À mesa, como convém
* Por Daniel Santos
Após décadas de
raros contatos, quando abraçamos carreira e deitamos prole, nos reencontramos
no aniversário de um camarada da velha guarda com expectativas que, afinal, se
frustraram.
Pensei, de
início, que o problema era da mesa. Remediados desde a época da faculdade,
comíamos o trivial simples; não, aquele escargot que nos pareceu uma espécie de
lesma com grife.
Coberta por fina
toalha de renda, além de cristais, pratarias, louça chinesa e perfumosos
candelabros, a mesa rebrilhava suntuosa. Tanto requinte mais nos intimidava do
que açulava nosso apetite.
Dessa forma, no
entanto, o anfitrião alardeava sua prosperidade. Mas não só ele. A maioria de
nós, em tagarelice compulsiva, se esforçava por dar veracidade a histórias de
sucesso pessoal.
Não comíamos mais
juntos! – grande escândalo e grande verdade ... que afinal se impôs ao encontro
logo encerrado. Ficamos de marcar nova reunião; ano que vem, talvez. Ou no
outro, quem sabe. A confirmar.
* Jornalista
carioca. Trabalhou como repórter e redator nas sucursais de "O Estado de
São Paulo" e da "Folha de São Paulo", no Rio de Janeiro, além de
"O Globo". Publicou "A filha imperfeita" (poesia, 1995,
Editora Arte de Ler) e "Pássaros da mesma gaiola" (contos, 2002,
Editora Bruxedo). Com o romance "Ma negresse", ganhou da Biblioteca
Nacional uma bolsa para obras em fase de conclusão, em 2001.
Conheço o processo. Aparecer é mais importante do que conviver.
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