Esta crônica foi comprada!
* Por
Fernando Yanmar Narciso
Nada de John Wayne cavalgando rumo ao sol poente, ou Francisco Cuoco
beijando Regina Duarte num navio. Nenhuma cena típica dos filmes hollywoodianos
de tribunal, com réus invadindo a sala com um revólver para ameaçar os
ministros, ou o chefão da gangue, Zé Dirceu, berrando “NÃO PODE SUPORTAR A
VERDADE!”, absolutamente nada de especial. É só isso que teremos para contar
aos nossos netos. O final do julgamento/ inquisição do PT foi colocado on
hold por tempo indeterminado. O ministro Celso De Mello, num discurso de
mais de duas horas de pura retórica flatulenta, na melancólica tarde de 18 de
setembro desempatou a votação dos tais embargos infringentes, dando à Dirty
Dozen mais um tempinho para tomar ar. Resumindo, a república, a democracia
e as esperanças do povo foram enterradas vivas...
Ah, vai! Vocês não pensaram que eu faria uma análise tão patética de
tudo isso, não é? Francamente, galera, alguém aí do outro lado acreditava MESMO
que a história do mensalão pudesse terminar de qualquer outro jeito? Nem parece
que é o Brasil que conhecemos e aprendemos a amar; o Brasil aonde rico só vai
preso em novela... Agora que a coisa aparentemente acabou de ficar
afrodescendente, estamos enfim livres para atacar a saga do julgamento por
todos os ângulos possíveis. E, posto que em minhas primeiras aventuras no
assunto eu escrevi, respectivamente, no ponto de vista da direita e depois da
esquerda, nada mais justo agora que fazer galhofa com os dois modos de pensar
ao mesmo tempo.
Já ouviram o dito “Se é bom para eles, com certeza não é bom para nós”?
Desde que o Troll do congresso, Roberto Jefferson, apareceu com a denúncia em
2005, quem esteve por trás de todas as maquinações, tramando não apenas para
meter os ditos mensaleiros na cadeia como para jogar a nação contra o Partido
dos Trabalhadores? A boa e velha mídia elitista. Nos últimos anos, aproveitando
que os partidos de oposição não aprenderam como se opor ao governo de forma
convincente, a grande mídia simplesmente não nos deixou esquecer Dirceu,
Delúbio, Genoíno, J.P Cunha, Valério, Didi, Dedé, Mussum e Zacarias, fazendo o
povo menos instruído odiar cada célula do corpo dessas pessoas, sem nem saber
direito o motivo. Pouco me importa de que lado vocês estejam, mas lembrem-se
apenas que quanto mais investimos em odiar uma pessoa, mais acabamos nos
rebaixando ao mesmo nível dela.
E, fazendo o povo odiar a esquerda, pelo menos em teoria isso tornaria
mais fácil o retorno da direita ao poder. Só que nós não nos esquecemos de como
foram os tucanos no poder! OK, eles conseguiram contornar a inflação
destruidora de governos anteriores e salvar o país da bancarrota, mas quem não
se lembra das reportagens com crianças flageladas da seca nordestina comendo
calango, ou de como eles aprovaram a lei de reeleição com negociatas tão sujas
como as de Marcos Funéreo? No que dependesse dos reis da soberba, os mais
pobres ainda usariam lampião de querosene pra iluminar o penico à noite.
Durante os meses do julgamento, adotamos aqueles senhores de capa e
terno como personagens maniqueístas da mais nova trama de Silvio de Abreu para
as nove da noite. Joaquim Barbosa foi transformado pela TV Globo e por seu
encabrestado povo no cavaleiro de armadura, no salvador da pátria, e o metido
do Ricardo Levandowski virou o Félix, o advogado “comprado pelos mensaleiros”
em quem adoraríamos tascar umas bifas.
O povo encabrestado, em sua sede por retaliação, torcia para que, ao
final do dia, Barbosa surtasse e batesse o martelo. “Quer saber duma coisa?
QUEM MANDA NESSE PIÇO AQUI SOU EU! TÔ POUCO ME LIXANDO PROS VOTOS DOS NOBRES
COLEGAS! Corre com todo mundo pra cela AGORA!” E bastou um discurso de duas
horas e meia do novo“inimigo da nação”, Dr. Celso de Mello, para esquecermos
completamente da existência de Barbosa e Levandowski. Foi uma questão de tempo
para fotos de artistas globais “indignados” e “de luto” pela decisão do STF
floodarem a internet, e todos os cronistas de direita postarem o mesmo vídeo
enfadonho com um texto de Ruy Barbosa no Youtube, tentando convencer a gente
que o país morreu.
Sabem qual foi a parte mais grotesca desse julgamento? Mesmo com a corda
em volta do pescoço por meses a fio, mesmo que a PF tenha descoberto a quantia
absurda supostamente saqueada pela quadrilha de Dirceu dos cofres públicos,
nenhum réu se dispôs a devolver tudo o que roubou. Não sei de vocês, mas se eu
estivesse na mesma situação deles, não apenas daria meu número da conta na
Suíça como daria à PF até minha carteirinha de estimação das Tartarugas Ninjas,
com a nota de 1000 cruzeiros que guardo nela de recordação. Até sem a roupa do
corpo eu topava ficar, desde que isso safasse minha onça. Eles não devolveram o
dinheiro por ruindade ou porque de fato não têm o que devolver? O bando de
condenados não agiu em momento algum como quem está a ponto de subir no
cadafalso. Não houve delação premiada, não tentaram nenhuma manobra kamikaze
pra se salvar, não fizeram nenhum absurdo que se espera de um homem poderoso
que vê seu legado se esvaindo.
Aí eu pergunto: Supondo que Seu Celso tivesse votado contra os tais
embargos e que agora os grandes bandidões fossem as bonecas infláveis do pavilhão,
qual efeito imediato isso teria em nossas vidas? E daí se eles estivessem
presos agora? Há políticos por aí roubando muito mais que todos eles nesse
instante, e nem temos tempo para pensar isso, com tantas contas e dívidas a
pagar ocupando nossas mentes. É óbvio que aconteceu algo muito grave nos
primeiros anos do governo petista- ou PeTralhas, como preferirem- e que Dirceu
provavelmente foi o Grande Irmão. O que foi julgado não foi a verdade, e sim
uma versão relativamente plausível dela. Mas, no que depender de órgãos
midiáticos tão imparciais como a Veja, a Globo News e a Folha de São Paulo,
eles nunca nos deixarão esquecer o quanto o governo do PT é maligno, um inimigo
a ser combatido e vencido, e o quanto o governo tucano foi o Jardim do Éden pro
país, um Reich que devia ter durado mil anos.
*Designer e escritor. Sites:
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