sábado, 2 de outubro de 2010


Eleições, excelente tema


As eleições, não importa em que nível, onde ou para qual função, encerram um potencial de dramaticidade muito grande e são excelente tema literário, principalmente de ficção: romances, contos e novelas. Tive a felicidade de ler inúmeros livros enfocando o assunto (quer brasileiros, quer não), cujos títulos exatos não me lembro, mas que tenho os enredos na memória. O leitor, inteligente e informado como é, certamente se lembra de algum livro tendo as eleições por assunto central.
Eu mesmo já explorei o tema, posto que não diretamente, mas de forma incidental. Foi no conto “Estrelinha”. Nele, os protagonistas do enredo se conheceram em um comício com vistas a eleições municipais. Indiretamente, portanto, o processo eleitoral serve de pano de fundo e é fundamental nessa história. Pretendo um dia escrever muito mais a respeito.
A ambição pelo poder, e a sua disputa (não importa se com o recurso à violência ou se por meios democráticos) sempre se constituíram num tema fascinante. O processo eleitoral, desde a definição de um candidato, estruturação de uma campanha, formação da sua equipe, até a busca por alianças, apoios e financiamentos, entre outras providências, envolve estratégias muito bem estudadas, nem sempre limpas é verdade (ou pelo menos não éticas), mas que se repetem aqui, ali e acolá a cada pleito.
Devemos, a rigor, esse processo democrático de escolha dos nossos governantes e/ou representantes aos nossos remotíssimos antepassados da Grécia Antiga, mais especificamente da cidade-Estado de Atenas, cujos políticos, se vivos, nos dariam lições e mais lições de uma busca honesta pelo poder e sua manutenção através de consenso e não da força. Aliás, os atenienses criaram uma forma original e civilizadíssima de combate à tirania, sem recorrer à violência e às armas. Trata-se do “ostracismo”.
E no que esse processo consistia? Era uma forma de punição política adotada em Atenas no ano de 510 AC, proposta por Clístenes, que vigorou por quase um século, até 417 AC. Destinava-se, como ressaltei, a prevenir a tirania. O político que ousasse propor projetos (ou promovesse votações) dos quais viesse a se beneficiar diretamente, era candidatíssimo a ser punido pela população. E não dependia de nenhuma decisão de um Judiciário e nem de toda a enrolação burocrática que caracteriza os processos atuais.
Já imaginaram se a moda pega, digamos, no Brasil? Meio mundo teria a cabeça a prêmio, sem dúvida. A votação sobre se o infrator era culpado ou não era feita, inicialmente, pela Assembléia de Atenas. Caso fosse considerado inocente, não se falava mais nisso. Se culpado, todavia, era convocada, dois meses depois, toda a população a votar.
O voto era secretíssimo e depositado na concha de uma ostra (daí a expressão “ostracismo”). Se o sujeito fosse condenado, não iria para a prisão e nem sofreria nenhum tipo de violência física. Era, simplesmente, banido, segregado por seus conterrâneos e obrigado a se exilar, pelo prazo de uma década. Nem seus bens não eram confiscados. Ficavam sob a guarda do Estado pelos dez anos em que não poderia passar sequer nos arredores de Atenas.
Vários homens públicos atenienses, com vocação para se tornarem tiranos, acabaram punidos com o ostracismo. O primeiro foi Hiparco. Vieram, a seguir, Megacles, Jantipo (o pai de Péricles) e Aristides, entre outros. O caso deste último foi dos mais pitorescos. Ele era tido e havido como cidadão exemplar, cumpridor de todos os deveres cívicos. Seus adversários procuravam deslizes em sua conduta, em vão. Enquanto isso, Aristides denunciava, sucessivamente, políticos e mais políticos com potencial para a tirania, que, salvo raras exceções, eram punidos com o ostracismo. Até que um dia... Chegou sua vez. Seu nome foi proposto para a punição.
Mas como? Ele não era cidadão exemplar? Era! E por que foi denunciado? Por ser certinho demais. Seus conterrâneos entenderam que virtude em excesso era defeito na verdade. Observe-se que, para alguém ser denunciado, o denunciante não precisava, sequer, provar a denúncia e muito menos justificá-la. A decisão final ficava a cargo da população de Atenas. E, dessa forma, Aristides foi banido por dez anos. Sua “perfeição” era um baita incômodo para os atenienses, que optaram por se livrar dele.
Já imaginaram que excelente romance de época o ostracismo pode ensejar?! Claro que para ser redigido, o escritor terá que trabalhar bastante. Precisará conhecer muito de história, principalmente a da Grécia Antiga. Terá, ainda, que estudar hábitos, linguajar, indumentária e outras tantas coisas mais daqueles tempos tão remotos. Entendo, no entanto, que se for um sujeito talentoso e persistente conseguirá produzir um best-seller e, sobretudo, delicioso de se ler. Para não deixar as coisas no ar, informo que o último demagogo punido pelo ostracismo foi Hiperbolo, em 417 AC. Vocês já imaginaram se o método estivesse em vigor aqui no Brasil de 2010? Seria um Deus nos acuda!!!

Boa leitura.

O Editor.

Um comentário:

  1. Conheço a fama dos épicos e dos filmes que renderam, mas não acho fidedignas s descrições, e imagino que caiam mesmo na ficção. Sendo assim ainda prefiro os tempos atuais. Eleição, de fato, é um tema que apaixona.

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