A farsa do perdão
* Por
Gustavo do Carmo
Tem umas pessoas
“cheias de paz” por aí que ficam dizendo que o perdão faz bem... que o ódio faz mal para a saúde... Pura
balela. Quando essa gente fica magoada não perdoa de jeito nenhum. Sequer pede
desculpas. Se disser que perdoou está mentindo.
Eu mesmo passei por
essa situação. Falo por experiência própria de quem não foi perdoado. Quem eu
realmente magoei, até compreendo. Já briguei com um amigo de bobeira, culpa
minha, e pedi perdão logo em seguida. Ele teve a humildade de responder que não
queria retomar a amizade naquele momento. Esperei. No aniversário dele, meses
depois da briga, tomei coragem e lhe desejei felicidades. Ele aceitou e fizemos
as pazes. Ele foi exceção.
Antes, fiquei magoado
com uma colega da primeira pós-graduação que eu fiz e única que eu terminei.
Procurei-a como se não tivesse acontecido nada. Ela respondeu educadamente. Mas
não me procurou mais. A amizade que a gente tinha não era mais a mesma. Lembrei
daquele ditado “Amizade é igual pata de cavalo. Quando quebra não é mais a
mesma”. Ah! Tem aquele também que diz “Amizade é igual papel: quando você
amassa e depois desamassa nunca mais fica como era antes”. Nunca mais a
procurei. Mesma coisa para o meu principal colega na faculdade de jornalismo,
que não me procurava depois que nos formamos, e
quando eu procurava me tratava com frieza.
Com outra colega de
outra pós-graduação, que, aliás, eu abandonei no final, também me desentendi.
Ela me boicotava nos trabalhos de grupo. Fazia corpo mole. Mesmo tendo razão na
minha mágoa pedi desculpas. A primeira ela aceitou, mas me enganou de novo,
repetindo o corpo mole. Na segunda, ela disse que aceitou, mas foi fria demais.
Foi mais calorosa pra falar das afinidades com outro colega da turma do que pra
me perdoar. Fiquei com tanta raiva desse suposto envolvimento amoroso entre
eles que eu nem respondi ao tal e-mail.
Meses depois, tentei
readicioná-los no Facebook, como se não tivesse acontecido nada. Eles não
aceitaram. Aí caí na asneira de reclamar. Fui dizer que o ódio estava me
fazendo mal. Encerrei a mensagem os chamando de traidores. Cheguei até dizer
que o cara só usava as palavras de Deus (ele é evangélico) para cantar a mulher
dos outros (ela era casada com um senhor de idade). Nem se deram ao trabalho de
responder à minha mensagem suplicante e raivosa ao mesmo tempo. Não sei foi por
causa do teor da mensagem ou porque são falsos mesmo.
No ano passado, por
causa de uma ironia com o tempo de gravidez feita por um seguidor no Twitter
que eu fiz questão de repassar, um cara que se dizia meu amigo, metido a
jornalista esportivo, disse que bloqueou o cara só porque não gostou da
mensagem. Respondi de brincadeira que ele estava sendo mal-humorado, que não
estava levando na brincadeira. E o jornalista me bloqueou. Eu também o bloqueei
e nunca mais visitei o site caseiro dele. Até agora não veio me pedir
desculpas. Deve estar achando que eu não respeitei a opinião dele. Dane-se. Não
vou procurá-lo. Eu tenho razão.
Foi com esses dois casos
que eu cheguei à conclusão de que esse discurso de que perdão faz bem pro
coração é pura balela. Ódio e rancor só fazem mal para quem é fraco ou não tem
amigos. Porque essas pessoas “cheias de paz”, que têm uma rede de
relacionamentos enorme e estão estabilizadas no emprego nem precisam sentir ódio
e pedir perdão de gente que eles mesmos desprezam, porque não vai lhes fazer
falta nenhuma, pois têm um milhão de amigos. Falsos, mas têm.
* Jornalista e publicitário de formação e escritor
de coração. Publicou o romance “Notícias que Marcam” pela Giz Editorial (de São
Paulo-SP) e a coletânea “Indecisos - Entre outros contos” pela Editora
Multifoco/Selo Redondezas - RJ. Seu
blog, “Tudo cultural” - www.tudocultural.blogspot.com
é bastante freqüentado por leitores
Respeito sua opinião Gustavo. Amizade é um "trem" complicado ás vezes. Houve um tempo em que me senti abandonada pelos amigos, até então eu desconhecia o mundo virtual, eis que uma cortina cai e me sinto abraçada por dezenas de pessoas, todas amigas.
ResponderExcluirAté que...palavras mal ditas, equívocos aqui e ali e num segundo você se vê só novamente. Aprendi a dar um tempo para o outro, aprendi que é preciso espaço na net também, aprendi a ser mais cuidadosa e sim, a pedir desculpas quantas vezes for preciso, desde que esse gesto não me arranhe, nem me doa. Tenho bons amigos aqui e ali, mas se um dia eles me esquecerem, não tem problema...a vida não é assim? Abraços Gustavo.
Sem querer vamos acumulando inimizades vida afora. Gente confiável é uma raridade, mas existe. Prefiro agir com mais cautela e não me expor demais, embora, escrevendo, costumo mostrar-me com o defeito da franqueza (sem ofensas, contudo).
ResponderExcluirÉ um problema que enfrentaremos até o fim... Infelizmente!!!
ResponderExcluirAbração, Gustavo!