Filosofia
de banheiro
* Por Rodrigo
Ramazzini
Era véspera de feriadão. Augusto,
aproveitando a folga, programou uma visita aos pais, que moravam em uma cidade
a pouco mais de uma hora e meia de ônibus. Chegou à rodoviária, e como sempre
acontece nestas ocasiões, as filas dos guichês para compra de passagem estavam
lotadas. Demorou cerca de vinte minutos para ser atendido. Comprou a passagem,
porém, o horário de partida do ônibus seria somente dali a uma hora. Resolveu,
então, sentar-se em uma pequena lanchonete para comer um pastel e tomar um
refrigerante.
Comprou um vultoso pastel de carne
calabresa e um refrigerante de dois litros, pois o único que gostava só tinha
nesta quantidade. Ficou a saborear o pastel e a tomar o refrigerante por uns
trinta e cinco minutos. Satisfeito, levantou-se e se dirigiu ao banheiro, pois
o um litro e meio de refrigerante que ingerira já estava fazendo efeito.
Com a rodoviária lotada, o banheiro
estava sendo bastante utilizado. A fila iniciava na porta e ganhava uma boa extensão.
Augusto entrou na fila e ficou a esperar a sua vez.
Quando estava quase entrando no
banheiro, e a vontade de urinar era grande, Augusto olhou o relógio e viu que
faltavam cinco minutos para a partida do seu ônibus. Com medo de perdê-lo,
pensou: “Eu agüento”. E saiu da fila, rumando para o box de embarque.
Embarcou no ônibus e sentou-se na
poltrona 33, ao lado da janela. Na poltrona “do corredor”, uma senhora, com os
cabelos fortemente pintados de preto e uns óculos com lentes bastante grossas,
lhe faria companhia pela uma hora e meia de viagem que os aguardava.
Passados quinze minutos de viagem,
Augusto começou a sofrer devido à grande vontade de urinar. A sua bexiga
parecia ter enchido por completo. Mesmo com dificuldades e gemendo um pouco,
conseguiu averiguar que o ônibus não possuía banheiro. Passando a mão pelo
rosto, limpou uma gota de suor e abriu a janela para entrar um ar, pois o
ônibus também não tinha ar-condicionado.
Certo alívio viera, mesmo com o olhar
apavorado da senhora ao seu lado, quando Augusto, em um ato extremo, abriu o
cinto e o zíper da sua calça. Deixou escapar um “ufa”, mas a sensação de
“conforto” não durou muito, pois parecia que a cada segundo mais lhe enchia a
bexiga.
O tempo não passava. Também pudera,
Augusto olhava de três em três minutos para o relógio. O “aperto” já lhe
causava dores na região da barriga. Gotas de suor escorriam por suas frontes.
Visto o desespero que se encontrava, pensou em pedir para o ônibus interromper
a viagem por um instante, para que ele pudesse urinar em um mato qualquer.
Com os olhos fechados, Augusto
respirava profunda e lentamente. Foi quando sentiu que o ônibus parara. Havia
chegado ao seu destino. Enfim, estava na rodoviária.
Mesmo em apuros, Augusto foi o último a
desembarcar do ônibus. Com cuidados, pois não queria que ocorresse qualquer
acidente nas calças, rumou até o sanitário mais próximo.
Ingressou no banheiro, viu uma “vaga”
em aberto, fechou a porta, levantou a tampa do vaso sanitário e: “Aaaaaaaaahhhh!”.
Foi então que, enquanto desaguava uma
“Cataratas do Iguaçu”, Augusto viveu um momento filosófico no banheiro, quando
ao olhar para frente, viu escrita na parede a frase que o deixou vários dias a
refletir até entendê-la: “O futuro está em suas mãos!”.
*
Jornalista e cronista
Quase sem beber preciso ir ao banheiro cada duas horas. Com um litro e meio eu teria ido uma dez vezes. Pobre rapaz. Boa história.
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