Vossa excelência é veado?
* Por
Orlando Silveira
O fato indiscutível é que o dedão
do pé direito já estava em carne viva, sem que o bicho do pé desse sinal de
morte. Ou de vida. Nem poderia. Era imaginário. Existia apenas na cabeça do
velho marinheiro, nosso imbatível lobo do mar, homem de muita experiência,
poucas palavras, paciência nenhuma. Sem saber dos riscos que corria, o
candidato deitava falação para aquela plateia miúda, mas atenta, porque a
conveniência gera milagres.
Enquanto o homem, sem corar nem
desbotar, impávido colosso, prometia mundos, fundos e um bocadito mais para
toda a humanidade e emprego dos bons para todos os presentes – uns dez gatos
pingados, no máximo –, o velho marinheiro confrontava a foto do santinho com a
imagem ao vivo da triste figura. Não se conteve:
-- Afinal, qual é a cor original de seu cabelo? Acaju é que não é. Asa da graúna não pode ser.
-- Afinal, qual é a cor original de seu cabelo? Acaju é que não é. Asa da graúna não pode ser.
Político tarimbado, o candidato
se fez de surdo. E deu vazão à cantilena ordinária:
-- Amigos, eu não posso resolver tudo. Mas farei de tudo para tudo resolver. Em nome de meu povo, por amar cada um de vocês, a começar por este senhor tão fofo.
-- Amigos, eu não posso resolver tudo. Mas farei de tudo para tudo resolver. Em nome de meu povo, por amar cada um de vocês, a começar por este senhor tão fofo.
O velho marinheiro se inquietou e
quis saber:
-- Fofo? Quem é o fofo aqui?
-- O senhor, meu lindo.
-- Não me faltava mais nada. Já
devia ter morrido. Estou fazendo hora extra. Vou cochilar. Mas, antes disso,
com o perdão da pergunta indiscreta: Vossa Excelência é veado?
*
Jornalista
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