Vide Bula
* Por Sayonara Lino
Relacionamento humano é uma
maravilha, um carnaval, com direito a confete e purpurina quando dá certo,
quando o diálogo é possível, quando os envolvidos fazem um mega-esforço para
respeitar as diferenças. Caso contrário, rogo, imploro aos responsáveis por
enviar os indivíduos ao mundo: mande um manual na próxima remessa, veja se o
lote está em perfeito estado, chamem uma equipe multidisciplinar em saúde
mental porque está dando uma trabalheira danada tentar decodificar.
Tenho que insistir no tema, pois
a quantidade de neuróticos, psicóticos – além dos que são apenas mimados e
torram a paciência – por metro quadrado está chamando minha atenção. A minha e
a de todas as pessoas preocupadas e envolvidas em situações anormais.
Eu, que escrevo diariamente, e
uso conexão discada, fui acusada de boicotar a comunicação aqui em minha
residência, entre dois membros de minha família. E quem fez a tal acusação
sempre foi uma pessoa equilibrada, sensata, com selo de qualidade garantida, enfim,
aprovadíssimo em todas as instâncias.
É assim mesmo que funciona em
certos casos: o sujeito passa a vida tentando manter uma conduta ilibada, aí
muda para uma megalópole, arranja vários compromissos, vira um ser multitarefa
e arranha a imagem que tanto preza por causa de qualquer bobagem.
Uma conhecida jogava pratos na
parede. Prato feito, com direito a legumes e verduras. Ira incontida, nada
ajeitava. Frustração é o epicentro das tragédias pessoais.
Uma amiga que eu adoro – ela vai
ficar fula da vida comigo – andou com um certo mau-humor e tem um vizinho
musicalmente eclético. O que ela fez quando o humor alterado não conseguiu
andar de mãos dadas com a Banda Calypso, Cláudia Leite e o grupo ABBA? Claro,
foi direto na fonte. Desligou a luz do rapazinho.
Eu mesma tive uma fase difícil,
de stress prolongado, em que não me suportava. Não entrarei em detalhes,
quem viu, viu, passou. Por sorte, tenho uma tendência gigantesca a procurar
ajuda especializada, caso contrário, não estaria juntando consoante com vogal.
Não vale a pena.
A vida está difícil, percebe-se.
Mas se houve como entrar em determinadas situações há de haver saída. É só não
se deixar dominar pela correnteza de loucuras que está angariando adeptos e
buscar um foco. Se nada disso ajudar, peça seu manual. Vide o verso, vide bula,
haja paciência para tanta confusão à espreita.
< · Jornalista, fotógrafa
e colunista do Literário
Em vez de roupa, lavou e enxugou louça em público, e fez isso bem. Está ruim? Coma menos!
ResponderExcluir