domingo, 15 de fevereiro de 2015

Todos dias eu digo


* Por Nei Duclós


Todos os dias eu digo:
escreverei um poema
Todos os dias eu falho
escrevo acontecimentos

O poema é a notícia
que não veio
que ficou no meio
censurada pelo tempo
(pela caneta
de um funcionário alheio)

Pois o tempo é exigente
e exerce o medo
como um cão no jardim
de olho azedo

Todos os dias eu pulo
no quintal seco
e sou mordido no ventre
(lugar onde o vento
não chega)

De mim nascerá um filho
talvez eu mesmo
que não morrerá tão cedo

Até lá
mil gerações
tombarão antes do tempo
(a eternidade não tem
a pressa que eu tenho)


* Autor dos livros de poesia: “Outubro” (1975), “No meio da rua” (1979) e “No mar, Veremos” (2001); e do romance: “Universo Baldio” (2004). Jornalista desde 1970 e bacharel em História. Trabalha em Florianópolis, onde é editor-executivo de duas revistas.



2 comentários:

  1. Quem ilustra o poema? Quem é a pessoa que está imagem?

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  2. Um blog que pensa não pode ficar mudo. Quem é a pessoa que está imagem?

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