuado e com “piercings” espalhados da cabeça aos pés, freqüentam seus lugares de diversão (seus "points") e adotam até suas gírias e jargões, sem medo algum do ridículo, a que se expõem, espontânea e escancaradamente.

É o que psicólogos e antropólogos denominam (cunhando um neologismo) de "adultescência". O suplemento "Mais!", do jornal Folha de S. Paulo, de 20 de setembro de 1998, foi todo dedicado a esse assunto, até então nunca abordado nos meios de comunicação, mas que caracteriza um comportamento que se torna cada vez mais comum. O curioso é que, no início do século passado, ninguém queria parecer "jovem", já que, socialmente, essa faixa da população era discriminada, tida como incapaz de assumir responsabilidades. Adolescentes, ainda com espinhas no rosto, faziam de tudo para parecer mais velhos, deixando crescer cavaques e bigodes, trajando roupas conservadoras, não raro tingindo os cabelos com “salpicos” de grisalho e assumindo ares da maturidade que, na verdade, não possuíam, entre outras coisas.

Atualmente, as coisas se inverteram. Pessoas de ambos os sexos, que já passaram dos trinta, também se valem de todo o tipo de artifícios para disfarçar a idade, mas em sentido inverso. Tentam subtrair (em vão) alguns anos, para parecerem mais jovens. Passou-se, como se vê, de um exagero a outro. A juventude é colocada como sinônimo de "genialidade", de ousadia, de aventura, de coragem, de criatividade, de espírito de iniciativa e outras coisas do gênero, como se competência fosse uma questão de quantos anos o indivíduo já viveu (e, no caso, quanto menos, melhor). Não é, evidentemente. É certo que todos tememos a velhice, mesmo sabendo que ela é fatal e irreversível. É uma experiência pela qual todos haveremos de passar, a menos, é claro, que a morte nos alcance antes (ou por acidente, ou por doença ou em decorrência de qualquer tipo de violência, o que infelizmente se tornou tão comum nos dias de hoje, notadamente nas grandes metrópoles).

O filósofo norte-americano, Will Durant, no livro “Filosofia da Vida” acentua: “A mocidade propõe, a maturidade dispõe, a velhice se opõe. A mocidade domina nos períodos revolucionários; a maturidade, nos períodos de reconstrução; e a velhice, nos períodos de estagnação”. Ou seja, o jovem conta com a ousadia, embora careça da experiência. É ideal para tarefas que exijam energia, disposição, força bruta, coragem. O homem maduro, embora já não conte mais com a fogosidade do moço, mas também não tenha ainda atingido o equilíbrio do idoso, tem as melhores das características das duas fases.

É, pois, o reconstrutor por excelência, seja lá do que for. Finalmente, o ancião, experiente, vivido, conhecedor dos caminhos da vida, com suas armadilhas e obstáculos, sabe onde pisa. É, por conseguinte, o conselheiro ideal para as pessoas mais jovens. Todos os três, portanto, têm lá a sua importância, o seu fascínio, a sua beleza, o seu valor. Há um provérbio francês que define a caráter as vantagens e desvantagens de cada fase da vida. Diz: “Si la vieillesse pouvoit; si la jeunesse savait”. Ou, traduzindo: “Se ao menos a velhice pudesse; se ao menos a juventude soubesse”. Em certo aspecto, todavia, (desde que não se descambe para exageros que conduzam ao ridículo), esse comportamento de querer parecer (e agir como) jovem, pode até ser saudável. Se trouxer bem estar e segurança psicológica a quem o adote, é válido.

Afinal, uma boa dose de vaidade, mas na medida certa, também ajuda a viver. Por que não? O que se contesta é a colocação do jovem (ou do adulto, ou do idoso) como "paradigma". Evidentemente, o tempo de vida não é e jamais será o padrão mais indicado para medir a competência, o valor ou o talento de quem quer que seja. E, no fim das contas, o que de fato conta não é a idade cronológica, mas a que temos na “cabeça”. É como nos sentimos, e não como aparentamos ser, que acaba sendo determinante. Porquanto, há muito “jovem” de 90 anos, esbanjando vitalidade e talento, e muito “ancião” de 18, murcho, desanimado e sem energia, querendo que “o mundo termine em barranco para morrer encostado!” E como tem! É só observarmos atentamente, para os encontrarmos aos montes ao nosso redor.

* Jornalista, radialista e escritor. Trabalhou na Rádio Educadora de Campinas (atual Bandeirantes Campinas), em 1981 e 1982. Foi editor do Diário do Povo e do Correio Popular onde, entre outras funções, foi crítico de arte. Em equipe, ganhou o Prêmio Esso de 1997, no Correio Popular. Autor dos livros “Por uma nova utopia” (ensaios políticos) e “Quadros de Natal” (contos), além de “Lance Fatal” (contos) e “Cronos & Narciso” (crônicas). Blog “O Escrevinhador” – http://pedrobondaczuk.blogspot.com. Twitter:@bondaczuk

Um comentário:

  1. Os quatro rapazes de Liverpool envelheceram décadas em menos de dez anos(1959 a 1969). Fizeram de tudo para parecerem mais velhos e conseguiram. Ainda hoje os jovens, muito jovens querem parecer mais velhos, mas, mal completam 25 anos, já querem, fazer o caminho de volta. Em nossa sociedade não há vantagem em ser velho. Daí que os velhos defendem a velhice e os jovens pisam nela.

    ResponderExcluir