terça-feira, 28 de maio de 2013

Pernambuco mostra como se luta pela terra

* Por José Calvino

São muitos os movimentos de luta pela terra que surgiram pelo país afora nos últimos anos. E é bom que seja assim, porque os países que mais se desenvolveram na história das civilizações foram aqueles que implementaram suas respectivas reformas agrárias. Dividida com justiça, com fins de produção, a reforma agrária é o instrumento para alimentação de todo o planeta, porque através dela os agricultores familiares poderão plantar os alimentos que irão às mesas de milhões de famílias.

Os governos não podem fechar seus olhos, permitindo a existência de grandes latifúndios improdutivos de famílias abastadas, principalmente quando o tema surge como a grande ameaça do século: o mundo pode vir a passar fome. Que então se distribua a terra para quem a honra e nela quer semear.

No Brasil, Pernambuco é onde as lutas são mais intensas. Isso em muito nos orgulha. Desde o tempo das Ligas Camponesas, apoiadas pelo então governo de Miguel Arraes, nosso Estado é palco de honrosas batalhas. Com a ditadura militar dos anos 60, durante 20 anos muito foi abafado, quando não destruído. Mas, esse tempo passou, estamos em plena democracia.

A história não perdoará se neste momento essa situação não for regulamentada pela legislação brasileira. Se a bancada ruralista, que defende os interesses dos grandes latifúndios, inviabiliza qualquer ação nessa direção, que então a sociedade civil organizada eleja seus representantes para que estes assumam no congresso nacional a luta pela reforma agrária.

Destaca-se, nesse contexto, a atuação das federações de trabalhadores rurais de todo o país, representadas por sua Confederação Nacional, a CONTAG. Em Pernambuco, a Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Estado de Pernambuco (Fetape) vem atuando além da simples luta pela terra e exigindo que os governos dêem infra-estrutura, assistência técnica, crédito, educação e saúde aos agricultores que conseguiram seu pedaço de chão. Isso é muito mais que lutar pela posse de um local. É garantir qualidade de vida para o homem e a mulher que vivem no campo.

Enquanto outros movimentos invadem terras produtivas, a exemplo dos últimos atos do MST, a Fetape apenas reivindica a terra improdutiva, sem nela entrar, ficando acampados às margens dos limites legais que as cercas impõem, exigindo que se cumpra a lei a qual determina que toda terra improdutiva será destinada à reforma agrária. É civilizado que se faça política sindical dessa maneira. É legal que se lute pelo que se tem direito. Sem badernas. Mais uma vez, Pernambuco dá o exemplo.

*Escritor, poeta e teatrólogo. Blog Fiteiro Cultural – http://josecalvino.blogspot.com/


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