Recinfeliz
*
Por José Calvino
Recife cidade linda,
seu nome deriva dos arrecifes-
ligado ao mar
Sol, céu azul, mar azul,
águas mornas e mansas
e lanchas e jangadas...
Com
esse hábito de observar os movimentos e o que acontece, parece que,
aos olhos dos que me leem,
tornei-me um poeta-repórter a escrever sobre algumas observações.
Na segunda-feira (07/nov/11), chamou-me atenção uma cena inusitada
no centro do Recife. Do cinema São Luiz, do outro lado do rio
Capibaribe, um projetor digital exibia na parede externa do edifício
Trianon, outrora Cine Trianon (mais um prédio abandonado, onde à
noite flagelados dormem embaixo da marquise), imagens da capital
pernambucana e cinematográfica. Produção denominada Cinema de Rua,
reunida pela IV Janela Internacional de Cinema do Recife.
Na
terça-feira (08/11), foi exibido “O cinema e o espaço urbano do
Recife”: mostra de cinco curtas com abordagens e discursos dos
filmes... [Projetotorresgemeas]. Ao final, dois pênis eretos era
a metáfora escolhida pelo filme para os detalhes da situação de
desordem urbana do Recife. Na saída do cinema, para minha surpresa
agradável, encontrei a minha amiga Dilma Carrasqueira (a conheci
através do Literário), com sua maneira de se comunicar com o
próximo. Conversamos sobre a abertura do Festival, que foi uma
decepção, com filas desorganizadas, informações erradas etc.
Sinceramente, não assisti ao filme Febre do Rato, que o diretor
Cláudio de Assis disse ser uma declaração de amor ao Recife. Disse
Dilma que o filme se resume a drogas e sexo explícito. Acredito que
o diretor faz críticas sobre a cidade que se encontra desgovernada.
Estou sempre na expectativa e fico revoltado com esse desgoverno que
aí está. Há anos que venho denunciando o que acontece nessa
cidade. Para os leitores terem uma idéia da situação, transcrevo
em resumo, algumas publicações:
A praça Dom
Vital, no bairro de São José, estava florida, linda, linda. Meninos
brincando, turistas tirando fotografias do Mercado e da Igreja. Eu
via, da torre da Igreja da Penha, o Mercado de São José
(reconstruído com suas barracas ao redor; chegava a uma delas e
pedia um almoço com refrigerante, que gostoso! Mas isto tudo durou
pouco, porque foi um delírio provocado talvez pelo efeito da
cola-de-sapateiro (atualmente são pedras de crack, que os
traficantes abastecem as
bocas de fumo da Região Metropolitana do Recife), que momento depois
o conduzia passeando vagueiro pedindo a um e a outro dinheiro para
comer ou até mesmo, quem sabe, para
tomar uma cachaça... Era um dos meninos de rua,
contando o seu sonho espetacular com o contraste da realidade, antes
sendo censurado por uma senhora rica, que descera do carro dizendo:
“esses moleques, só presta matando”, esquecendo que já foi
criança e o amor fraterno é amor entre os que têm a mesma
aparência; o amor materno é amor pelos desamparados. (Jornal
do Commercio - 1992) - (Miscelânea Recife – p. 63)
Nos
meados de agosto visitei o Mercado de São José do Ribamar com o
fotógrafo francês François Poivret e fiquei decepcionado diante da
sujeira, da insegurança e do completo abandono. Sanitários
imundos... A fedentina trescalava em nossa tradicional referência
turística. Lá mendigos e prostitutas misturados pedem esmolas e
comida! Espanta a euforia de alguns xeleléus de politiqueiros...
Nosso lindérrimo Mercado do estado em que se encontra. Que diria o
grande engenheiro francês Vauthier ante esta visão?... (Jornal
do Commercio - 1997) - (Miscelânea Recife – pp. 64-5)
Se
o Brasil fosse um país equilibrado, a prefeitura do Recife seria
processada por crime de omissão no que diz respeito ao som
estridente quando são realizados shows no pátio de São Pedro.
Sempre, sempre, ficam testando no perturbador: “Alô, som, som,
som...,” e em mais de cem decibéis! Fora os trios elétricos
durante os eventos como o Recifolia, por exemplo, e carros de
propaganda por todo o grande Recife. E haja som com poluição sonora
infernal (atualmente carrocinha de som)!... (Jornal do Commercio
– 1997) - (Miscelânea Recife – p. 70)
Um
militar de alta patente aconselhou aos pais de adolescentes a
manterem seus filhos em casa à noite. Mas, é justamente à noite
que alguns jovens e adultos regressam do trabalho. É durante este
espaço de tempo que a maioria dos nossos filhos namoram. É o melhor
horário para ir ao cinema, teatro, shows, etc. À noite podemos
admirar o céu cheio de estrelas...À noite no Recife é jovem e
poética, só faltam zelo e segurança. Enfim, a noite é bela! Mas,
cadê a polícia? (Folha de Pernambuco - 1999) - (Jornal do
Commercio - 1999) - (Miscelânea Recife – p. 66)
Na
calçada do edifício Trianon, para o lado da Rua do Sol, colocaram
uma passarela cimentada (antes adaptada) em cima das pedras
portuguesas... A prefeitura deveria exigir a reposição das
tradicionais pedras como também consertar as calçadas
esburacadas... Até hoje nada! (Diário de Pernambuco –
2001)
Quem transita pela Rua Matias de Albuquerque, no centro do
Recife, está sendo prejudicado pela desordem das coberturas
irregulares..., conforme publicado na coluna JC nas Ruas, em 10 de
agosto de 2007. Esses estabelecimentos estão ocupando as calçadas...
Muito oportuna também a publicação no JC do artigo Pedras
portuguesas, que fala da troca do piso de pedras por lajotas de
cimento. Reitero ainda que além de o mosaico de pedra portuguesa ser
bonito, é um símbolo cultural de nossa cidade que, agora, contrasta
com os pisos de cimento... (Meu JC – 2008)
*
Escritor
e dramaturgo pernambucano.
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