Idealismo ativo
Há
dois tipos de idealismo: o ativo, que se reflete em ações concretas
e eficazes para que aquilo que se idealize tenha a mínima chance de
se tornar concreto, e o romântico, estático, imóvel, que se limita
a meras cogitações individuais e fica na dependência
exclusivamente das circunstâncias, quando não do acaso, para
produzir efeitos. Este último pode, via de regra, ser classificado,
sem nenhum exagero, de mero “devaneio”.
Os
idealistas de fato, os que, com suas ideias, sonhos e realizações
mudaram o mundo para melhor, não se limitaram jamais a idealizar
realidades desejáveis e promissoras. Agiram!. Trabalharam duro pelas
causas que abraçaram, sem se importar se teriam ou não eventuais
vantagens pessoais. Já os simples sonhadores, que achavam que as
coisas iriam se acertar por si sós, terminaram a vida frustrados,
amargos e infelizes. Não idealizaram. Limitaram-se a “devanear”.
Claro
que todo o escritor (salvo exceções) é, em certa medida,
idealista. Tem algum tipo de mensagem a transmitir ao mundo, caso
contrário, não escreveria. Ninguém o obriga a fazê-lo. Duvido,
porém, que algum deles, quando se propõe a produzir um livro,
esteja de olho, “apenas” no dinheiro que este poderá render.
Se
estiver, certamente é um alienado. Dá para contar nos dedos de uma
só mão (e ainda assim, provavelmente, ficarão de fora o anular e o
indicador) quantos escritores enriqueceram, apenas, com Literatura.
Pondero que não considero como tal essa enxurrada de lixo cultural
que as editoras nos impingem e que, para o nosso aborrecimento e
desgosto, lhes assegura o faturamento e lucros consideráveis nos
balanços de fim de ano em detrimento do que vale a pena ser escrito,
impresso, publicado e, sobretudo, lido.
Quando
proponho, portanto, que o escritor divulgue, por todos os meios
possíveis ao seu alcance, o fruto do seu tremendo trabalho (e quem
escreve sabe do desgaste físico, mental e, principalmente,
psicológico e emocional que isso implica), não penso,
evidentemente, em cifrões. Mas... se essa ação impulsionar vendas,
pergunto: que mal haverá nisso? Significará, caso eu consiga me
tornar um best-seller, que sou mercenário? O lucro (caso venha) será
consequência, nunca objetivo.
Deixar
por conta das editoras a divulgação de uma obra, notadamente se
você tiver convicção que ela irá beneficiar, de alguma maneira,
seu único destinatário (o leitor, pois ninguém escreve para os
editores, críticos etc.), não é ser idealista. É entregar-se a
devaneios. Afinal, dificilmente você será o único escritor ligado
a elas por contrato. O catálogo delas será, certamente, dos mais
extensos. E em quem você acha que elas irão apostar?
Em
você, que transmite princípios nobres e úteis, mas é desconhecido
e tem baixo potencial de vendas, ou no sujeito que escreveu sobre
como “fazer mágicas” para brilhar em festinhas infantis ou em
quem se limitou a publicar receitas de comidas exóticas?
Provavelmente estes sujeitos venderão mais, muito mais do que você.
E as editoras concentrarão toda sua atenção, não tenha a mais
remota dúvida, nesses livros, que estão a trilhões de anos-luz de
ser literatura.
Quem
você acha que elas irão divulgar ad náusea, você, que com seu
esforço, talento e criatividade se propõe a educar gerações ou
quem escreve histórias bizarras, de vampiros, lobisomens e outros
quetais, de gosto sumamente duvidoso, totalmente supérfluas, quando
não idiotas e inúteis? Consulte a relação semanal dos livros mais
vendidos e você saberá em quem elas apostam.
Ademais,
a participação em feiras de livros, como enfatizei, não se
destina, sequer, a promover vendas. Não, pelo menos, como objetivo
primordial. Se estas aumentarem, tanto melhor. A vantagem principal
de participar desse tipo de evento é a possibilidade de você
conhecer pessoas e lugares e de veicular ainda mais e melhor as
ideias que o mobilizaram a escrever. Isso sim é idealismo legítimo,
porquanto ativo.
Quem
me conhece não pode me apontar jamais o dedo acusador e dizer que
sou mercenário em relação à literatura. Fiz, nas últimas duas
décadas, sem abrir mão de nenhuma das minhas obrigações
profissionais, conjugais ou sociais, roubando preciosas horas do meu
descanso e lazer, quase um milhar de palestras e conferências,
notadamente em escolas e centros culturais de várias partes do País,
divulgando minhas ideias sobre literatura e sobre a vida. O público
que me ouviu ascende a algumas dezenas de milhar. E sabem quanto
cobrei por toda essa superexposição, que me consumiu tanto tempo,
trabalho e estudo? NADA!!!! Que mercenário mais desastrado que sou,
não é mesmo?!!
Boa
leitura!
O
Editor.
Acompanhe o Editor pelo twitter: @bondaczuk
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