sábado, 3 de março de 2018

O segredo - Alejo Carpentier


O segredo

* Por Alejo Carpentier

Não devo pensar.
Antes de tudo sentir ver.
quando de ver se passa olhar,
acendem-se raras 
luzes 
tudo adquire uma voz.
Assim, descobri, de repente,
em um 
segundo fulgurante,
que existe uma Dança das Árvores.
Não são todas que conhecem
segredo de dançar ao vento.
Mas as que possuem a graça 
formam 
rodas de folhas ligeiras,
de ramos, de 
brotos, em torno
de 
seu próprio tronco estremecido.
E é 
todo um ritmo que se cria 
nas 
folhagens; um ritmo ascendente 
e inquieto, 
com encrespamentos
retornos de ondascom brancas
pausasrespiros, vergamentos,
que se alvoroçam e são 
torvelinho, de repente, numa
música prodigiosa do verde.
Não há nada mais belo que dança 
de 
um maciço de bambus na brisa.
Nenhuma 
coreografia humana 
tem a 
eurritmia de um ramo 
que se desenha sobre céu.
Chego a 
me perguntar às vezes 
se as 
formas altas da emoção 
estética não consistirão,
simplesmente, num supremo 
entendimento do criado.
Um dia, os homens descobrirão
um alfabeto nos olhos 
das calcedônias, 
nos pardos 
veludos da falena, e então 
se saberá 
com assombro 
que cada caracol manchado
eradesde sempreum poema. 

* Novelista, ensaísta e músico cubano.

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