A festa do vizinho
* Por
Ana Deliberador
Bill. Esse era seu nome. Aliás, Bill Clinton, em homenagem ao grande
presidente norte-americano.
Bill era muito amado mas, também, muito mimado. Não obedecia a nada, nem
a ninguém. Hiperativo, teve de sair da cidade grande para viver na chácara,
onde tinha bastante espaço para brincar.
Passou-se uma semana de tranqüilidade para todos. Bill andava pela casa
sem correr, sem subir nas camas. Deitava-se na varanda e ficava olhando a água
do lago como se nada mais houvesse a fazer.
Mas chegou o dia em que Ana e Zeca tiveram de voltar a Curitiba e Bill
ficou sozinho. E aproveitou!
Era sábado. A festa na casa do vizinho parecia ótima. Aquelas pessoas
todas em volta da piscina, outras tantas dentro d’água….E aquele cheiro? O que
era aquilo? Churrasco?
Bill não teve dúvida: atravessou a cerca e correu pro outro lado. Estava
tão feliz que não percebeu que se ferira ao passar pelo arame farpado. Atrás de
si ia deixando um rastro, bem marcado, de sangue.
Estabanado – como só Bill poderia ser – meteu-se entre as pessoas, quase
derrubando-as. Aquele sangue todo, manchando a pedra clara, as pessoas,
assustadas, gritavam e corriam.
Silas, o responsável pelo marginal, veio correndo até a cerca, chamando-o. Qual o quê!
Bill o ignorou totalmente: quem ele pensava que era? Seu dono?
Confusão geral. O bate-boca cresceu de volume. Todos gritando ao mesmo
tempo. A noção de bom senso se perdendo a cada minuto.
– Tira ele daqui senão eu mato ele! – um dos lado dizia.
– Cala a boca! – vinha a pronta resposta, do outro lado da cerca.
– Vem aqui limpar esse sangue da minha
casa!
– Num vô não! Num sô sua empregada!
– Agora eu mato! Vô dá uma paulada nele!
E assim foi até que, Felipe, o já quase veterinário, chegou para acabar
com a crise.
– Billzinho, vem cá!
O diminutivo carinhoso trouxe Bill até ele que, calmamente, colocou a
coleira em seu pescoço e o levou de volta para casa.
*
Professora, pintora e escritora
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