Sobre
a morte
*
Por Emanuel Medeiros Vieira
"Já
tive medo da morte. Hoje não tenho mais"(Rubem Alves - a quem
agradeço algumas citações neste texto, como a de Cecília
Meireles).
Quantos
já escreveram o mesmo: já tive medo da morte. Sinto-me assim. Posso
ter medo da dor, e sei como ela chega, não é em um barco perfumado.
A dor maior? Não sei explicar. Como um serrote - indo e voltando,
repito, indo e voltando (uma dor indescritível) na barriga,
exatamente nos tumores, alojados no pâncreas e no fígado e, quem
sabe, já em outros lugares. Indo e vindo. O perfume não é esse.
É de suor, morfina, veias furadas - e aquele cheiro de hospital.
E a morte na soleira da porta. Olha-te - não cinicamente - mas como o olhar de uma vencedora, que sabe que - NO FINAL - ganha sempre. Também não tenho medo da morte.
"O que sinto é uma enorme tristeza" (do mesmo Rubem Alves). Ele lembra Mário Quintana: “Morrer, que me importa? (…) O diabo é deixar de viver.”
A
vida é tão boa! Não quero ir embora…"
Cecília Meireles dizia: “E eu fico a imaginar se depois de muito navegar a algum lugar enfim se chega… O que será, talvez, até mais triste. Nem barcas, nem gaivotas. Apenas sobre humanas companhias… Com que tristeza o horizonte avisto, aproximado e sem recurso. Que pena a vida ser só isto…”
(Salvador, Bairro da Graça, março de 2018)
*
Romancista, contista, novelista e poeta catarinense, residente em
Brasília, autor de livros como “Olhos azuis – ao sul do
efêmero”, “Cerrado desterro”, “Meus mortos caminham comigo
nos domingos de verão”, “Metônia” e “O homem que não amava
simpósios”, entre outros.
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