Habitação
*
Por
Abílio Pacheco
Há
um silêncio seco percorrendo as paredes da casa:
Ratos
roem roupas sujas esquecidas nos sofás,
fazem
seus ninhos entre os nossos tecidos
e
mijam nas loucas adormecidas sobre a pia;
Baratas
revoam sobre a mesa da sala
são
insetos burocráticos, bibliófilos, alfarrábicos
que
se fartam nos papéis, cartas, revistas e jornais
que
há dias estão reunidos na mesa de jantar;
Grilos
entoam acordes de árias desafinados
e
muriçocas lhes riem finos gargalhos;
Formigas
carregam as migalhas da última ceia
da
ceia de ontem, da ceia de sempre;
Urna
única mariposa tenta a morte em vão na luz da sala;
E
aranhas ressecadas nos telhados podres
permanecem
estáticas à teia urdida
Enquanto
os gatos, os cães,
os
homens estão perdidos pelo mundo.
* Poeta e diplomata de
carreira, autor dos livros “As peças ligeiras”, “Jardim de
inverno” e “A volta”.
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