O que
acontecerá no dia seguinte?
* Por
Gilberto Abrão
As pessoas leem as notícias superficialmente. Elas veem através de
agências internacionais ocidentais: Asociated Press, France Press, Reuters, etc.,
que coletam as informações dadas pelos seus respectivos governos. Daí, então,
surgem comentários superficiais, sem conhecimento de causa, sem saber realmente
qual é a raiz do conflito na Síria.
“O Bashar al-Assad é um ditador sanguinário, que mata seu próprio povo
com armas químicas!” Ou ainda: “Os países do Ocidente querem implantar uma
democracia na Síria, assim como fizeram na Líbia, Egito, Iraque etc.!” Ou pior
ainda: “Os Estados Unidos têm que invadir aquilo lá, derrubar esse bandido do
Assad!” E por aí vai...
Na verdade, os Estados Unidos pouco estão se importando com implantar
democracias. E se fosse para derrubar ditaduras, existem lá no Oriente Médio
outras ditaduras feudais, dominadas por famílias e clãs. Arábia Saudita e Catar
são dois exemplos.
Mas, afinal o que querem os Estados Unidos e os países ocidentais? E
quem é o maior beneficiado de um total alquebramento do exército sírio e
destruição da infraestrutura do país? O maior interessado nisso ¬ eu diria o
pivô dessa guerra multinacional contra a Síria ¬ é Israel.
Desde sua invenção, Israel jamais foi aceito pelos povos árabes, em
particular, e muçulmanos, em geral. Isso porque qualquer pré-adolescente árabe
sabe que a existência de Israel, a servir como uma cunha a dividir os árabes da
Ásia e do Norte da África, nada mais é do que uma base americana para manter o
domínio ocidental sobre o petróleo da região. Eu detalho mais claramente esta
minha tese nos meus dois artigos anteriores “O FATOR SÍRIA” e “O FATOR SÍRIA
II”, no meu blog WWW.OLATOEIRO.WORDPRESS.COM Por favor, acessem.
A Síria faz parte de um ativo e bem-armado eixo de resistência contra
Israel, formado pelo Irã, Síria, Hezbollah no Líbano e a resistência palestina,
com o apoio da maioria esmagadora dos povos árabes É do interesse de Israel, e
por consequência, dos Estados Unidos, destruírem esse eixo para segurança do
Estado Judeu. Há anos estão falando em atacar o Irã. Não se atreveram até
agora. Tentaram acabar com o Hezbollah no Líbano. Depois de uma guerra de 33
dias, em 2006, Israel voltou com o rabo no meio das pernas e hoje o Hezbollah
está dez vezes mais forte do que antes. Tentaram acabar com a resistência
palestina em Gaza em 2008. Não conseguiram. Agora chegou a vez da Síria.
A tal de Primavera Árabe (que, no fim, está sendo um tempestuoso outono)
serviu de desculpas para criar um clima de revolta na Síria. Permitam que eu
lhes revele uma coisa que a mídia ocidental não mostra: O Presidente Bashar
al-Assad goza de 70 a 80% de popularidade no seu país. Todo governo, por melhor
que seja, tem seus opositores internos. E o governo de Bashar al-Assad não é
exceção.
Portanto, o serviço de inteligência do ocidente e mais o Mossad,
trabalharam em conjunto com a Arábia Saudita, o Catar e a Turquia para
arregimentar combatentes da al-Qaeda, em todas as camadas pobres do mundo
muçulmano, com fornecimento de armamento, a peso dos petrodólares da Arábia
Saudita, Catar e outros países do Golfo Pérsico.
Então, começaram a vir centenas de milhares de terroristas de todos os
cantos do mundo. Sauditas, líbios, tunisianos, jordanianos, turcos, libaneses,
afegãos, chechenos, paquistaneses, sudaneses, marroquinos, somalianos, etc.
etc. Acreditem, tinha até americanos, ingleses e franceses de origem ou de
conversão muçulmana. E, por incrível que pareça, tinha até brasileiros
arregimentados em algumas mesquitas onde predomina o pensamento retrógrado e
radical da seita wahabita (formação religiosa na Arábia Saudita).
Para esse pessoal ¬ os wahabitas ¬ qualquer um que não pense como eles,
é um herege. Portanto, é permitido matar os hereges, seja degolando-os,
queimando-os vivos, atirando-os de cima dos edifícios, massacrando-os
sumariamente, e até arrancando e comendo o coração do inimigo morto, como
apareceu num vídeo que chocou o mundo.
É esse o material humano que os Estados Unidos e o Ocidente estão usando
para destruir a Síria. Então os americanos e o Ocidente estão se aliando á
al-Qaeda? Um absoluto e sonoro SIM. Tudo isso para destruir um dos eixos da
resistência contra Israel.
E por que a Arábia Saudita e o Catar e alguns países são contra esse
eixo? Simples: eles sabem que se Israel deixar de existir, chegará a vez deles.
Mas afinal, foi o governo sírio ou não que usou armas químicas? Digo
aqui um sonoro NÃO. Por que um exército que está tendo vitória atrás de vitória
nos combates contra o terrorismo usaria armas químicas contra seu próprio povo?
Seria um tiro no próprio pé. Usando o futebol, seria o mesmo que o meu time
estar vencendo por 5 a 0 e já estamos quase no final do jogo e, de repente, meu
técnico manda o time bater no juiz.
E por que os “rebeldes” fariam isso? Desespero. Coincidentemente, Bandar
bin Sultan, o aterrorizante e sinistro ministro saudita, tinha viajado uma
semana antes para a Rússia para seduzir Putin. Os sauditas ofereciam uma compra
de 15 bilhões de dólares de armamento russo, os russos poderiam manter a base
deles em Tartous, no litoral da Síria, e que os sauditas não concorreriam com
os russos no fornecimento de gás à Europa Ocidental. Uma oferta irrecusável,
sem dúvida, que representaria vários bilhões de dólares. Tudo isso para que a
Rússia deixasse de apoiar Bashar al-Assad. Mas Putin mandou Bandar bin Sultan
enfiar a oferta no rabo e disse que a posição da Rússia na Síria era uma
questão de princípios e que não faria acordos com quem arrancava e comia os
corações de mortos. E Bandar respondeu: “Então, será a guerra!”
Enquanto isso, o exército sírio avançava, libertando aldeias e
territórios dominados pelos terroristas. De repente, zap... o ataque com armas
químicas. Quem desejaria uma intervenção dos Estados Unidos? O governo sírio
quer isso? Certamente que não. Quem, desesperadamente, está precisando disso?
Os grupos armados da al-Qaeda, os sauditas, os catarianos, os turcos, todas as
forças reacionárias do Oriente Médio e ¬ naturalmente ¬ os israelenses.
Espero ter sido claro o suficiente.
Ah, sim! E o que vai acontecer no dia seguinte, após o ataque dos
Estados Unidos? O Oriente Médio todo vai pegar fogo, começando por Israel e
terminando na Arábia Saudita e no Catar.
*
Jornalista
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