quinta-feira, 9 de junho de 2011







Justificando o injustificável

* Por Fernando Yanmar Narciso

Brasileiro tem fama de não apenas fazer besteira, mas garantir a mancada. É preciso ter coragem e falta de noção em proporções equivalentes para transgredir, ir contra a ordem natural das coisas. Recentemente, já meio que conformado com minha incapacidade de tirar carteira de motorista, resolvi comprar uma bicicleta. Desde criancinha, tenho um histórico de problemas e acidentes envolvendo bikes, devido à minha falta de atenção -de acordo com minha mãe, não conseguiria nem brincar com um carrinho de fricção sem quebrar uma perna. Uma vez minha bicicleta simplesmente se desfez comigo em cima e eu não tive escolha a não ser voltar para casa carregando os pedacinhos. Deixei os restos mortais no jardim e, quando meu pai chegou e viu aquilo, teve certeza que eu havia sido atropelado.
Mesmo assim, voltei a encarar mais esse trauma e torrei R$ 250,00 num par de rodas. Até aí, tudo bem. O caso é que sempre fui apaixonado por aquelas bicicletinhas para bicicross, tipo “bike de maloqueiro”, e assim que vi uma amarela, minha cor favorita, nem pensei duas vezes e peguei o recibo. Foi um “aquele-lá-em-cima nos acuda” quando cheguei com ela em casa. Todos acham ridículo um galamprão de 27 anos andando numa bicicleta, segundo eles, pra criança. Se eu ainda estivesse na escola, provavelmente diriam que parece que estou a bordo de um velotrol.
Mas para tudo há um motivo, mesmo para uma escolha potencialmente idiota. Bicicleta não é um meio de transporte que passamos a maior parte do tempo carregando ou empurrando ladeira acima? Vocês acham mais fácil empurrar uma bike grande ou pequena? E vai que o pneu fura no centro da cidade. Uma bike de quadro pequeno é mais fácil e leve para carregar nos ombros que uma grande. Isso sem falar que também dá pra tirar a roda e carregar dentro de uma sacola para o borracheiro. Duvido que alguém consiga colocar uma roda aro 26 dentro de uma mochila… Isso sem falar que adorei o estilo dela e o esforço para pedalar é praticamente o mesmo para pedalar uma bicicleta grande, apesar de já ter conseguido entortar dois canos de selim…
Ah, quem eu tô tentando enganar? Fui roubado na loja, que tinha bicicletas de verdade mais baratas que a minha e agora tenho essa coisinha que é mais difícil de vender que um Chevette tunado… Mas pelo menos não preciso mais gastar dinheiro com ônibus.
Pedalando, pedalando, pedalando com a Caloi. Pedalando, pedalando, a poupança nunca dói…

• Designer e colunista do Literário, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

2 comentários:

  1. Esse foi um dos maiores sonhos de consumo
    que tive na infância, uma "magrela".
    A mim não carecia que ela fosse nova em folha
    ou aquela dos comerciais.
    O desejo era tanto que eu sonhava com ela, mas
    toda vez que tentava descer o morro, ela se desmantelava e eu acordava.
    Bem, o tempo passou e a bicicleta nunca veio
    e hoje se a ganhasse teria que ser aquela de iniciantes, igualzinha a do meu filho quando ganhou a sua primeira bicicletinha, acho que
    acabei satisfazendo meu sonho de criança na
    alegria dele.
    Curta Fernando...curta.
    Abração

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  2. Adoro pedalar, mas concordo com você: foi uma bobagem sem tamanho(ou de tamanho pequeno) comprar uma bicicleta infantil.

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