O cravo
* Por
Mário Prata
Foi depois do banho. Me
enxuguei, fiz a barba ainda nu, cortei as unhas e quando fui colocar a cueca
foi que vi o cravo. Não no rosto barbeado. Mas lá, mais embaixo. No, digamos,
pênis. Observei bem, não era uma pinta que iria nascer assim de repente. Era um
cravo. Do duro. Lá.
Tentei espremer, mas as
unhas estavam curtas, tentei apenas com os dedos. Doía. Tirar um cravo dali dói
pra caceta, se me perdoa a comparação.
E agora?
Pensei na santa Rosinha
uma senhora que me faz limpeza de pele. Mas não podia chegar pra ela e
apresentar esse cravo assim sem mais nem menos. Nem com luva ela iria fazer o
trabalho. Estou sem namorada. E um compromissor compromisso para o sábado com a
minha distinta professora de inglês. Também não. E se ela chega ali no pedaço e
vê o danado lá? Vai me desculpar, mas não chupo pau com cravo!
Nessa hora os amigos
não contam. Você espremeria o cravo do pau de um amigo? Jamais! Como fazer? Vou
ter que esperar a unha crescer de novo. Mas e a professora de inglês? Até lá
ele deve ter crescido mais ainda. Impossível não ver. Na parte de cima do corpo
do supracitado. Visível aqui de cima.
Nesta noite não dormi.
De manhã, ainda na cama, fui me certificar. Poderia ter sido um sonho. Nada.
Era real. E parecia estar maior. Tentei com os dedos. Apenas dor. Muito
sensível a região.
Tenho um primo que é
candidato a Reitor da federal aqui da ilha. Marquei um jantar. Depois de muitos
vinhos, contei a situação para ele. Homem das ciências, encararia meu problema
como cientista, pesquisador.
– Tá me contado isso
por quê? Você não vai querer me dizer…
– Com luvas…
– Tá louco! Se alguém
sabe disso na universidade, perco a eleição. O adversário vai logo dizer: vocês
querem para Reitor um sujeito que pega no sexo dos outros?
Pedi mais uma garrafa
de vinho.
– Vamos ali no
banheiro.
– Para com isso, primo!
E a minha mulher, o que ela vai pensar?
– Só quero te mostrar.
– Não quero nem ver!!!
– Uma coisinha de nada…
Eu trouxe as luvas, olha.
– Disfarça, disfarça…
Silêncio.
– É na cabeça?
Opa!
– Imagina! No corpo,
quase perto da barriga. Praticamente na barriga.
Ele pensa:
– Não espremeria nem se
fosse no rosto. Tá se esquecendo que a gente é mineiro, ainda por cima? Mineiro
que é mineiro não sai pegando no pau dos outros, não. Pega uma puta, pronto.
– E você acha que
alguma puta do mundo ia sair por aí espremendo pau de homem? Ainda ia me achar
viado.
– É primo, você está
com um problema.
– Eu sei, caralho! Eu sei!
Dispensei a professora
de inglês, do restaurante mesmo.
As minhas unhas estão
crescendo. Lentamente, muito lentamente. Parece que elas sabem.
* Escritor e jornalista
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