quinta-feira, 12 de setembro de 2013

Sobre defeitos e admissões

A perfeição, seja em que aspecto for, é interdita a nós, efêmeros e falíveis humanos. Trata-se de constatação tão óbvia que cairia a caráter na boca daquele personagem de Eça de Queiroz, do romance “O Primo Basílio” o Conselheiro Acácio, useiro e vezeiro em recorrer a obviedades. Além de nossas inúmeras deficiências (congênitas ou adquiridas, não importa) temos uma que se destaca entre as demais e que é o suprassumo da estupidez: a da arrogância. Julgamo-nos, potencialmente, oniscientes, ou seja, achamos que podemos aprender tudo o que existir para ser aprendido, mas nos esquecemos, amiúde, da nossa mortalidade. Mesmo que, da boca para fora, falemos da morte e que saibamos que ninguém, absolutamente ninguém, escapa dela, lá no fundo da nossa mente nos recusamos a acreditar que este também é nosso inexorável destino, que mais cedo ou mais tarde isso irá nos atingir, e, pior, subitamente, sem nenhum aviso prévio.     

Defeitos todos nós temos, das mais diversas naturezas e intensidades. A perfeição, reitero, –  condição desejável e que deva ser buscada, o tempo todo, sem cessar, enquanto vivermos, por sempre nos tornar melhores (embora ainda imperfeitos) – é objetivo inalcançável para qualquer pessoa. Nossas deficiências são as mais diversas: físicas, mentais, morais, intelectuais e vai por aí afora.

Claro que o primeiro passo para pelo menos se tentar corrigir os defeitos corrigíveis é a admissão de que os temos. Alguns não têm correção. Estão, neste caso, principalmente os de caráter orgânico. Um pé torto, por exemplo, ou um nariz adunco, ou um intestino preguiçoso e vai por aí afora podem ser melhorados pela medicina e pelos avanços da cirurgia plástica, mas jamais extirpados. Contudo, muitos são incapazes de sequer admitir defeitos, mesmo que estes sejam escandalosamente ostensivos. Quem age assim, faz papel ridículo, de tolo, sem que nem mesmo se dê conta. E são muitos os que têm esse procedimento. Sua vaidade exacerbada lhe cega.

Há inúmeros indivíduos que pavoneiam virtudes próprias, que só eles conseguem enxergar. E, por falta de admissão dos defeitos, tornam rigorosamente impossível providenciar a mínima correção. Como se vai corrigir o que se considera perfeito e à prova de reparos? Não se corrige! Essa afirmação pode parecer pessimista aos desavisados, mas é rigorosamente correta. É ditada pela experiência e pela observação.

Todavia, a maneira como revelarmos, aos que nos cercam, nossos defeitos, dirá muito sobre nossa personalidade e, principalmente, sobre nosso empenho em melhorar. Isso em relação aos que de fato se empenham nesse mister. Os que confessam suas deficiências, por exemplo, depois de terem sido repreendidos, são modestos. Não buscam justificativas para o injustificável e nem hostilizam quem os repreendeu. Dispõem-se a se corrigir e raramente fracassam.

Já os que confidenciam os defeitos que têm a amigos, são ingênuos. Todavia, são, também, confiantes. Acreditam que terceiros poderão ajudá-los na correção do que entendem como sendo ruim, ou imperfeito, embora estes, na verdade, possam até agir com deslealdade e tirar proveito dessas confidências. É coisa para lá de comum, que acontece todos os dias ao nosso redor, quando não conosco, nos causando profunda decepção. Mas, pelo menos, os que agem dessa maneira  têm a virtude de confiar nos que acreditam serem amigos. E amizade, sem confiança, não passa de arremedo, constituindo-se, na verdade, em feroz inimizade,

Todavia, há um tipo de pessoas que é absolutamente incorrigível. É o das que alardeiam, aos quatro ventos, seus defeitos, sem o menor pudor, tratando-os como se fossem vantagens que tivessem sobre os demais. Claro que não são, mas... Estes sabem que sua conduta é errada, porém julgam-se superiores ao adotá-la, fazendo questão de serem “diferentes”, por  remarem contra a correnteza. Vão ao extremo de sentir, mesmo que não admitam (às vezes até admitem), orgulho de suas deficiências. Estes não têm mais jeito!!! São incorrigíveis!!! Certamente arcarão com as conseqüências de suas falhas, quase sempre de caráter, contudo se recusam a pensar nisso.

Para não me apropriar de idéias alheias, compete-me revelar que quem fez essa constatação não fui eu. Minha capacidade não chega a tanto. Estas observações foram feitas há muito tempo, em uma época remotíssima, perdida no tempo, pelo sábio chinês Confúcio. Datam de por volta do ano 218 antes de Cristo!!! Como o homem, no essencial, pouco ou nada mudou, a despeito do seu “verniz” de civilização, essas reflexões permanecem para lá de atuais. Reflitam se esse brilhante guru tinha ou não razão!

Boa leitura.


O Editor

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Um comentário:

  1. Tenho uma amiga que não leu Confúcio, mas fala que nunca se deve falar de defeitos para ninguém. Caso sejam visíveis, que se espere o outro notar.

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