Ninon
Sevilla
*Por José Calvino
“E eu fico por aqui,
sassaricando”. Ninon Sevilla, Rio-1954
O cinema Rivoli de Casa Amarela, no Recife, nos
anos 50 exibia muitos filmes proibidos para menores de 18 anos de idade. As
artistas Ninon Sevilla, Maria Antonieta Pons e Brigitte Bardot eram símbolos
sexuais. Quantas“punhetas” com aquelas imagens!, principalmente a rumbeira e
atriz cubana Ninon Sevilla, que a comparava com Cuquita Carballo, ou Carbajo?
Seria amor? Qual nada! Era mais uma excitação sexual que todos jovens têm...
No cine Rivoli, ia passar na soirée o filme
anunciado: Uma Aventura no Rio – Sinopse “É a história de um médico psiquiatra
mexicano, que vem ao Rio participar de um congresso médico. Sua esposa vem
também e, aqui no Rio, sofre uma crise de amnésia. Uma outra mulher morre
afogada no cais e é identificada como a esposa do médico, que desaparecera,
perdida na cidade, devido à amnésia. O médico parte para o México, julgando
morta a esposa. E eu fico por aqui sassaricando...”
A fila estava enorme, eu tinha meus 15 anos,
desempregado, estava mais liso que mussum. Adolfo Mascarenhas de Morais,
respeitado em Casa Amarela por ser parente do Marechal Mascarenhas de Morais,
havia providenciado uma carteira da Sociedade de Proteção aos Animais, com as
letras garrafais em vermelho FISCALIZAÇÃO – no verso: “Decreto Federal... As
autoridades Federais, Estaduais e Municipais...”. Então, resolvi assistir ao
filme dando uma de fiscal e o porteiro ao olhar a carteira disse:
- Aqui não tem bicho.
- Não tem o leão da tela?
- Tá confiando no dotô Mascaranhas, é?
Nisso vai chegando Mascarenhas, acompanhado do
gerente e esposa.
- Deixa o galego assistir o filme da boazuda, amiga
do doutor Mascarenhas! – disse o gerente.
Vocês, leitores, não imaginam a curiosidade que
senti quando Adolfo Mascarenhas disse que foi ao Rio assistir às filmagens em
Copacabana. Ele contava que era amigo de Ninon, que ela era espontânea, que
curtiram o banho de mar, aquele calor humano, narizinho arrebitado, linda,
linda... e os mais velhos não acreditavam na conversa de Adolfo. Mas, as
aventuras contadas por ele, pra mim, eram gratificantes. Parecia que estava
vendo ela levantar a saia à altura da barriga, exibindo a calcinha e suas belas
pernas...
Ah, Ninon, naquele tempo se houvesse uma
oportunidade, com certeza eu lhe diria: “Vamos conhecer em Recife as praias do
Pina, Boa Viagem, Candeias... olhar o mar de Olinda e conversar curtindo as
paisagens do Morro de Casa Amarela.
A humanidade deveria ser uma grande e harmoniosa família.
Na igreja da Harmonia, cantavam a oração de São Francisco de Assis:
“(...) consolar, que ser consolado;
compreender, que ser compreendido;
amar, que ser amado.
Pois é dando que se recebe,
é perdoando que se é perdoado,
e é morrendo que se vive para a vida eterna!”
- Eu vou pra igreja. É melhor do que tá ouvindo as
mentiras de Mascarenhas!
- Chico, vai tomar no cu.
*Escritor, poeta e teatrólogo. Blog
Fiteiro Cultural – http://josecalvino.blogspot.com/
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