quinta-feira, 28 de outubro de 2010











Vem que é bom!

* Por Fernando Yanmar Narciso

É fácil ficar feliz quando a gente é criança. Com ajuda de uma imaginação fértil um graveto no chão pode virar um sabre de luz ou a marreta biônica do Chapolin Colorado. Eu que o diga: Ainda sou fanático por gravetos!
Apesar de ter sido hipercinético durante a infância, passei a maior parte daqueles golden years na frente do “caixotão preto” (Well, no meu caso uma Telefunken de madeira e uma Philco-Hitachi com controle remoto embutido – AQUILO sim era TV!). Ainda tenho dúvidas, se a programação da TV era uma porcaria e a mente da criança lhe dava magia, ou se os programas infantis eram mesmo superiores aos de agora. Entre Xuxa e Bozo, adivinhem quem eu preferia? Entre Beakman e X-Tudo? Entre Vila Tiririca e Castelo Rá-tim-bum? OK, peguei pesado dessa vez…
A melhor coisa era juntar a cambada de primos nas férias na casa de minha avó pra acampar na sala de TV nos fins de semana. Brincar com o Castelo de Greyskull e os bonequinhos de Jaspion e Comandos em Ação, montar pistolinhas com Lego e fazer bang-bang no alpendre, balançar na rede até ela quase se rasgar, bancar o Homem- Aranha e escalar as paredes do corredor, subir nos pés de araçá, pitanga e seriguela. E, às 4 da tarde, arrematar uma bacia inteira de pururuca salgada com suco, ou fatias de pão com margarina Alpina e café melado. Aaaaaaah, cada lembrança…
Na TV, se não estávamos vendo os Trapalhões, Van Damme e Karatê Kid na Sessão da Tarde, heróis e desenhos japoneses estavam a 6 botões de distância. E ninguém reclamava da programação, pois ainda existia a Sessão Aventura no fim da tarde com Magnum, McGyver e, dependendo do humor de Roberto Marinho, algumas séries japorongas esquecíveis, como Shaider e Bicrossers. Mas nós que não nos atrevêssemos a dar um pio durante a novela ou o noticiário! Naquele tempo, até ficar olhando feito um babaca pro color-bar do SBT às 6 da matina ou para a tela preta de “contagem regressiva” da Manchete era socialmente aceitável entre os pirralhos. Mas, como o progresso manda, em 1997 aquela caixa de madeira de 20 polegadas foi jogada pela janela e substituída por uma (na época) faraônica televisão Gradiente de 34 polegadas!
Um verdadeiro orgasmo televisivo! A família toda se reunia em volta do paquiderme para admirar seu tamanho descomunal, mesmo quando estava desligada. Claro que uma TV enorme pede por uma variedade maior de canais. Os oito que haviam nos acompanhado até então não eram mais suficientes. A Mastercabo (Na época Vídeo Cabo), empresa de TV por assinatura seminal da cidade, veio nos salvar. Para alguém acostumado a ver TV Cultura, Globo, Band, SBT, Record e Manchete desde que nasceu, acrescentar mais 25 canais – quantidade absurda na época para um bando de jacus que nem a gente – era o Jardim de Éden televisivo!
Apesar de ainda ser uma empresa de fundo de quintal e os canais viverem dando “creca”, continua acompanhando minha vida mesmo depois de a minha avó ter morrido. Naquele tempo, canais por assinatura PARECIAM de fato canais por assinatura. Todos eram mais coloridos, agitados e opostos em absoluto à sisudez e à caretice da TV aberta. Dos 13 aos 16 anos, contava os dias de semana que faltavam até eu poder me deitar no colchonete naquela sala de TV e varar a noite assistindo o canal por assinatura mais importante de toda minha vida: CARTOON NETWORK! Não riam, por favor.

Meu primeiro contato com esse canal foi em 1996, em Belo Horizonte. Havia um Pizza Hut onde fica hoje a Drogaria Araújo da Savassi, que exibia o canal às sextas num telão no pátio. Era um canal tão vanguardista, tão esquizofrênico, tão cheio de… De animações amadoras vindas de todos os cantos do mundo (eles colocavam no ar QUALQUER COISA, desde que fosse animado), e com umas vinhetas tão bizarras e absurdas, envolvendo montagens tanto de personagens clássicos como modernos, que só podia capturar meu coração!
Ficava até 1:30 da madruga fazendo um esforço hercúleo para continuar assistindo e depois acordava às 5 para voltar ao “batente”. Por incrível que pareça, na época valia – e MUITO! – a pena encarar essa maratona. Desenhos clássicos e novidades eram mesclados à perfeição, não havia horários ingratos, sequências de Pernalonga e Patolino, Popeye, Tom & Jerry, Hanna-Barbera, Speed Racer, G-Force, Space Ghost, etc. ocorriam quase toda semana. Era um primor de canal! Mas aí…
Lição de vida, kids: Toda vez que um canal muda sua identidade visual, a programação piora. A Globo vem nos ensinando isso desde que “Titio Roberto” era vivo, e com o velho Cartoon Network não foi diferente. Em 2005 veio a primeira mudança estética em 13 anos. Saíram as cores fortes, o ritmo frenético e as vinhetas surreais e entraram as misturas de animação tradicional com CG (Computação gráfica) e o clima gélido das produções modernas. Os narradores engraçadinhos ou morreram ou saíram do canal, dando lugar a uma narradora que, se não tiver sido escolhida num aeroporto, eu não entendo nada de televisão. Sem falar na miserável época do design minimalista, que se encarregou de detonar a logomarca clássica do canal, que chama tanto a atenção como um copo cheio de ar. Uma lástima, considerando como o canal já foi maravilhoso…
E, como o que importa é me lembrar daqueles tempos em que eu fui feliz, o Cartoon Network de 92 a 2004 permanece insuperável. Cartoon a-doodle-doo!

* Fernando Yanmar Narciso, 26 anos, formado em Design, filho de Mara Narciso, escritor do blog “O Blog do Yanmar”, http://fernandoyanmar.wordpress.com

2 comentários:

  1. Bons tempos aqueles em que os desenhos
    nos distraiam com um certo toque de
    ingenuidade.
    Ótimo texto.
    Abração

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  2. A sua paixão pelos desenhos foram providenciais para o equilíbrio familiar. As confusões se reduziam e você ficava deveras feliz em frente da TV. Ótimas lembranças.

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