O dinheiro não traz a felicidade?
* Por
Isabel Furini
É muito interessante
perceber que a maioria de nós muitas vezes fala frases impensadamente. Temos
frases comuns que nos levam por caminhos que não pensamos, é comum dizer “matou
por amor”, “o amor domina o mundo”, “a honestidade é a melhor política”,
“dinheiro não traz a felicidade” e outras.
Lamentavelmente
nenhuma dessas afirmações resiste ao pente fino. Quando filtramos essas frases
vemos que não se adaptam à realidade. A primeira já foi discutida por
psicólogos. Ninguém mata por amor, em geral, quando uma pessoa ciumenta mata a
sua namorada, ou namorado, falamos “matou por amor”, mas a causa não é o amor,
é o ciúme.
Outra frase que leva a
discussões é dizer que “o amor domina o mundo”. Será? No mundo, seja
empresarial, social, político, quem domina é o jogo (ou joguinho) de poder. Um
quer mostrar que é superior ao outro, ou um quer dominar o outro ou usar o
outro como degrau para subir mais alto. Existe amor nas relações
internacionais? Entre sérvios e bósnios? Entre árabes e judeus? Entre ateus e
crentes? Entre ricos e pobres? Os Estados Unidos “ama” e protege os países
subdesenvolvidos ou aproveita para sugar as riquezas naturais? Às vezes é
difícil entender o porquê dessa frase romântica: o amor domina o mundo. Se o
amor dominasse mesmo, este mundo seria quase um paraíso.
Eu também pensei
durante muito tempo que a honestidade era a melhor política – e como criei
inimigos por essa minha compulsão à honestidade. Uma vez uma aluna me disse que
em uma festa um bêbado brindou à memória do pai morto fazia pouco tempo e
disse: “Obrigado, papai, graças a você eu sou bom. Obrigado, papai, graças a
você eu sou autêntico. Obrigado, papai, graças a você eu sou honesto, muito
honesto. Obrigado, papai, graças a você eu sou pobre…”.
E sobre o “dinheiro
não traz a felicidade”, ele sozinho não traz felicidade, não, mas sem ele
ninguém é feliz. Se você precisar ir a um médico, a um dentista, viajar,
comprar uma casa, ir ao teatro, comprar um livro, de um computador e não tiver
dinheiro, imediatamente pensará que o dinheiro não é tudo, mas que ajuda muito.
É uma das condições para ser feliz. Como disse aquele piadista, “não é que eu
goste do dinheiro, é que ele me acalma os nervos”.
Mas essas frases
feitas as pessoas repetem, até fica bonito dizer que o “dinheiro não traz a
felicidade”, ou que o “amor domina o mundo”. Um amigo que gosta de luzir-se
dizendo que seus filhos só usam tênis das melhores marcas, que custam em torno
de R$ 1.000,00, que vão às melhores escolas e fazem esporte em bons clubes,
etc., fecha sua fala dizendo: o dinheiro não traz a felicidade. Em uma reunião
um rapaz exclamou: “A quem quer enganar, seu mané?”.
* Isabel Furini é escritora e poeta
premiada, autora de “Eu quero ser escritor – a crônica”, do Instituto Memória,
Curitiba.
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