segunda-feira, 11 de outubro de 2010




Uma carta para mim

* Por Aliene Coutinho

Escrevo para mim mesma. Quem sabe lendo o que se passa em minha cabeça eu possa compreender-me melhor. Não sei ao certo onde estou dentro de mim. Se no limiar da loucura, ou se finalmente despertei para a realidade. É um nada, é um vazio, um não sei o quê tão intenso, que por horas penso e chego a acreditar que talvez tenha sido assim a vida inteira e que em uma cobrança desvairada nunca tenha permitido sentir-me perdida.
É como se eu fosse a base de uma casa cheia de rachaduras que aos poucos começa a desabar, paredes, colunas, teto. Tudo ao redor fica sem sentido. Não há escoras suficientes, e se há não sei onde encontrá-las ou como usá-las. Perder as coisas que mais valorizei e vê-las escapando de minhas mãos me faz mais infeliz ainda. Onde me perdi? Onde estive durante toda vida?
Preciso construir-me de verdade. Essa insatisfação generalizada espalha-se como uma doença em estado terminal, sem antídotos, ou tratamento. Quanto mais me pergunto, mais fico sem resposta. Quanto mais quero superar meus problemas, mais me afundo neles. Para onde vou daqui para frente? Como recomeçar, ou terminar?
Passar e sentir-se assim torna-se uma agravante. Prova que a fortaleza construída com as pedras que achei no caminho foi derrubada ou acharam a senha da porta de entrada. Fui invadida pela insegurança, pela falta de fé e de sonhos. Sinto-me incapaz de reagir. Entrego os pontos. Rendo-me. Fico à mercê do nada. Terei aliados? Eles virão em bando com munição pesada liberta-me? Ou terei alguma arma secreta em favor de mim mesma?
São tantas as perguntas... e o tempo impassível diante dos meus problemas faz o mundo girar, a vida continua e me carrega seja eu pedra, seja eu vento, seja eu nada. Cabe a mim, só a mim, reagir. De todas as dúvidas a única certeza é que não quero mais estar como estou, como sou e como me vejo. Preciso de um amanhã claro, onde a visão de uma velhinha escrevendo ao computador, olhando o mar através uma janela, seja uma grata recompensa pelos dias aflitos, de perdição.

* Jornalista e professora de Telejornalismo

3 comentários:

  1. Todos e cada um têm um dia de questionamentos. Como cheguei até aqui? Valeu a pena? Ainda bem que essas reflexões têm efeito terapêutico. Em poucas linhas já vemos escoras para as nossas paredes-dores, e um cantinho mágico para as invasões que não foram permitidas.

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  2. Muitas perguntas...poucas respostas...
    Enquanto houver questionamentos há em ti
    o sopro de algo divino que chamo de vida.
    Você tem desejos e fome de respostas, meio
    caminho andado Aliene.
    Abraços

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  3. Fácil é conhecer, definir as outras pessoas, difícil é conhecer-se, Aliene. Essas auto-análises, acredito, nos levam a nos conhecer melhor. Beijos

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