Sociedades humanas precisam de leis
* Por Mara Narciso
Quando o ser humano caiu em si e sentiu que era um animal social,
precisou ordenar os grupos primitivos, então foi necessário criar leis. Alguns
códigos já existiam, mas as leis vieram na forma de dez mandamentos ou
conselhos. É preciso sim, haver uma autoridade a ser respeitada e obedecida. É
bom que se tenha um dia de descanso para nutrir o espírito, pensar, descansar.
Respeitar os pais e protegê-los, assim como aos filhos, o que é primordial para
manutenção da família, o princípio de tudo. Não matar, não furtar, não cometer
adultério, não cobiçar o que é do outro, não mentir. Temos aí normas de
conduta.
Para os católicos, quem não cumprir um dos mandamentos, descumpriu a
todos, pois são indissociáveis. O também chamado decálogo, nas diversas
religiões vê seus alertas se juntarem e se separarem conforme àquilo que se
queira dar maior ênfase. As tábuas da lei foram importantes e ordenaram os
bárbaros, pois delas foi tirada inspiração para organizar a sociedade.
Cumpri-las, em última análise, beneficiaria seus seguidores.
Uma horda de pessoas sem freios precisava de alguém para lhes apontar o
caminho, e isso foi feito, segundo a Bíblia, por Moisés, que libertou o povo
prometido da escravidão no Egito e lhes trouxe do Monte Sinai as leis escritas
por Deus. Assim foram determinados grandes preceitos éticos, sendo os quatro
primeiros, relativos à autoridade do Criador, e os demais relativos ao próximo.
Os dez mandamentos foram princípios civilizatórios determinantes para os
povos primitivos e ainda hoje são indicativos de bom comportamento. Deixando-os
de lado e indo para os sete pecados capitais, pode-se ver que o seguimento dos
mandamentos e a abstenção dos pecados se complementam para formar uma sociedade
mais ordeira. Para ajudar a educar e controlar pessoas, os sete pecados, tidos
como vícios, foram proibidos. Embora as grandes emoções estejam nos extremos
(haja vista os esportes radicais), a virtude está no meio termo, e o combate
aos excessos busca proteger a sociedade. A prática de vícios é decorrente de
instintos humanos primitivos, irracionais e urgentes. Considerados condenáveis,
devem ser evitados para o bem individual. São eles: gula (cobiça), avareza
(idolatria, adoração de coisas), luxúria (paixões, prazeres carnais), ira
(fúria), inveja (ciúme), preguiça (ócio) e soberba (vaidade, orgulho).
O tempo social ameniza pecados e muda o nome das coisas. A condenável
gula foi mudada para ansiedade; a avareza foi transformada em planejamento para
o futuro, luxúria virou a satisfação do desejo e a obtenção do prazer imediato
e sem limites; explodir em ódio no trânsito ou em outro lugar é se defender e
não levar desaforo; a inveja é estimulada pelos meios de comunicação e é a
razão de ser da publicidade, calcada no desejo de ter; a preguiça foi
incentivada pelos avanços tecnológicos e seu apertar de botões, e a vaidade é
fomentada pela máxima de que só tem valor o que é jovem e belo. A sociedade de
consumo, permissiva e com valores antagônicos ao combate de pecados tornou
ainda mais difícil não cometer erros.
O orgulho não sai das telas. São tantos gestos de desdém, com gente
grande espezinhando os menores, que há quem nem repare mais. Incentivam-se as
pessoas a ser e a ter, e se esquecem de dar-lhes educação. O que se vê é gente
desprezando as demais. A generalização comete equívocos, mas todos tendem a
querer passar por cima dos outros. Esses paradigmas sociais acabam se
contrapondo às sete virtudes: castidade (abstinência), temperança (moderação),
generosidade (desprendimento), paciência (serenidade), diligência (presteza),
caridade (compaixão) e humildade (modéstia). Seriam características de pessoas
que tendem a praticar o bem.
Como buscam se oporem aos pecados capitais, as religiões estimulam o
desenvolvimento das virtudes, e consideram que a sua prática leve ao encontro
da felicidade. Cuidar do corpo engrandece ao espírito e constrói um bom
cidadão, embora seja uma fala moralista que foge ao senso-comum. Assim, há
pessoas contrárias a prática de parte delas.
Encerrando: é possível mudar palavras e flexibilizar leis, mudar o
conceito de pecado e adaptar a prática de virtudes conforme a época, porém o
respeito ao próximo e a prática do bem – mesmo que não saibamos a exata
definição disso -, precisam ser intocáveis.
*Médica endocrinologista, jornalista
profissional, membro da Academia Feminina de Letras e do Instituto Histórico e
Geográfico, ambos de Montes Claros e autora do livro “Segurando a
Hiperatividade”
Acho muito válida a tese que você defende, e gostei da "releitura" dos mandamentos e pecados capitais aos novos tempos. Ótimo, Mara.
ResponderExcluirAgnóstica que sou, desde os 16 anos de idade (tem bastante tempo portanto) levei as proibições e pecados para o lado da organização da sociedade. É um pouco como a minha mãe nos dizia sobre os dez mandamentos, Marcelo. Acrescentei os pecados capitais e as virtudes. A população anda tão ocupada e com pressa, que nem sabe mais o que sejam essas coisas. Obrigada pela atenção de sempre.
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