Artimanhas
femininas
* Por Rodrigo
Ramazzini
O casal de namorados está deitado no
sofá serenamente assistindo televisão em um dia chuvoso, quando...
- Amor?
- Hum!
- Quer?
- O quê?
- Bala. É a última... Quer?
- Não sei. Qual sabor é esta?
- Menta.
- Não sei se quero...
- Decide...
- Não gosto muito de menta...
- Tá...
- Tá o quê?
- Agora é tarde! Comi...
- Eu não acredito!
- Ué! Tu disseste que não queria...
- Eu não disse nada!
- Claro que disse!
- Eu disse apenas que não gostava muito
de menta...
- Então...
- Isso não quer dizer que não queria a
bala.
- Ah para!
- Para nada! Eu não sei por que depois
de tantos anos eu ainda me surpreendo com o teu egoísmo. Não sei mesmo!
- Eu? Egoísta? Eu te ofereci a bala
antes de comer.
- Muito egoísta! Muito!
- Eu não acredito que estás fazendo isso
por causa de uma bala. Não acredito mesmo...
- Hoje é uma bala. Amanhã é outra coisa
e assim por diante...
- Lição de moral, não! Por favor...
- Não é lição de moral! É a realidade...
Olha... Sinceramente... Eu não sei se eu quero isso para minha vida! Não sei
mesmo...
- Isso o quê?
- Viver com alguém tão egoísta. Eu penso
que morar com alguém é dividir, compartilhar as coisas... Como vai ser depois
que casarmos, hein?
- Meu Deus do céu! Tudo isso é por causa
de uma bala? Toma então... Nem está muito babada!
- Que nojo! Agora, eu não quero!
- Bom! Eu ofereci...
- É isso que eu digo... Esse teu
egoísmo... Essa tua imaturidade...
- Não estou entendendo todo esse drama.
Por quê?
- Se tu achas que é drama...
- Estás de TPM?
- Faz diferença?
- Responde...
- Pode ser...
- Está explicado, então...
- Está explicado o quê?
- Nada! Nada...
- Sei...
- Tu vais ficar com esses beiços para o
meu lado?
- O que tu achas?
- Eu não acredito! Por causa de uma bala?
Uma bala?
- Não é só por causa da bala. Já te expliquei...
- Eu não acredito que a gente vai brigar
por causa de uma bala. Vamos? Responde?
- Não é por isso. Já falei!
- É capaz dessa bala até me fazer mal!
Vou até colocar fora...
- Estás insinuando que eu te desejo mal?
É isso?
- Ai meu Deus do céu! Quer complicar,
né? Quer brigar mesmo?
- Não! Só perguntei... Perguntar não
ofende. Ofende?
- Eu não quero brigar contigo!
- Mas, estás levando a isso...
Silêncio.
- Vais ficar assim?
- Assim como?
- Assim... Emburrada?
- Não estou emburrada. Estou triste. Fico
imaginando se eu estivesse grávida...
- Tu estás grávida?
- Não! Mas, imagina se eu tivesse? Teu
filho iria nascer com cara de bala de menta...
- Para! Para!
- Estou falando sério.
- Vais fazer eu me sentir culpado
assim...
- É bom! Assim, tu pensas melhor nas
tuas atitudes antes de agir...
Silêncio.
- O que eu posso fazer para me redimir?
- Hum... Não sei...
- Diz? Eu faço tudo que quiseres...
- Deixa eu pensar...
- Carinhos? Beijos? Abraço?
- Não.
- Não?
Ela faz uma cara de “tá bom, vamos lá”,
respira fundo e parte para o pedido.
- Quero um beijinho, uma massagem nas
costas e um brigadeiro da padaria da esquina! O doce primeiro...
- Estou indo na padaria. Já volto, amor!
Então, assim que o namorado sai, ela estica-se
e deita-se confortavelmente no sofá, troca do canal de futebol na televisão e
abre um pequeno sorriso de satisfação. Missão cumprida.
*
Jornalista e contista gaúcho.
Diálogo totalmente convincente, escrito por quem entende do assunto, que tem bastante prática e conhece a fundo das infantilidades e caprichos femininos.
ResponderExcluirBah, Mara! Assim, vou ficar me "achando". Há! Há! Há!
ResponderExcluirMais uma vez: muito, muito obrigado!
Tenha um ótimo final de semana!
Aquele abraço!